Cinemadas

Drive

Este é um filme de acção como já não via há algum tempo. A sua realização é deliberadamente puxada aos anos 80, a todos os níveis; banda-sonora, ambiente e planos aéreos à Michael Mann, cena de entrada a preceder a sequência de créditos cheia de cores garridas sob escuro e neón. Mas tudo feito com muito estilo.

Ryan Gosling, um actor da moda (com mérito), assume o papel “Eastwoodesco” de um mecânico e stunt driver de filmes de acção, que ocasionalmente presta serviços de fuga em assaltos. O personagem não tem nome, e dele ouvimos pouquíssimas falas, limitando-se  desempenhar meticulosamente as suas tarefas e a seguir o seu caminho.

A determinada altura sai do seu isolamento e estabelece uma relação de amizade com uma vizinha e o seu filho, cujo pai está na cadeia. Quando este regressa, mete a família sob ameaça de mafiosos e envolve-o num suposto último assalto que acaba por ser muito mais complexo do que se imaginava, gerando uma espiral de perseguição e violência.

Talvez seja erróneo promover o filme como sendo de acção; apesar de tê-la, é muito mais um “character movie“, com um herói enigmático e ambíguo, por vezes nobre, outras perturbador na faceta sombria que tão natural quanto repentinamente demonstra.

Simples, minimalista e muito bem esgalhado.

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Cinemadas

50/50

 

50/50 conta a história de um escritor de rádio de 27 anos que é diagnosticado com um tipo de cancro raro, que lhe confere 50% de hipóteses de cura. Partir desta premissa poderia levar-nos a supor um drama, mas é antes uma comédia, que relata com (bom) humor a sua luta pela sobrevivência.

Além de demonstrar que podemos e devemos fazer humor (não-fácil) com este tipo de coisas, o que mais gostei no filme foi a forma como, tratando do assunto que trata, consegue esquivar-se completamente a lamechices, lições de moral e dramatismos fáceis. As emoções são extremamente contidas durante grande parte do tempo, culminando num momento com uma carga emocional brutal, mas despoletada de forma bastante simples.

Não é um grande filme, mas é honesto, engraçado e inspirador.

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Cinemadas, Desportadas

The Damned United

Brian Clough foi um dos mais bem sucedidos treinadores ingleses de sempre, e também um dos mais controversos, pelo seu estilo directo e irreverente. Conseguiu tirar o Derby County da cauda da segunda liga inglesa elevando-os a campeões da primeira no ano seguinte e, anos mais tarde, tornar o modesto Nottingham Forest campeão inglês e da liga dos campeões, por duas vezes. No entanto, este filme centra-se no seu maior fracasso, os seus míseros 44 dias como treinador do gigante Leeds (onde era odiado pelas suas inúmeras bocas ao longo dos anos), alternando esse período com flashbacks dos momentos de glória anteriores e posteriores.

Sendo talvez o melhor filme sobre futebol alguma vez feito, é essencialmente um “filme de actores”; Michael Sheen, que tem uma queda imensa para biopics, incorpora o estilo e os maneirismos de Clough de forma extremamente convincente e hilariante, no qual é devidamente acompanhado pelo seu fiel adjunto e escudeiro Pete Taylor, interpretado por Timothy Spall, que só tem “azar” por ter nascido com o aspecto que tem (calham-lhe sempre mais ou menos o mesmo tipo de papéis), pois é um actor brilhante. A relação amor-ódio entre os dois é um dos pontos altos do filme, sendo o outro o ódio de morte que Clough destina a Don Reavie, anterior treinador do Leed.

Uma hora de meia de belo entretenimento, sotaque do norte de Inglaterra e bloodys, bollocks e twats com fartura.

 

 

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Dracula

Em noite de halloween, satisfiz a minha vontade de rever o Dracula do Coppola. A seguir será o do Lugosi.

É um bom filme, mas ainda assim uma obra menor de Coppola, e menos prazerosa do que a leitura do clássico. Pode-se dizer que é em grande parte uma adaptação fiel, mas diverge em pontos fundamentais, com o amor e a entrega entre Mina e o Dracula à cabeça.

O Gary Oldman é brilhante na pálida pele do Conde, o velho Anthony Hopkins não tanto quanto o velho Ven Helsing mas tem os seus momentos, o grande Tom Waits dá uma excelente perninha de ator como o louco Renfield e o Keanu Reeves é mau demais para ser verdade, conseguindo tornar mais insonso ainda um papel que já de si o era.

