Teatradas

O Senhor Puntila e o Seu Criado Matti

Hoje foi a primeira vez que vi uma peça “pura” do Berltolt Brecht (a Ópera do Malandro do Chico Buarque é inspirada na Ópera dos Três Vinténs). Não sendo uma adaptação genial, é bem conseguida, produzida, quase sempre bem representada e divertida QB.

Senhor Puntila é um fazendeiro finlandês que tem personalidade dupla: quando bêbado, é generoso e expansivo, quando tem um dos seus “ataques de sobriedade” é um crápula autoritário da pior espécie. A criadagem vai tendo que aturar os seus devaneios, sendo que a dose de leão recai sobre o motorista, Mati. Pelo meio, quando sóbrio, vai tentando casar a sua filha com um diplomata meio apaneleirado,  que desanca de cima a baixo, quando ébrio.

Em meio a divagações várias sobre embriaguez, amizade e poder, há momentos muito bons de comicidade e reflexão, e outros tantos de overacting e de adaptação manhosa. A banda-sonora é bem esgalhada pelo Mazgani, mas nem sempre as letras (que não sei se foram da sua responsabilidade) encaixam bem.

O Miguel Guilherme está mais que sabido que é bom e consagrado, e o seu ar natural de bêbado ajuda bastante; quem me surpreendeu mesmo foi o criado, Sérgio Praia, que quanto a mim rouba completamente a cena, ainda mais tendo agora googlado o seu percurso televisivo e só encontrado floribella’s e coisas do género (e não é crítica, é o que há…).

Vale a pena, até porque ainda consigo aproveitar o desconto 50% de jovem do teatro aberto, pelo menos durante mais um aninho.

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“Mestruado”

25 de Outubro é mais uma data histórica deste ano. O dia em que defendi a minha tese de mestrado. Passada a euforia, fica aqui o contentamento. Foi o culminar de um ano de trabalho árduo, por vezes chato, por vezes inglório, mas compensador, sem sombra de dúvida.

Muito provavelmente, foi o dia da minha vida em que estive mais nervoso; até às 15, hora em que entrei na sala e me soltei, não parei um minuto de um lado para o outro. Não valia a pena, porque a apresentação foi feita nas calmas, o júri foi muito positivo e a discussão não foi muito mais que uma conversa agradável. Fui premiado com 18 valores de nota final.

Em relação ao mestrado em si, e caso alguém esteja no dilema de fazê-lo ou não, aconselho, sem dúvida. A licenciatura despachei, o mestrado fiz com prazer. É claro que também pesa a maior maturidade (aos 17 anos não estava minimamente preparado para o que ia enfrentar), mas no mestrado aprendi mais, e principalmente aprendi melhor: assimilei e fiz, e focado no que queria.

Isto tudo mais numa perspectiva de enriquecimento pessoal, porque a nível de remuneração não me parece que faça grande diferença neste momento, pelo menos em Portugal. De qualquer forma, vale a pena.

Vou fazer algumas das revisões sugeridas pelo júri, e logo disponibilizo a dita também aqui.

E pronto, assim de repente, sou Mestre. Esta é que fica mesmo pra pensar…

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Cinemadas, Sem categoria

Machete

Já havia aqui referido a minha predilecção por filmes de merda, e a distinção que faço entre filmes de merda e merdas de filmes.

O Machete é um grande, enorme filme de merda; reitero, é dos melhores filmes de merda que eu tenha visto, e só não adianto muito mais porque sei que há quem vá ler isto e esteja à espera de releases de maior qualidade (ou, vá, a politicamente correcta e ridiculamente tardia estreia em cinema). Tudo na medida certa, ou seja, sem medida, acção e violência gratuita a gosto (ou contragosto), nudez, e muito, muito nonsense.

Com tantos anos inglórios de pequenas participações (e até de prisão), Danny Trejo já merecia um protagonismo destes, incluindo facturar a Jessica Alba, a Michele Rodriguez e a Lindsay Lohan (numa cena digna do ditado “maravilha maravilha…”) no mesmo filme, com uma cara daquelas (já referi o nonsense).

Urgiu agora em mim a necessidade de ver o Expendables, e rever os Desperados. E os filmes de Cheech & Chong, todos!

