Andanças

Madeira, day 3

Como diz que ao sétimo dia Ele descansou, neste domingo foi só lazer. Fartamo-nos de andar por essa ilha afora, e com a particularidade de ter sido maioritariamente pelas estradas antigas e as suas paisagens magníficas e as suas curvas e contra-curvas e dois sentidos onde só cabe um mini e túneis escavacados à mão.

Sem ter a certeza da ordem específica do percurso, estivemos em Machico, Porto da Cruz, Faial, São Jorge, Santana, Ponta Delgada, São Vicente, Ribeira Brava, Campanário, Funchal mais uma vez, e outras localidades das quais já me falha a memória.

Esteve um sol valente e um calor do caraças durante grande parte do dia, já há algum tempo em que não me dava o luxo de passear só de t-shirt. Desconhecia que o Porto da Cruz era o ponto dos “sárfistas” na Madeira, eu que não percebo muito do assunto pareceu-me ter visto boas ondas e uma paisagem melhor ainda, para variar.

Fiquei também a saber que São Jorge produz os melhores vinhos da ilha, ou pelo menos os mais afamados. Entre São Jorge e São Vicente passa-se pela Encumeada , e lá no cimo (cerca de 1003m de altitude) é possível avistar o lado Norte e o lado Sul da ilha, ou melhor, seria, se não estivesse um nevoeiro do caraças na altura em que lá chegamos, a vista é a que tá ilustrada na fotografia acima ; é no entanto interessante ficar a ver as nuvens dirigindo-se de um lado para o outro, e constatar como é que de um momento para o outro um lado fica encoberto e o outro continua solarengo.

Na Serra de Água tivemos a real noção dos estragos do temporal, o cenário é catastrófico, desolador: pilhas de pedras trazidas do mar, carcaças de carros destruídos, casas de pé por milagre enfiadas no meio do entulho.. confesso que não foi por passarmos de carro que não tirei fotografias, porque o trânsito até estava muito parado devido às obras; foi porque além disso já ter sido suficientemente coberto nos meios devidos, eu não tenho estômago para andar a tirar fotos enquanto as pessoas tentam reconstruir as suas vidas. Se soa dramático, é porque o é.

Dramático também será o regresso ao continente amanhã, mas isso fica pra pensar. O trabalho urge, as saudades da mulher amada apertam, a Madeira vai ter que passar mais uns mesinhos sem mim. I’ll be back!

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Andanças

Madeira, day 2

Hoje andamos um bocadinho mais pela baixa do Funchal e devo dizer que se não soubesse do temporal, ele passava despercebido. Não quero com isto dizer que a situação foi empolada pela comunicação social nem nada do género, mas sim que houve um esforço do caraças para limpar os estragos rapidamente. Nota-se, no entanto, que os madeirenses estão bastante escaldados com o que aconteceu, basta avistarem uma nuvem cinzenta que seja para surgir um certo nervosismo; só daí já dá para sentir a dimensão da coisa.

Conheci a casa onde o meu pai nasceu (Rua das Mercês, 75, Funchal), acabadinha mas inteira e com uma plaqueta a indicar o ano de construção, 1800 e qualquer coisa, não consegui apontar nem fotografar porque passamos de carro, mas também hei-de lá voltar. Devo confessar que esta viagem está relativamente pobre a nível fotográfico, deve ser por não serem verdadeiramente férias que não estou com esse espírito.

Pelo que vi na Estrada Monumental e os seus hotéis de 4 e 5 estrelas em catadupa, o turismo está a bombar, vi muitos, muitos e muitos bifes a passear as suas brancuras.

Na Ribeira Brava, além de se notarem muitas derrocadas pelo caminho, está uma imensa pilha de entulho junto à praia; ainda assim, aparentemente tudo está normalizado. Câmara de Lobos igual a sempre.

