Cinemadas

VIPs

Mais um da terra natal.

Este filme é uma espécie de Catch Me If You Can brasileiro, baseado na história real do paranaense Marcelo Nascimento da Rocha, que de pequenos golpes em pequenos golpes vai viajando pelo Brasil de graça na adolescência, obtém brevet de piloto, se torna piloto do narcotráfico entre o Brasil e o Paraguai e, por fim, engana durante algum tempo a nata da sociedade se fazendo passar por um dos filhos do dono da companhia aérea Gol.

A (principal) diferença entre este impostor e o interpretado pelo Di Caprio é uma certa esquizofrenia que o filme dá a entender,  sendo que o personagem se recusa a negar o papel das várias personalidades que vai assumindo, ficando no ar se efectivamente por patologia ou por medo de encarar a realidade.

Outra diferença é o modo desprendido e apatetado com que ele vai levando as suas tramóias avante, sendo de realçar aqui mais uma excelente interpretação do Wagner Moura, que carrega o filme nas costas fazendo o papel de alguém que, sendo narcisista, não faz a mínima ideia de quem realmente é. A realização (a primeira de Toniko Melo) é firme, mas sem essa interpretação não sei o filme deslanchava.

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Cinemadas, Sonoridades

Lemmy

Uma das grandes vantagens deste documentário é não ser uma homenagem póstuma. Foi filmado com a lenda ainda viva, e são basicamente cerca de duas horas a ser a sua sombra, a seguir os seus passos e a absorver a aura de misticismo que o envolve.

A primeira meia-hora do filme chega a ser algo entediante, consistindo basicamente na recolha de depoimentos de diversos rockers da nova e velha guarda que vão declamando o quanto o veneram, o quanto foram influenciados e o modo como davam o cú e oito tostões para ser como ele. A seguir de lambidelas várias, a coisa melhora bastante.

Enquadramento histórico do seu percurso desde os Rockin’Vickers em Inglaterra até aos Motorhead, diversas histórias de palco e de backstage, desmistificação de outras tantas (corrige que não comeu mais de duas mil mulheres, foram só mil) e testemunho dos seus hábitos de vida demolidores, que levam a crer que com 66 anos já deve alguns à cova.

O badass que ao ser expulso dos Hawkind comeu as mulheres de três dos colegas de banda, que colecciona memorabilia de guerra e que quando o filho único fez 17 anos proibiu-o de consumir cocaína (aconselhou-o a tomar speed, que era bem melhor), é ao mesmo tempo um gajo simples e cativante, um purista que vive verdadeiramente para o que faz, que nunca se furta a um pedido de um fã e que vive no mesmo cortiço desde que veio para Los Angeles, aproveitando o facto de a renda não poder subir mais de 6% ao ano.

Para sintetizar, nada melhor que esta citação do Dave Grohl:

Fuck Keith Richards, fuck all those dudes who survived the sixties. Flying around in private jets, living up their gunslinger reputation as they fuck supermodels in the most expensive hotel in Paris. It’s like: you know what Lemmy is doing? Lemmy is… probably drinking Jack’N’Cokes and writing another record!

Fica para ver, admirar… e headbangar.

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Dies Natalis

Hoje presto aqui homenagem a uma pessoa que por vezes se julga esquecida, mas que nunca deixará de ser das pessoas mais importantes da minha vida.

É uma pessoa cheia de defeitos e manias, e que já tomou muitas opções erradas, mas ainda assim teve o dom de conseguir por vezes se substituir no papel de mãe e pai no meu crescimento, por motivos vários.

Completa hoje uma bonita e simétrica idade, que não vou revelar mas que só pode lhe orgulhar, pela discrepância entre o número e a carne.

Ela é inteligente e é linda, e conseguiu a façanha de por no mundo uma pessoa ainda mais linda do que ela.

She’s my sister and I love her.

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