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Desportadas

Big Mal

Esta semana faleceu Malcom Allison, treinador inglês que escreveu o seu nome na história do Sporting, apesar do pouco tempo que cá esteve. A figura acima ilustra dois dos elementos que constituíam a sua imagem de marca, o charuto e o álcool. Os outros eram o chapéu e as mulheres, e encontram-se facilmente em outras pesquisas.

Obviamente que eu ainda não andava por cá nos tempos de ouro do Big Mal em Portugal, mas já li e ouvi o suficiente sobre ele para lamentar a perda de uma figura rara destas. Em 81/82 o Sporting ganhou o campeonato com 66 golos marcados e 26 sofridos; Allison dizia a quem o quisesse ouvir que se estava nas tintas para os golos sofridos desde que se marcassem mais; é claro que isto também era possível pelo facto de ter Manuel Fernandes, Jordão e Oliveira na frente, mas segundo consta, o homem apesar de louco percebia imenso de futebol.

A isto acresceu a esta conquista a da Taça de Portugal e muitas estórias fascinantes da extravagância do seu treinador e da sua relação com a equipa e com o presidente João Rocha, que não ia muito à bola com o jeito de ser do inglês, mas dados os resultados lá comia e calava… até que na pré-temporada da época seguinte estalou o verniz e a cabeça e o chapéu do Mal rolaram (já ouvi pelo menos duas versões: um escândalo sexual no estágio e um desaparecimento do treinador com um retorno embriagado).

Os mais velhos recordam sobretudo a sua volta ao estádio antes do apito inicial, sempre com uma garrafinha de magos na mão, sempre quente. Entre as estórias que me ficaram na retina está uma contada pelo Manuel Fernandes há tempos, no jornal i:

“Dois dias depois de ganharmos a Taça, jogámos com o PSV Eindhoven em Paris. Na véspera, à noite, Allison concentrou os jogadores no hall do hotel e começou a falar das aventuras em Inglaterra. A conversa, animada como sempre, durou das 23 às duas da manhã. A essa hora, eu, como capitão, sugeri que fôssemos para a cama. Ele virou-se para mim: ”Fomos campeões, vencemos a Taça e vamos dormir? Nada disso. Vamos todos sair para Paris. E lá fomos, todos nós, aos bares e aos cabarés de Paris, àqueles mais conhecidos e tudo, como o Lido. Foi uma noite-manhã inesquecível.”

Como muitos, acabou a vida a combater o alcoolismo e com dificuldades financeiras. Com a vida de excessos que teve, ainda durou até aos 83 anos. Descanse em festa!

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Le Francês

Esta semana comecei um curso de francês no ILNOVA. Esperei passar as duas primeiras aulas para escrever isto, para ver se o entusiasmo era justificado ou se era só tesão do mijo.

Durante os últimos 3/4 anos lectivos da faculdade, sempre que se iniciava um semestre, dizia que era desta que ia me meter num curso de línguas qualquer, mas nunca se proporcionou. Agora estou a trabalhar ali perto da FCSH, o horário era favorável e foi uma das últimas oportunidades de aproveitar o desconto de membro da Universidade Nova (não mais aluno, ainda bolseiro).

Porquê o francês? Eu ainda cheguei a ter um bocadinho de francês na escola básica, mas não aprendi absolutamente nada; parti um bocado por aí, para dar uma segunda oportunidade à língua, mas também pela utilidade. Para tentar ler os poemas do Rimbaud no original, para ouvir Serge Gainsbourg e perceber, e por aí vai. E claro, para arranhar qualquer coisa na lua-de-mel!

Curiosidades aleatórias que aprendi até agora:

  • Na França, as caixas de correio não tem os andares e números das portas, tem o nome das pessoas. Acho que é parvo, tanto pela hipótese de haver pessoas com nomes repetidos quanto pela privacidade. Não sei se é assim em toda a França também, mas foi o que percebi.
  • La mercerie não é mercearia, é retrosaria; l’épicerie é que é mercearia, que vem de épice (especiaria), dado que as mercearias surgiram para vender especiarias.
  • É rude chamar as pessoas só de Madame ou só de Monsieur (fora as saudações). Esse hábito era reservado às prostitutas e aos chulos, no século XVIII.
  • Le Chili não é nada picante, é mesmo o Chile. Quem nasce no Chili é le chilien ou la chilienne.
  • Como visto na frase anterior, tudo, tudo, tudo em francês tem que incluir o artigo (le, la, les). Sempre.