Ah, e mais uma vez, hoje com o almoço fiquei jantado: sopa de trigo, muito bruta, recomendo. Fica pra enfardar.

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Andanças

Madeira, day 1

Esta manhã serviu para passear um bocado. Não conhecia ainda Ribeiro Frio, que fica no meio de uma floresta Laurissilva que é património mundial da Unesco e tem um parque aquícola com um viveiro de trutas de todos os tamanhos e feitios. Tive pena de não me embrenhar no meio da floresta e das belas levadas que por lá devem haver, mas hei-de lá ir. Tive pena também de não comer uma daquelas trutas de seguida, mas ainda não tínhamos fome.

Almoçamos em Santana, num restaurante simpático chamado “Os Bragados”, recomendo completamente; não se paga muito e enfardam-nos como a um porco antes da matança: granda pratada de milho cozido e um valente atum à escabeche, ainda tou a arrotar. Para acompanhar, claro, o meu clássico Brisa Maracujá.

A caminho de casa passamos em Machico só para ver as vistas e assentamos para descansar, no caso do meu pai, e para trabalhar um bocado na tese, no meu caso. Por acaso a produtividade aqui nesta calmaria é elevada, curtia que os voos fossem de graça.

À noite, como não podia deixar der ser… ia estar aqui o Sporting e não o iríamos apoiar, que ideia estapafúrdia é essa? Ainda que pobrezinho e em obras, o Estádio dos Barreiros não deixou de me deslumbrar com a sua maravilhosa vista sob a baía do Funchal (que infelizmente vai ser tapada com as novas bancadas). Jogo de merda para não variar um bocado, mas valeu a pena para conhecer os Barreiros e rir um bocado com os adeptos do Marítimo, em particular os do Esquadrão Maritimista e essa curiosa raça que são os xavelhas (naturais de Câmara de Lobos), que não me sinto capaz de descrever com palavras.

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Andanças

Gaula

Boa noite a todos. Tou outra vez na Achada de Cima, até segunda. Na paz, a descansar, a ver o atlântico, mas a tentar trabalhar também.

Ainda não vi bem o alcance dos estragos da chuva, vai ficar pra pensar.

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Teatradas

Num dia igual aos outros

Foi complicado conseguir assistir esta peça! Tínhamos bilhetes para sexta, chegamos aos Restauradores mesmo em cima da hora marcada mas… e estacionar? Ardemos. As próximas sessões estavam esgotadas até ao domingo da outra semana, mas no sábado liguei para lá e não tinham sido levantadas as reservas de 5 bilhetes, lá nos safamos.

Para começar, a Sala Estúdio do Teatro D. Maria é pequeníssima, o que ajuda a criar uma boa atmosfera e “entrar” na cena, um gajo fica ali mesmo a sentir o cheiro do suor dos actores (tá um calor do caraças), é fixe.

A peça trata do reencontro de dois irmãos de uma família disfuncional após vários anos separados. Um deles não saiu da casa da família, e apodreceu junto com ela; o outro aparentemente é melhor sucedido e não se percebe bem porque é que voltou, mas à medida que vão desfiando as memórias e revelando os seus percursos a trama vai se adensando.

É complicado falar mais sobre a peça sem revelar as surpresas que ela reserva; apesar de saber que quem está a ler isto mais que provavelmente não irá vê-la… epá, vão vê-la! Não é caro, tem uma boa oportunidade para ver dois actores do caraças ao vivo e uma excelente trama psicológica com alguns bons momentos de humor à mistura.

Muito provavelmente não tem nada a ver, mas a representação do Waddington nesta peça ganha todo um novo sentido aos olhos do espectador depois de ouvir este excelente manifesto nesta entrevista do gajo (primeiros 4 minutos). Fica pra pensar.

