Cinemadas

Ainda Estou Aqui

Pois é, meu amigo, é preciso dar um jeito.

Foram necessários 20 anos para eu assistir a um novo filme de Walter Salles. Sei que houve outros pelo caminho, mas o último que vi foi Diários de Motocicleta. Também foram precisos vários prémios, nomeações e um tremendo hype para que um filme brasileiro chegasse ao circuito comercial dos cinemas portugueses – e não me queixo. Venham mais!

Indo direto ao ponto: o hype é mais do que merecido. O filme é incrível. Nem sei bem por onde começar, de tantas coisas que me pegaram. Mas uma coisa é certa: Ainda Estou Aqui é tenso. Muito tenso. Por mais que comece em um clima de farra e alegria, desde os primeiros minutos há uma sensação incómoda de que algo dramático está por vir. O filme carrega esse peso de maneira sutil, sem recorrer a choques visuais explícitos. Não vemos muita violência direta, mas a sentimos no ar, na atmosfera carregada, nos silêncios.

O elenco inteiro está impecável mas, claro, o destaque absoluto vai para Fernanda Torres. Sua interpretação da mãe que segue em frente, tentando manter alguma normalidade para a família em meio ao caos, é simplesmente extraordinária. Há algo de profundamente real na forma como ela nos envolve na jornada, sem exageros, sem explosões emocionais forçadas. É contida, como quem está apenas sobrevivendo – e talvez por isso mesmo seja tão impactante. Qualquer um que tenha uma família consegue se ver naquela personagem, sentir a sua dor.

A trilha sonora também merece um elogio à parte. Ela acompanha perfeitamente essa montanha-russa emocional, oscilando entre momentos de festa e de pura angústia.

E, por fim, o que torna Ainda Estou Aqui ainda mais poderoso é o fato de ser uma história real. Tão próxima de nós, tanto no tempo quanto na evocação de eventos ou ideias mais recentes. Quer se goste ou não do filme, é impossível sair indiferente. Ele deixa marcas, provoca reflexões – e, talvez, seja essa a sua maior força.

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