Mais uma língua, mais uma ferramenta.

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Leituras

Estorvo

Continuando o meu roteiro literário inverso do Chico Buarque, li esta semana aquele que foi o seu primeiro romance, Estorvo.

Me prendeu mais que Benjamim e me entusiasmou menos que Leite Derramado. O protagonista, que não tem nome, nem bem vive nem morre, vagueia. Vagueia perdido, obsessivo não se sabe bem com o quê e contemplando a hipocrisia e a decadência da sociedade em que vive, da irmã e da mãe que o sustentam, da ex-mulher, dos ex-amigos, do ex-apartamento, enfim, tudo em sua história falhou ou foi perdido. Esse homem é o estorvo do mundo em que vive.

Resumido assim parece uma história deprimente de um vagabundo fracassado qualquer, mas o tom que é empregue à escrita além de pesado, é contraditório, conseguindo ser ao mesmo tempo desesperado e apático, além de dar a algumas das estórias que o compõem contornos de romance policial. Uma história estranha e atribulada, contada duma maneira completamente desprendida.

Sendo o segundo melhor que o primeiro e pior que o último (pelo meio ainda há Budapeste, que já li mas ainda não blogava), não é uma evolução linear, e nem o deveria ser; são uns altos e baixos de um escritor, não de um músico que decidiu se aventurar pela escrita: Chico Buarque é um escritor que, para mim, já conquistou o pleno direito de figurar entre os melhores da literatura brasileira.

Aguardo com expectativa a próxima obra.

Continuando o meu roteiro literário inverso do Chico Buarque, li esta semana aquele que foi o seu primeiro romance, Estorvo.

Me prendeu mais que Benjamim e me entusiasmou menos que Leite Derramado. O protagonista, que não tem nome, nem bem vive nem morre, vagueia. Vagueia perdido, obsessivo não se sabe bem com o quê e contemplando a hipocrisia e a decadência da sociedade em que vive, da irmã e da mãe que o sustentam, da ex-mulher, dos ex-amigos, do ex-apartamento, enfim, tudo em sua história falhou ou foi perdido. Esse homem é o estorvo do mundo em que vive.

Resumido assim parece uma história deprimente de um vagabundo fracassado qualquer, mas o tom que é empregue à escrita além de pesado, é contraditório, conseguindo ser ao mesmo tempo desesperado e apático, além de dar a algumas das estórias que o compõem contornos de romance policial. Uma história estranha e atribulada, contada duma maneira completamente desprendida.

Sendo o segundo melhor que o primeiro e pior que o último (pelo meio ainda há Budapeste, que já li mas ainda não blogava), não é uma evolução linear, e nem o deveria ser; são uns altos e baixos de um escritor, não de um músico que decidiu se aventurar pela escrita: Chico Buarque é um escritor que, para mim, já conquistou o pleno direito de figurar entre os melhores da literatura brasileira.

Aguardo com expectativa a próxima obra.

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Clube Fashion

Vinha me tornando cliente do Clube Fashion, mas desiludiram-me. Não gosto de fazer publicidade negativa só por fazer, mas no caso fiquei chateado porque até gostava do conceito (pese o falso “elitismo”, muito em voga), e as poucas compras que fiz ainda valeram a pena.

Das três compras que fiz, três atrasaram. Uma delas era uma prenda para a Irina que foi sendo atrasada sucessivamente até somar mais ou menos um mês. À quarta foi de vez: nova encomenda, novo atraso, e não decidi esperar e rezar para que não atrasasse mais. Cancelei a encomenda, pedi a restituição do dinheiro, e disse que podiam remover a minha conta assim que processassem o reembolso, pois não iria mais utilizar o serviço. Compreendo que os atrasos sejam mais da responsabilidade dos diversos fornecedores do que deles, mas podiam no mínimo fazer um esforço para fornecer estimativas realistas aos clientes.

Devolveram e disseram “ok, removemos-lhe da base de dados”, naquele espírito muito português de “temos muitos clientes, não precisamos minimamente de si, você é que perde”. Whatever. Nunca é só um cliente que perdem (palavra puxa palavra) e mesmo que fosse, é um cliente.

Passar bem.

