Faz este mês um ano que fiz a maior viagem da minha vida. Como na altura ainda não blogava, e bateu uma certa nostalgia, achei por bem a ocasião para colocar aqui um pequeno resumo da mesma. Isso e eu gostar de me armar em gabarolas. Adiante.
Para começar, e como há cabrões com sorte, a viagem foi completamente gratuita. Cortesia da Sporttv, passe a publicidade. A propósito do Grande Prémio de Singapura, o primeiro da história a ser disputado à noite, a Sporttv ofereceu 10 viagens às melhores frases que envolvessem “Fórmula 1” e “Sporttv”; a minha fórmula mágica: “Voar a 300 à hora sem ter brevet? É assistir à Fórmula 1 na Sporttv.” Yes mothafucka! A meu cargo, só a alimentação, que é estupidamente barata naqueles lados: por 5 dólares locais (2 euros e meio) um homem fica bem alimentado, apesar de não saber bem com o quê, por vezes.
Assim como foi a viagem mais longa que fiz, foi também o local mais diferente de tudo que já vi. Ainda que duvide que Singapura seja um bom modelo de um país asiático “padrão”, não deixou de ser um tremendo choque cultural.
Para começar, o visto de entrada no país que preenchemos no aeroporto traz logo o aviso: “death penalty for drug trafficking“. Táu. E as penas de morte aplicam-se a estrangeiros/turistas. Entre outras leis duríssimas, é proibido vender pastilha elástica (!), é proibida a pornografia e é proibido ser-se homossexual e viver no país. Cortam todos os males pela raiz: para combater a sujeira nas ruas proibiram-se as pastilhas, para combater as drogas instaurou-se a pena de morte. O lado bom é que é das cidades mais limpas do mundo, o lado mau… fica pra pensar.
O segundo choque imediato para quem vive num país europeu: o clima. Dia e noite com a temperatura acima dos 30 graus, e humidade próxima dos 100%. Mal um gajo sai à rua, fica completamente empapado em suor. Em tudo o que é local fechado, os singapurenses ligam o ar-condicionado no máximo: choque térmico de 10 em 10 minutos, e uma tortura para as minhas (não) saudosas amígdalas. Mas adiante.
Como falei em singapurenses, convém aprofundar: a população é maioritariamente de origem chinesa, mas existem também bastantes malaios e indianos. As línguas oficiais são o inglês, o malaio, o mandarim e o tamil. Não há grandes misturas: para os chineses há Chinatown, para os indianos Little India, e por aí vai. Aparentemente, vivem todos em paz. Pudera, com aquele policiamento.
A trabalhar, são formigas autênticas. Nós já temos um cheirinho disso cá, com as lojas do chinês, mas lá é que tive a verdadeira noção dessa faceta asiática. Eles não saem das lojas para almoçar, ou melhor, eles não saem do balcão para almoçar: é comum sermos atendidos por um funcionário que está com o seu prato de comida no balcão, e a comer com as mãos! Em estações de metro enormes, podemos encontrar singapurenses a limpar o chão e as paredes com um paninho minúsculo, minuciosamente, durante todo o dia. O pouco ou nenhum lixo que se vê no chão, está constantemente a ser limpo, com pinças, pelos funcionários da cidade. Em vários locais, é comum vermos também pessoas de muita (mas muita) idade a trabalharem no duro; não sei se existe o conceito de reforma no país ou não.
Quanto à cidade em si, e todo a sua envolvência, é uma metrópole simplesmente deslumbrante, repleta de arranha-céus cinematográficos, e com uma simbiose perfeita entre a modernidade dos bares e esplanadas e os recantos tradicionais asiáticos, com os seus mercados e templos. Cada quarteirão é um mundo à parte.
Outro mundo à parte é a Ilha de Sentosa; com aquele calor abrasador, a perspectiva de ir para a praia refrescar era muito animadora, mas a praia de Sentosa é… artificial, e a água ainda é mais quente que o exterior! Ainda assim, vale a pena visitar a ilha, que é no fundo um tremendo parque temático com alguma natureza pelo meio. Quando lá estive, estava em construção um gigantesco resort da Universal Studios, que há-de ser qualquer coisa de brutal.
Sendo uma cidade-país, não é difícil percorrê-la de lés a lés num instante, com um metro (sem condutor) que funciona muito bem, e em que os táxis, que são mais que as mães, são bastante baratos e tem condutores muito simpáticos: certa vez apanhamos mesmo um que insistia em querer levar-nos para um sítio em que havia “massage, fuck fuck and blowjob”. Recusamos, educadamente.
Nos três dias que lá estive, a cidade respirava Fórmula 1 por todo o lado. Sem ser grande fã (maior agora), foi impossível não ter ficado contagiado com aquele ambiente, com o barulho ensurdecedor dos motores a ecoar por toda a cidade, o impressionante aparelho de marketing e a organização que rodeou o evento. O local de onde assistimos a corrida não era dos melhores em termos de visibilidade, mas era uma recta entalada entre duas curvas e sempre dava para ver qualquer coisinha dos carros, que tinham que abrandar ligeiramente. Absolutamente memorável, e este ano parece que querem elevar a fasquia com concertos de mega-estrelas pelo meio, e a Beyonça à cabeça.
Gostava de ter tido pelo menos uma semaninha para conhecer tudo o resto, mas não vale a pena ser pobre e mal agradecido 🙂