A trivia do IMDB diz-nos que o próprio Coppola se arrependeu de escolhê-lo:

Francis Ford Coppola has openly criticized his own reasoning for casting Keanu Reeves as Jonathan Harker. According to him, he needed a young, hot star that would connect with the girls. 

Enquanto ele defende-se com o cansaço:

Keanu Reeves said years after the movie came out that he wasn’t happy with his work in it, stating he had been exhausted from making several films right on the heels of signing on as Jonathan Harker, and that he tried to raise his energy for the role “but I just didn’t have anything left to give”.

Retiro duas coisas daqui. Uma é que mesmo um mestre como o Coppola teve que fazer concessões, pois é sabido que andava nas lonas com o fracasso comercial dos filmes anteriores, e este Dracula possibilitou-lhe a recuperação. A outra é que não é necessariamente mau que assim seja, antes pelo contrário; tivessem todos os filmes de sucesso comercial a qualidade deste.

Side note: a música dos flashbacks da nova série de terror American Horror Story (muito boa, por sinal) parece-me claramente adaptada desta.

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Felon

Não me lembro de ter ouvido falar deste filme de 2008 na altura em que saiu e nem lembro como fui a ele ter. Nele é contada a história de um pai de família que mata involuntariamente, com um taco de baseball, um assaltante que invadia a sua casa.

Como a tacada é desferida já fora de casa, em perseguição ao assaltante, o ato não é considerado legítima defesa e ele apanha três anos de cana. Lá dentro, tendo que se enquadrar nos esquemas dos gangues e no quotidiano de violência imposto pelos próprios guardas, entra numa espiral que não só agrava a sua pena quanto o faz duvidar da sua própria essência.

Quem lhe ajuda a manter a sanidade e o discernimento necessário para recuperar o seu “american dream” é o seu companheiro de cela, que está condenado a perpétua por múltiplos assassinatos e tem saltado de prisão em prisão por propagar chamas revolucionárias.

Uma história batida e contada de forma simples, mas clara (e violentamente) focada e acima da média. Uma nota para o actor principal, Stephen Dorff, que independentemente da qualidade dos filmes faz invariavelmente grandes trabalhos. Não percebo como é que não tem mais tempo de antena, em contraste com outros tantos.

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Friends With Benefits

Não tenho muito a dizer sobre este filme; é uma comédia romântica acima da média das que andam aí, tem os seus momentos divertidos, bom ritmo, o casal em questão tem uma grande química no ecrã, mas falta qualquer coisa para ser mais do que um filme giro.

Duas notas: gosto do Timberlake, o gajo está mesmo cada vez melhor nessa história de ser actor, e a Mila Kunis também, mas desilude-me de vez com tanto ossinho à vista.

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Horrible Bosses

Quem nunca teve vontade de assassinar um patrão?

Sessão da meia-noite de sexta com a mulher amada para ver esta comédia de Seth Gordon (começo a perder a conta aos Seths na moda em Hollywood), que é bastante comestível.

Muito resumidamente, três amigos possuem três patrões terríveis, cada qual à sua maneira (mas destacando-se claramente em todos os aspectos Kevin Spacey). Fartos de stress e de humilhação, decidem planear limpar o sebo a cada um, recorrendo para o efeito a um “consultor de homicídios” (Jamie Foxx num curto mas bem esgalhado personagem chamado Motherfucker Jones) .

O resto são trapalhadas para ver e descontrair um bocado.

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VIPs

Mais um da terra natal.

Este filme é uma espécie de Catch Me If You Can brasileiro, baseado na história real do paranaense Marcelo Nascimento da Rocha, que de pequenos golpes em pequenos golpes vai viajando pelo Brasil de graça na adolescência, obtém brevet de piloto, se torna piloto do narcotráfico entre o Brasil e o Paraguai e, por fim, engana durante algum tempo a nata da sociedade se fazendo passar por um dos filhos do dono da companhia aérea Gol.

A (principal) diferença entre este impostor e o interpretado pelo Di Caprio é uma certa esquizofrenia que o filme dá a entender,  sendo que o personagem se recusa a negar o papel das várias personalidades que vai assumindo, ficando no ar se efectivamente por patologia ou por medo de encarar a realidade.

Outra diferença é o modo desprendido e apatetado com que ele vai levando as suas tramóias avante, sendo de realçar aqui mais uma excelente interpretação do Wagner Moura, que carrega o filme nas costas fazendo o papel de alguém que, sendo narcisista, não faz a mínima ideia de quem realmente é. A realização (a primeira de Toniko Melo) é firme, mas sem essa interpretação não sei o filme deslanchava.