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Desportadas

Sporting 2 – Atlético 2

Andaram para aí uns rumores que eu não escrevi sobre este jogo por azia ou maleita parecida, mas não foi nada disso, simplesmente não houve tempo para tal: esta foi uma semana verdadeiramente infernal a nível de trabalho, e tenho testemunhas que podem confirmar que até ontem à noite as minhas órbitas estavam prestes a saltar pelos olhos afora, que a minha pele tinha assumido um tom assustadoramente pálido e que se eu soprasse no balão acusava alguns 4g de cafeína no sangue.

Aparte este choradinho, lá consegui estar em Alvalade na noite de quinta-feira. Foi um ambiente à antiga, estado de sítio em toda a zona do Campo Grande, petardos, tochas e muita, muita tensão no ar. Não me vou dar ao trabalho de pesquisar e colocar aqui todos os diversos vídeos e notícias que fizeram à volta do assunto porque isso já está mais que falado, fica este para os mais distraídos se contextualizarem.

Como muito bem disse um determinado leão, se em Madrid estávamos rodeados de cavalos, aqui tivemos rodeados de burros. É completamente inadmissível que apareçam “do nada” centenas de macacos de uma claque organizada e desatem à pedrada indiscriminadamente sobre quem passava. Cerca de 20 bravos da Juve chegaram para eles, e fica aqui o meu grande aplauso para esses senhores. Estes meninos da Frente Atletico tinham feito estragos com os super dragões, mas cá em baixo a coisa pia mais fino.

Quanto ao jogo em si, levei um dos maiores baldes de água fria da minha vida: entrei aos 5 minutos sem perceber que já perdíamos por 0-1, e festejei os nossos dois golos como se estivéssemos a ganhar! Só me abriram os olhos ao intervalo, e quase que me caíam os tomates ao chão. Penso que não tendo feito um jogo por aí além, o Sporting saiu de uma forma digna, de cabeça erguida. A grande diferença entre estas duas equipas deu pelo nome de Kun Aguero, este filho da mãe é mesmo jogador da bola. Esse factor combinado com uma dupla de centrais composta por Polga e Caneira… fica pra pensar.

Acaba assim com muita pena minha esta temporada europeia, em que acompanhei a equipa em todas as deslocações da fase final (eu sei que foram só dois jogos, mas não tou a dizer nenhuma mentira), e em que ficou a vontade de continuar esta demanda: numa das piores épocas de que tenho memória, assisti a alguns dos melhores momentos de união e de espírito sportinguista de sempre. Quando nos unimos somos inigualáveis. Fica pra pensar.

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Andanças, Desportadas

Invasão: Halla Madrid!

Bom, se a ida a Liverpool já me tinha deixado extasiado, nesta a Madrid fiquei completamente fora de mim!

Vamos por partes então. Pela primeira vez voei pela Iberia. O avião não tem muito que se lhe diga, a simpatia do pessoal é que, pela primeira vez, deixou muito a desejar. Sempre tive a impressão que a simpatia fosse requisito primordial para andar nestas lides aéreas, mas aí está a excepção à regra. A viagem em si não tem história, porque de Lisboa a Madrid é um tiro.

Chegados àquela enormidade que é o Aeroporto de Barajas, apanhamos o metro até Nuevos Ministerios, de onde mudamos de linha para sair em Tribunal. Ao longo desse percurso, fomos ouvindo várias palavras de incentivo, de adeptos do Real, como não podia deixar de ser. Como já tinha constatado em Inglaterra, sentimo-nos sempre mais apoiados no estrangeiro do que no nosso próprio país.

Seguimos a pé por esse centro comercial a céu aberto que é a Calle Fuencarral até Puertas del Sol, onde estava uma feira gastronómica em que aproveitamos para nos aviar com uma bela sandes de Presunto (Jamon!) Pata Negra de Salamanca e um copito de vinho, de oferta. Uma coisa que me impressionou foi a quantidade das chamadas profissionais do prazer, vulgo putas, que por lá andavam ao ataque, às portas das lojas, logo de manhã cedo, não tinha essa ideia da última vez que por lá andei.

