Se tivesse que me apaixonar por um homem, seria por ele. Essa foi uma das muitas coisas que escrevi aqui ao longo dos anos sobre o grande mestre Chico, mas no meio de tantas obras que vi, ouvi e li, a verdade é que nunca tinha visto o homem ao vivo.
E do alto dos seus 78 anos, ele é uma divindade. Está impecável, firme, lúcido, e só isso já seria de valor constatar.
Não trazendo aqui um espectáculo exuberante, oferece um bom conjunto de músicas da sua imensa obra – tantas faltaram, e tantas sempre faltarão – cantadas e tocadas de forma crua, em cuja poesia é impossível deixar de me emocionar, tanto mais quanto me proporciona sentir comigo a companhia de quem já não está – meu pai – e de dar a conhecer na voz de outros um pouco de mim a quem estava a meu lado – minha filha.
Vale também pela Monica Salmaso, que o acompanha e que dá voz solo a vários clássicos neste show, com uma voz incrível, de beleza e de alcance que dá a impressão mesmo sem microfone chegaria ao Campo Pequeno inteiro.
Campo Pequeno esse que nunca é o melhor local a nível sonoro, mas que se transformou aquando da apoteose final com Tanto Mar, tanto mar. Cliché tremendo, mas impossível terminar sem: foi bonita a festa pá.
A 25 de Fevereiro de 2022, às 15h51, nasceu Madalena.
Desta vez, aconteceu no Hospital da Luz. Desta vez, o assento de nascimento leva o local de residência e não o do Hospital, que não fazia sentido que a minha filha fosse natural de Carnide, nas imediações do… Colombo. Margem sul, sempre.
Brincadeiras à parte, não é que não tenhamos sido bem tratados no Garcia da Orta em ambos os nascimentos anteriores, mas nos dias de hoje faz diferença ter um pouco mais de atenção e tranquilidade, que tivemos, sem mácula, no Hospital da Luz.
Tranquilidade é mesmo a palavra adequada, pois não só o parto foi o mais tranquilo e rápido dos três, como a Madalena tem sido uma bebé super pacífica nessa semana e uns dias de vida e de charme que já leva.
Ainda assim, confesso que ainda chorei mais, desta vez. É verdade que muita coisa fica mais fácil com a experiência. Mas não sei se pelo estado actual do mundo, pelo meu próprio estado, pela expectativa da convivência com os irmãos (que a veneram, ambos!), ou se por tudo isso e algo mais somado, o impacto e a emoção de trazer mais uma vida ao mundo, só aumentam.
Três sempre foi um número que esteve nas nossas cabeças. Até ver, é a última.
Entre as várias questões que me afligem e em que sofro por antecipação desde que sou pai, sempre esteve no topo: e quando eles quiserem que eu os leve a concertos? E se fossem umas sofríveis boys band desta vida? Iria eu aguentar hora e meia de um David Carreira? Nada contra mas… nada a favor também!
Felizmente, a primeira experiência não só não foi de cortar os pulsos, como também foi surpreendentemente boa. A minha filha (8 anos à data) adora a Bárbara Tinoco, e ficou numa expectativa gigante no intervalo entre a compra dos bilhetes e o concerto em si, no fim de semana passado.
O pouco que conhecia era um refrão ou outro das mais cantadas na rádio (que já nem consumo muito, porque não ando diariamente de carro) ou pela Carol, pela casa afora, e não era propriamente fã, à primeira vista. Obviamente não fiquei tanto quanto a Carol, que sabe as letras de trás para a frente, mas a miúda tem verdadeiramente muito talento, quer como compositora quanto cantora, e com a pouca experiência que tem consegue dar uns concertos tocantes, intimistas, e sem grandes subterfúgios ou produções que não a honestidade da música.
Este foi o livro que mais me marcou durante este ano, e obtive a recomendação para lê-lo de uma forma bastante inesperada; o meu antigo colega Paulo Pereira, que é professor no ISEL, costuma gravar o Bitaites, que não é mais que um conjunto de conversas descontraídas com antigos alumnus; neste episódio em particular, o convidado foi o meu amigo Diogo Machado, que foi ali apelidado de Professor Marcelo da informática após ter recomendado uma catrefa de livros no final. Curiosamente este não foi um deles, que veio como recomendação do próprio anfitrião, que em boa hora o fez.