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Rio

Não é preciso muito para levar-me a arrastar a minha sobrinha (enquanto não há filhos aqui no ninho) para ver bons filmes de animação; sendo um novo filme com o dedo da Blue Sky e tendo como mote um bicho que foi arrancado do Rio de Janeiro ainda pequeno e levado para uma terra fria, este era mais que obrigatório.

Blu é uma arara azul carioca que vive feliz e domesticada no Minesotta, sem nunca sequer ter aprendido a voar. Certo dia, descobre-se que Blu é o único macho da sua espécie,e a sua dona é dissuadida a levá-lo à terra natal para acasalar com uma fêmea; pelo meio, as duas aves são roubadas por traficantes e toda uma aventura típica é desencadeada.

Portanto, não sou azul mas nunca serei completamente isento numa viagem pessoal e naïf como esta, assim como o próprio realizador (Carlos Saldanha, carioca mago do CGI) não o foi. Coração de parte, o filme está muito bem conseguido, toda a envolvente paisagística carioca está espectacular, ainda que nem sempre realista (o que não era o objectivo, as favelas por exemplo estão pitorescas, não degradantes),  sendo cerca de hora e meia de muita cor e alegria, apresentadas de forma simples.

Não posso deixar de implicar com enfiarem os Black Eyed Peas pelo meio; até nem atrapalham nem desvirtuam muito a coisa, mas os momentos musicais verdadeiramente brasileiros são imensas vezes superiores aos que eles apresentam, mas compreendo a jogada.

Doesn’t take much for me to grab my niece to catch a good animation movie; being a Blue Sky movie about an animal that was stolen from Rio de Janeiro in tender age and taken to a cold land, this one was definitely mandatory.

Blu is a carioca Blue Maccaw that lives happy and domesticated in Minnesota, without even ever learning to fly. Someday, a scientist discovers that Blue is the only male of his specie, and convinces her owner to take him to Rio to copulate with a female Maccaw; meanwhile, the two birds are stolen by smugglers, and a whole typical adventure begins.

So, I’m not blue, but obviously I’ll never be impartial enough in such a personal and naïf trip like this, as even the director Carlos Saldanha (carioca CGI guru) wasn’t. Heart apart, the film is very well achieved, all the carioca landscaping and surroundings are gorgeous (although not always realistic, but that was not the point, the slums for example are picturesque rather than degrading), and its a one hour and a half full of color and joy, presented in a simple fashion.

Personally, I don’t like the way they stick the Black Eyed Peas on it; although they make no harm, the truly Brazilian musical moments are way superior, but I have to understand the option.

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True Grit

O segundo filme do fim-de-semana foi o excelente True Grit, com a enfadonha tradução portuguesa “Indomável”. Sendo grande fã de westerns e grande fã dos manos Cohen (e já agora de histórias de vingança), não havia muito por onde correr mal, e assim foi.

Na verdade, é muito menos um western que um filme dos Cohen e menos um filme dos Cohen que… um filme dos Cohen. Passo a explicar. Apesar de não seguir absolutamente a linha dos clássicos, não é propriamente uma reinvenção do género, é simplesmente uma história do género contada à moda dos Cohen, com tudo de bom que isso acarreta: crueza, imprevisibilidade e humor onde supostamente não existiria. Isto tudo sendo muito mais seguro e consensual que a maior parte dos seus filmes, e daí o sucesso comercial que vem tendo.

Difícil dizer muito mais, sendo que a cereja no topo do bolo e aquilo que confere o sal ao filme são as interpretações brutais do Jeff Bridges, como habitual, e da “imberbe” e transcendente Hailee Steinfeld que, tendo ou não futuro, tem aqui um início do caraças. Vão vê-los que vale a pena.

 

Second movie of the weekend was the excellent True Grit. Being both a western’s and a Cohen Brother’s fan (and a revenge story’s fan by the way), nothing could go wrong. And it didn’t.

Actually, it is less a western than a Cohen’s film, and less a Cohen’s film than… a Cohen’s film. I can explain. Although it doesn’t follow the classics, it isn’t sort of a reinvention of the genre either. It’s simply a story of the genre told with the Cohen’s style, with all the good ingredients it carries: rawness, unpredictability and humor where it wasn’t supposed to. All of this in a much secure and consensual fashion, hence its commercial success, I guess.

On top of the cake and giving the movie its true strength, the brutal performances of old Jeff Bridges, and the vernal Hailee Steinfeld; her future is unknown, but this is a hell of a start. Go watch them!

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