Como nos anteriores, tinha muitas expectativas para este último filme do Nolan sobre a mitologia do Batman, e só não o acho um grande filme porque há meia hora a mais nas 2h30 que o compõem.
Essa meia-hora a mais são alguns devaneios de acção, deixas “cómicas” demasiado forçadas e uns twists que não o chegam a ser, mais para o final. Serve para agradar de forma transversal a mais tipos de audiência, mas a mim deixa um certo amargo de boca.
Tirando essas picuices, o filme tem argumentos de sobra para prender a atenção do espectador, abordando simultaneamente diversos temas angustiantes que afligem a nossa sociedade, como o terrorismo e os falsos messias, o declínio económico e o potencial incendiário que os 1% causam (em nós) nos outros 99, a inversão dos nossos valores morais, e por aí vai.
Gotham vive em paz há quase uma década, e durante esse período o Batman nem precisa sequer dar as caras (nem convém, porque é acusado de homicídio do Harvey Dent). Esta paz está alicerçada numa lei repressiva e com falsos pressupostos, que permite que todo e qualquer suspeito de crime seja colocado atrás das grades.
Como toda a paz podre, esta é deitada por terra com a entrada em cena de um vilão, Bane, que além de portador de um tremenda força bruta é extremamente inteligente e um líder carismático, capaz de incitar os seus seguidores à morte, de sorriso nos lábios.
O meticuloso plano de Bane para fazer ruir Gotham inclui a libertação dos seus criminosos e o cárcere dos seus policiais, a destruição da fortuna dos seus milionários através da apropriação da bolsa de valores, e a manipulação das massas, tentando-lhes fornecer uma ilusão de “devolução do poder ao povo”, uma espécie de Robespierre dos tempos modernos. Pelo meio o Batman, além de vencido, é torturado com a não-morte, e a obrigação de presenciar impotente a queda da cidade que protegia.
Não fornecendo um veículo de interpretação tão poderoso quanto o que propiciou a encarnação do Joker no Heath Ledger no último filme, temos um vilão muito competente e coadjuvantes excelentes, como a ladra profissional e o polícia novato a quem o Batman tem que se agarrar no meio do caos, nomeadamente a Hathaway numa excelente Catwoman e o Gordon-Levitt como Blake.
Mais uma vez, este realizador encontrou mesmo a fórmula para isto, de encontrar equilibrio entre agradar às massas e ao mesmo tempo fazer filmes de qualidade, metendo-as a pensar. Isso é que é preciso.