O autor, que desconhecia até agora, é o húngaro Sándor Márai, que publicou esta obra pela primeira vez em 1942, retratando o encontro de um velho General com o seu melhor amigo, que recebe no seu castelo de caça para jantar após um hiato de 41 anos sem se verem, por motivos que se suspeitam, mas que nunca foram confirmados.
O livro deambula entre as memórias de infância, juventude e entrada na vida adulta de ambos, os derradeiros momentos que antecederam o desaparecimento do amigo, e o clima de tensão que envolve a longa espera, o reencontro e o jantar em si.
É-me difícil explicar a beleza e o encanto do livro, mas achei-o verdadeiramente incomparável com qualquer coisa que tenha lido; uma escrita simples, mas extremamente eficaz a transportar-nos para um ambiente de várias contradições: ora sombrio, ora exuberante, ora frio e extremamente analítico, ora a colocar o amor e a amizade (no fundo, o grande tema aqui dissertado) acima de tudo e de todos.
Eu podia substituir a parte final da frase seguinte por N outras coisas que a pandemia deixou em suspenso, mas aqui vai: nunca imaginei que ia ficar exactamente dois anos sem ir ao cinema.
Na verdade, já tinha quebrado mais ou menos esse jejum com um filme ou outro em que fomos com as crianças, em horas mortas, mas não é a mesma coisa.
Confesso que neste fui mesmo pelo hype, pois não sou propriamente conhecedor do livro que lhe deu origem nem joguei por aí além o jogo na minha infância/adolescência, apesar das vagas memórias que tenho Dune II serem boas. Fora o falatório que o filme tem gerado, o realizador também me entusiasmou, pois a experiência visual do remake que ele fez do Blade Runner foi arrebatadora.
Esta não só não fica atrás como estica um pouco mais a corda; pode não fazer grande sentido comparar, mas se em grande parte do filme sente-se um pouco da mesma vibe intimista e introspectiva, há aqui uma dose muito maior de grandiloquência, e aquele sentimento quase constante que estamos a presenciar um acumular de tensão que vai desabar num final verdadeiramente épico, que… acaba por não acontecer, e deixa uma expectativa muito grande para a segunda parte, que já se confirmou que irá ser produzida, e que pela amostra (se é que se pode chamar isso a um filme de quase 3 horas) que aqui deram, promete, pois está todo um imaginário muito bem conseguido.
Para ser em grande, experimentei também pela primeira vez ver um filme numa sala IMAX, no Colombo; é sem dúvida um ecrã brutal e que dignifica um filme deste género, mas não tenho a certeza absoluta que justifique a deslocação (sim, ainda não há IMAX no “deserto” aka Margem Sul) e o preço. Fica pra pensar.
Não consigo imaginar a minha vida sem o meu pai… e não preciso.
Mesmo quando esteve distante, em Angola, no Congo, no Azerbeijão, na Rússia e em tantos outros lugares… ele esteve sempre presente, e não será diferente, de agora em diante.
Ele está sempre comigo e em mim. Na paixão por viajar, ler, aprender, conhecer verdadeiramente, sentir… no amor desmesurado pela família, e no quanto fazia questão de o relembrar diariamente… no prazer de ajudar, na resiliência, na paixão pelo Sporting… na capacidade de lutar, de resolver, de recomeçar e dar a volta ao texto (e tantas, mas tantas vezes o fez…)
Viveu pouco, mas viveu tanto, com uma intensidade tal e numa vida que se desdobrou em tantas, que dava vários livros, e quantas mais páginas houvessem mais ele surpreenderia.
“Tudo o que é pequenino tem graça”. Era o que dizia sempre que via os bisnetos, fossem os de sangue ou os de coração. Não era só na frase que não fazia distinção.
Dizia-o muitas vezes de sorriso na cara e lágrima de emoção no olho, lágrima fácil, facílima, a herança mais evidente que deixou à neta-filha que amo.
