Tenho sentimentos mistos acerca deste livro. Por um lado, foi a obra do Chico Buarque que menos gostei de ler; por outro, nota-se que teve imenso prazer ao escrevê-la, e identifico-me bastante com esse egoísmo de escrever para si próprio.
Chico Buarque teve, “na vida real”, um irmão bastardo, fruto de uma breve temporada do seu pai na Alemanha, antes da Segunda Guerra. Essa descoberta preencheu o seu imaginário durante bastante tempo, e este livro mistura a busca real pela seu paradeiro com as diversas fantasias que congeminou para a sua história.
Apesar da toada obsessiva do narrador ser capaz de prender de forma eficaz a nossa atenção, há muitas partes que se estendem de forma aparentemente atabalhoada e forçada, sem os rasgos de génio que caracterizam a sua escrita e tão bem presentes estiveram no seu livro anterior.
Dou de barato que tudo isto soe diferente para ele, que viveu ou sonhou o que ali está relatado, e que nesse sentido esta obra seja importante no contexto do seu crescimento enquanto escritor.
Nota final e de louvar para referir que este é o primeiro lançamento direto em Portugal da editora brasileira Companhia das Letras. Aguardemos os próximos.