Prosseguindo a jornada, assentamos arraiais na Plaza Mayor, que era o ponto de encontro dos sportinguistas para receber a escolta policial até ao estádio. Encontramos um supermercado refundido que vendia a cerveza a 60 cêntimos, enquanto os nossos compatriotas desembolsavam 2 euros para abrirem a pestana. O ambiente começava a animar aos poucos, com apenas algumas dezenas de leões e algum pessoal do directivo a ensaiar a festa que se seguiria.

Por volta das quatro horas a Plaza Mayor já era completamente nossa, e a chegada do autocarro da Torcida Verde deu o mote para nos juntarmos todos para a descida até ao estádio Vicente Calderón. E essa, meus amigos, foi qualquer coisa de indescritível! Dois quilómetros percorridos com cerca de duas milhares de almas (dizem que no estádio éramos cerca de cinco mil) a gritarem em uníssono e cheios de orgulho o seu amor ao clube. Os espanhóis assomavam às janelas completamente surpreendidos por tamanha invasão.

Já a chegar ao estádio, o único ponto negativo da história: a determinada altura, devido a uma picardia entre meia dúzia de pessoal e um carro com adeptos do atlético, a Guardia Civil decidiu varrer a rua toda à bastonada, agredindo indiscriminadamente quem passava. Eu levei uma cacetada em cheio na “nalga” direita, para abrir a pestana (agora já posso dizer que, entre outras coisas, já levei no rabo pelo Sporting…), comecei a fugir, caí, e para não me armar em parvo de tropeçar assim à toa levei mais uma na perna, de borla.

Belos animais esses senhores, mas enfim, lá chegamos e fizemos a festa dentro do miserável Calderón, um estádio do piorzinho que já vi, ao nível de um Paços de Ferreira, sem desprimor para os castores. Há muito tempo em que não passava os 90 minutos de pé à molhada, foi engraçado. Uma nota para o grande Sá Pinto, que mais uma vez marcou a sua presença no meio da multidão. À parte do que quer que se tenha passado, um coração de leão destes faz imensa falta lá dentro, mas isso fica pra pensar.

Quem quiser confirmar uma pequena reportagem deste dia (completamente toldada pela euforia),  é só clicar aqui. Até onde mais irei por este clube?

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Cinemadas

Alice

Ora bem, lá fui eu ver uma das minhas histórias favoritas contada por um dos meus realizadores favoritos. Não desgostei, o filme é… giro, mas acho que isto não é propriamente um elogio dadas as expectativas que eu tinha.

Visualmente, o filme é muito bom, mas isso era talvez o mínimo que se podia exigir, dado o gabarito do senhor nesse quesito em particular e o imaginário que tinha à sua disposição.

O que é que eu queria mais? Já nem digo mais darkness, ainda que apreciasse, mas essencialmente mais loucura, mais irreverência da parte dos personagens, mais ousadia na abordagem à história, não há nada que surpreenda realmente. Dou o exemplo do Johny Depp: faz de Mad Hatter, mas pouca madness se vê, o gajo parece mais maníaco-depressivo que outra coisa. A única parte em que tenta extravasar com uma dança manhosa, falha completamente, pelo menos para maiores de 10 anos.

O gato tá fixe, a rainha de copas também, os gémeos podiam ser melhor aproveitados e dos restantes nada a dizer.

Quanto ao 3D, eu dispenso. Ou essa maravilhosa técnica  não está afinada para os meus míopes olhinhos, ou a propalada “experiência” que aquilo proporciona ainda é mesmo só para inglês ver: com muitos elementos no ecrã não se percebe a ponta dum corno do que se está a passar.

Quem lê isto há-de pensar que odiei o filme ou assim, mas até gostei, o problema é mesmo esse “até”. Para desanuviar, deixo-vos este remix que algum maluco pôs no youtube. Fica pra fritar.

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