Era apenas um dos inúmeros bordões que usava, uma frase feita para disparar qualquer que fosse a ocasião, sem qualquer filtro. Por mais anos que passassem, nunca deixaria de surpreender com uma nova.
Feitio duro, coração de manteiga, sábio, verdadeiramente sábio, dos que sabia insultar sem ofender. Acolheu-me na família desde o primeiro instante, desde que riu à gargalhada com o meu sotaque ao referir o seu “belenenses”.
Não gosto de elogios fúnebres, mas lembrar a sua grandeza traz-me o conforto possível. Ele queria viver, e fê-lo até onde o permitiram. Em sua memória, simplesmente respeitem esse bicho, de vez.
Há muito tempo que queríamos explorar mais a região Norte do país em geral e a do Douro Vinhateiro em particular, e aproveitamos uns últimos dias com sabor a Verão em Setembro para começar a fazê-lo. Foram só três, mas tiveram um gosto muito especial.
Ficamos no Hotel Lamego Hotel & Life; o nome pode não ser dos mais criativos ou bem conseguidos, mas o hotel é espectacular. Bem localizado, confortável, no meio de uma quinta com uma vista incrível, com piscina aquecida e conservando ainda uma parte antiga da quinta que lhe dá um grande charme. Não chegamos a experimentar uma refeição no restaurante Comendador porque andamos a explorar em vez de ficar só no hotel, mas a julgar pelo pequeno-almoço (que bomba!) também deve ser muito bom. Tudo um verdadeiro luxo, por um preço interessante tendo em conta os outros hotéis mais “luxuosos” da região.
A cidade é uma verdadeira perdição no que à gastronomia diz respeito; come-se e bebe-se bem em qualquer esquina, portanto acho que nem vale a pena estar aqui a destacar um restaurante ou uma tasca. Para quem gosta de enchidos é um paraíso, e felizmente ou infelizmente nós os quatro gostamos, e muito.
Além dos enchidos, o outro ex-libris da cidade é o Santuário da Nossa Senhora dos remédios, e foi já no dia de regresso que por lá passamos. A Carol estava curiosa com este imponente monumento que vigia a cidade e disse-nos: “pai, vamos embora sem ver a nossa senhora dos xaropes?”
Confusões sinonímicas à parte, vale a pena a subida, seja de carro ou a pé pelos seus 686 degraus, a vista lá de cima é muito bonita e cada etapa da escadaria tem uma espécie de pátio com estátuas, mosaicos e fontes incríveis.
Passando para a foz do rio Douro em si, e para a zona do Pinhão…. já tinha dito que somos fãs de passeios de barco não já? Numa onda completamente diferente de outros que já fizemos, este é absolutamente deslumbrante.
Marcamos o passeio através do hotel, e foi feito com a companhia Deltatur, com embarque no cais do Pinhão. Nós até gostávamos de ter experimentado o tradicional barco Rabelo, mas em tempos de distanciamento optamos por um barco privado só para nós, e foi uma experiência única. A paisagem do rio pelo meio dos vales e das vinhas a perder de vista é qualquer coisa de mágico, e o nosso guia apesar de jovem era muito castiço e conhecedor da história das diferentes quintas.
O único inconveniente foi que estavam perto de 40 graus e tive pena de não ter ido equipado para dar uma mergulho, mas valeu o vinho do Porto fresquinho servido a bordo.
Para finalizar, passamos pelo Porto no regresso mas muito, muito de fugida, quase que só para não deixar passar em branco sem uma francesinha no clássico Capa Negra. We’ll be back.
Já foi em Agosto que estivemos no Algarve, mas só agora que o Verão começou verdadeiramente a dar sinais de querer ir embora é que me lembrei de escrever aqui qualquer coisa sobre as nossas férias.
Já há uns anos que íamos para fora nesta altura, mas por razões óbvias em 2020 ficamos por terras lusitanas. Não nos podemos queixar minimamente, sobre a vida em geral e sobre estas férias em particular, que não deixaram de ser espectaculares.