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Menos de um mês

Ontem começou a verdadeira contagem decrescente para o grande dia. Mandei mail para toda a gente, a repetir muito do que já aqui tinha dito, que o pessoal é distraído.

Aquilo que eu disse que faltava num dos posts anteriores, o livro de honra, já ficou tratado, a muito custo.  Na verdade, não chega a ser um livro de honra, é um bloco d’honra. Esbarramos numa prateleira com moleskines na FNAC, e compramos um moleskine… falso! Na verdade é de uma marca chamada bahamas, e da sua compra posso depreender que os moleskines tão muito overrated: o bahamas foi muito mais barato, é maior e colorido. Levou umas costuras da Irina, um textinho meu e ficou bem engraçado.

A prova do vestido da Irina, que tinha ficado marcada para ontem, foi adiada (sem aviso) para segunda-feira. Deve ser do tempo… assim de cabeça, faltam-me uns sapatos e ir à conservatória entregar assinaturas e fotocópias dos BI’s das testemunhas. Tá quase, quase. Falta só o quase, mas cheira-me que o tempo vai voar..Ontem começou a verdadeira contagem decrescente para o grande dia. Mandei mail para toda a gente, a repetir muito do que já aqui tinha dito, que o pessoal é distraído.

Aquilo que eu disse que faltava num dos posts anteriores, o livro de honra, já ficou tratado, a muito custo.  Na verdade, não chega a ser um livro de honra, é um bloco d’honra. Esbarramos numa prateleira com moleskines na FNAC, e compramos um moleskine… falso! Na verdade é de uma marca chamada bahamas, e da sua compra posso depreender que os moleskines tão muito overrated: o bahamas foi muito mais barato, é maior e colorido. Levou umas costuras da Irina, um textinho meu e ficou bem engraçado.

A prova do vestido da Irina, que tinha ficado marcada para ontem, foi adiada (sem aviso) para segunda-feira. Deve ser do tempo… assim de cabeça, faltam-me uns sapatos e ir à conservatória entregar assinaturas e fotocópias dos BI’s das testemunhas. Tá quase, quase. Falta só o quase, mas cheira-me que o tempo vai voar..

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Os Punheteiros de Entrecampos

Aquilo que vou contar agora passou-se na segunda-feira, mas foi tal o meu choque que ainda estou com isto na cabeça.

Na segunda saí mais cedo para começar a aproveitar o feriado e o aniversário da mulher amada. Chegado à estação de comboios de Entrecampos, vi-me afligido pela necessidade fisiológica mais comum e corri para uma das casas de banho. Estavam três “cavalheiros” e um urinol vago no meio, mas assim que chego mais perto do mesmo, noto que eles não estavam propriamente a urinar… estavam antes os três a masturbar-se, impávidos e serenos. Um deles fica a olhar para mim, mas continua com o serviço. É claro que dei dois passos atrás e tive que aguentar a bexiga até ao Pragal.

Em conversa com amigos, descobri que é uma coisa absolutamente natural naquela estação. O que leva homens na casa dos trintas e quarentas a irem esgalhar o pessegueiro para uma casa de banho pública, às três horas da tarde, ultrapassa-me completamente, mas que os há, há. Desconhecia este nível de taradice em Portugal, mas sempre aprendendo…

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Cinemadas, Pátria que me pariu

Dançando com o diabo

Ontem à noite deu este documentário de Jon Blair na rtp2.

Não traz grande novidade, mas é interessante. Vão sendo mostrados diversos depoimentos de traficantes, moradores e polícias do Rio de Janeiro, tudo sob uma perspectiva voyeurista: não são mostradas perguntas, e deixam-se aos critérios dos espectadores as conclusões, que hão-de ser sempre ambíguas, dado que chegamos sempre às mesmas contradições e confirmações do ciclo de violência.

Os elos condutores do filme são Dione, um pastor evangélico que luta para tirar os bandidos do tráfico e trazê-los para a igreja, e o Homem Aranha, um barão da droga que diz que quer largar essa vida, mas não sabe como. E é aqui que o documentário se mostra interessante: por mais que eu abomine a maior parte das igrejas evangélicas que florescem (e pro$peram) que nem cogumelos, aqui dá para notar a verdadeira força que a fé tem, quando bem direccionada.

A confirmação (ou melhor, constatação) que é um problema horrendo e longe do fim, e que o caminho não pode passar somente pela violência, que maior violência gera.

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