Estivemos uma semana na localidade de Vale Judeu, numa moradia isolada que alugamos através do AirBnB, e outra não muito longe, em Olhos de Água (não consigo escrever ou dizer este nome sem ouvir o Toy a cantar na minha cabeça…), nos apartamentos da Almondbloom, recomendados (e bem) por um amigo. Dois estilos contrastantes que deram uma variação bem interessante no roteiro.
Vou destacar aqui alguns pontos altos:
Albufeira Velha
Por um lado, foi desolador passear por esta zona em Agosto e ver tudo praticamente às moscas; por outro, foi um privilégio. É difícil abstrair dos motivos que levam a isto, mas nada a fazer senão desfrutar de uma zona de que nunca sequer tínhamos dado conta que existia em outras passagens que tivemos pelo Algarve.
Não é um Algarve imaculado nem livre de adaptações britânicas, mas mantém presente um lado pitoresco e com mais charme do que aquilo que estávamos acostumados a ver.
Passeios de Barco – Dreamwave
Já começa a parecer quase uma obrigatoriedade nas nossas férias de verão, mas a verdade é que adoramos mesmo passeios de barco e fizemos dois nesta viagem, ambos através da Dreamwave.
O primeiro era suposto ser mais relax, num veleiro de estilo pirata com passeio panorâmico e churrascada no almoço. Até acabou por ser, mas por azar marcamos para um dos poucos dias em que apanhamos um tempinho ligeiramente pior e um mar picado que fez com que estivéssemos umas boas horas só a levar porrada das ondas e sem ver nada de especial. Felizmente a churrascada lá aconteceu, numa bela praia quase isolada na zona do Carvoeiro, e acabou por ser um belo dia.
O segundo já foi num barco rápido e o objectivo era encontrar golfinhos, mas por mais boa vontade que o skipper tenha tido, andamos e andamos até onde nos foi possível e eles não quiseram nada com a gente. O ponto alto foram as visitas a diversas grutas, com destaque para a já cliché gruta de Benagil; modas à parte, nunca a tínhamos visitado e é realmente belíssima.
Olhos de Água
A pequena localidade de Olhos de Água tem um encanto especial, assim como a praia do mesmo nome. A praia é minúscula, impraticável para estas eras de distanciamento social e não é de todo das mais propícias para banhos, entre algas, pedras, baixios… mas não sei, gosto! Mais para apreciar e para os passeios noturnos, mas de qualquer das formas há imensas praias mais “praias” a 10 ou 15 minutos de carro.
Depois tem uma mistura de casas típicas e zona mais piscatória, com a praticidade de ter tudo à mão de semear sem ter que pegar no carro, vários lugares onde comer peixe bom e barato (um rodízio de peixe a 10€ em cada esquina!), tudo simples mas para mim um verdadeiro luxo.
Mercado de Loulé
Gosto bué de visitar mercados locais e o de Loulé vale bem a pena. O edifício é histórico e centenário (inaugurado em 1908), está muito bem conservado, e melhor ainda, está cheio de peixe bom, de produtos locais frescos e vende os típicos docinhos do algarve que nós adoramos a um preço bem mais baixo do que nas lojas habituais.
Fiquei tão concentrado em doces, mel e queijos, que acabei por não tirar nenhuma foto de jeito. Fica o Atum gigante acima para memória futura.
Zoomarine
Nunca tínhamos ido ao Zoomarine com as crianças e escusado dizer que eles adoraram, tanto que nos “obrigaram” a comprar o bilhete de segundo dia, que confesso que compensa; por mais 8 euros desfruta-se de mais um dia bem passado.
Sinceramente, não sou muito fã de ver golfinhos ou quaisquer outros animais aquáticos de porte em cativeiro, mas fora essa reserva pessoal (e meio incoerente, eu sei), acho que o parque aquático e as diversões estão muito bem conseguidas, e toda a organização e limpeza relativamente às medidas de prevenção do “bicho” também estavam impecáveis, nunca nos sentimos inseguros.
Dica: não sei bem porquê mas ao contrário do que seria de esperar a afluência é bem menor durante o fim de semana do que no resto da semana.