Há uns meses atrás escrevi sobre um jogo de Gaelic Football que vimos quando cá chegamos, e que me levou a tirar algumas conclusões precipitadas sobre o desporto. Como não gosto de injustiças, vou rectificar!
O jogo que vimos foi da League, que afinal não lhes interessa para nada. O que realmente os move é o All-Ireland Championship, que decorre durante o “verão”. Hoje foi o segundo jogo da final, depois do primeiro ter sido dramaticamente empatado a segundos do final. E a esta final eles dão muita importância.
Dublin foi à final contra Mayo e, ao contrário de quando lá estivemos, o Croke Park tinha todos os seus 82000 lugares ocupados. A procura é brutal; qualquer uma das cidades poderia encher o estádio por si própria, e havia bilhetes no mercado negro sendo despachados por milhares de euros.
Na semana que antecede o jogo vemos bandeiras a esvoaçar nos carros e nas janelas a todo o momento, e a final é tópico quente de conversa entre todos os irlandeses.
Assim vale a pena e, pela segunda vez em três anos, Dublin é (somos!) campeões! Common you boys in blue!
Depois de muito ponderar (e pechinchar), decidi trazer o meu Peugeot de Portugal para a Irlanda. A alternativa seria vendê-lo em Portugal e comprar um carro aqui, ou mantê-lo em Portugal e comprar um charuto na Irlanda. Na primeira nunca conseguiria um bom negócio, da maneira que o mercado está, na segunda não me apetecia andar de charuto e muito menos manter a despesa de dois carros, usufruindo apenas de um na maior parte do tempo.
Que eu tenha conhecimento, o ferry mais próximo para a Irlanda é no Norte de França, em Cherbourg ou Roscoff, e atraca em Rosslare, 150km a sul de Dublin. Como também não me apetecia nem me dava muito jeito gastar 3 dias da minha vida nisso, decidi procurar por alguém que o fizesse por mim. Fechei negócio no site Shiply, em que listamos o que queremos transportar e para onde, e os fornecedores concorrem ao serviço com ofertas (também existe o rival uship).
Inicialmente os preços me assustaram, mas surgiu uma oferta bem mais barata que as demais (com o carro conduzido, e não transportado em camião), e não podia estar mais satisfeito por ter optado por ela. Para referência de quem necessite, o fornecedor em questão é o perfil Joaquintransportes no site, espanhol de Barcelona e muito boa pessoa. Manteve-me informado durante toda a viagem, por SMS, e cumpriu escrupulosamente com a entrega até ao fim, mesmo tendo tido uns contratempos pessoais pelo caminho. Como podem ver, até à data, 34 transportes com 100% de feedback positivo. Dada a extensão e a diversidade das viagens que faz, é obra.
Sobre o processo de troca de matrícula falarei mais à frente, pois ainda está em andamento, mas o leão da estrada já ruge em Dublin!
Esta semana a Carol começou a primeira atividade “extra-curricular” da sua vida de bebé, uma pela qual o pai nutre especial carinho: natação para bébés!
Inscrevemo-la no Aquababies, que tem aulas numa piscina que fica mesmo aqui nos terrenos do Aeroporto de Dublin e que dá para eu assistir antecipando a hora de almoço, o que é excelente. As primeiras impressões da organização e das aulas em si também são muito boas.
A primeira aula superou as nossas melhores expectativas. Claro que já sabíamos que ela adora água, mas a alegria que ela demonstrou durante todo o tempo, e a calma e facilidade com que ativou o instinto de “peixe” e submergiu e voltou da água no final, foi simplesmente mágico.
Além da diversão, que só por si é das coisas mais importantes nesta fase, acredito que este tipo de atividade vale bastante a pena pelo estímulo que lhe proporciona, tanto físico quanto mental.
Esta sexta-feira, no WC do escritório, ouvi dois colegas irlandeses a comentarem, bastante animados (eu ia dizer excitados mas soava mal, dois homens num urinol) que vinha aí uma “heatwave” para este fim de semana, heatwave essa que poderia levar a temperatura a chegar até uns absurdos… 24ºC! Perdoai-lhes senhor, que eles não sabem o que é calor a sério…
Particularidades do verão irlandês à parte, a verdade é que o sábado esteve mesmo solarengo e agradável, e aproveitamos para conhecer um bocado do (gigante) Phoenix Park e do Dublin Zoo.
Se fosse entrar em comparações com o Jardim Zoológico de Lisboa provavelmente ia sair um balanço negativo deste passeio, porque temos realmente na capital portuguesa um zoológico excepcionalmente bom e repleto de actividades. Ainda assim, este é muito agradável, muito verde (como quase tudo por aqui), e segue também a tendência de ter bastantes “vilas” e espaços amplos ao invés de jaulas. Muitos dos animais estavam escondidos devido ao calor, mas foi divertido na mesma. A Carol não estranhou minimamente os animais de maior porte; pelo contrário, era só sorrisos cada vez que a tirávamos do carrinho para ver um bicho novo.
Um aspecto que ainda não tinha comentado por aqui e que me deixa bastante contente, é a quantidade de crianças que se vê pelas ruas. Vemos imensos casais jovens com filhos, e não só com um ou dois, mas com três, com quatro, com cinco, com carrinhos de dois lado a lado/à frente e atrás/em cima e em baixo, com uns pela mão e outros a caminho… é algo que acho que dá bastante ânimo, e que faz falta à sociedade portuguesa, que se encaminha perigosamente para uma sociedade de filho único e tardio.
Finalizando o dia em beleza, estivemos os três esparramados na relva do parque, tendo às tantas uma menina um pouco mais velha que a Carol ficado encantada com ela e se deitado ao seu lado fazendo carícias e dando beijinhos, e ela toda derretida.
Esta é das partes que mais interessa a quem se muda: os custos. Contem com um maior salário, mas também com maiores despesas. Não na mesma proporção, senão não estava aqui!
Começando pelo maior de todos: alojamento. Se, como eu, vierem para Dublin, não contem arranjar um T2 (pequenino!) por menos de 800-1000 euros. Quanto mais perto do City Centre, mais caro. As outras grandes cidades do país, como Galway ou Cork, são mais baratas nesse aspeto, mas regra geral oferecem também salários menores.
Essa foi a má notícia. A boa é que o resto não é muito mais caro. A alimentação feita na rua é bastante mais cara, mas a “de supermercado” é quase equivalente. Há o Tesco e os nossos conhecidos barateiros Lidl e Aldi, que oferecem todos preços e promoções competitivas. E há a minha loja preferida, a Dealz, uma espécie de supermercado dos trezentos, com tudo a 1.49€.
Luz e gás também não ficam atrás de Portugal e a água, pelo menos por enquanto, não se paga (uma das medidas de austeridade que querem implementar para 2014 é a água passar a ser tarifada).
Para ter televisão e banda larga em casa, também há pacotes muito semelhantes aos que se encontram em Portugal, mas aqui para se ter televisão em casa, há uma taxa estúpida de 160€ por ano! Serve para sustentar o serviço público de televisão e radiofusão…
O preço normal dos transportes não é barato, mas há esquemas que permitem comprar o passe ou uma bicicleta para ir para o trabalho com cerca de 50% de desconto, o que é excelente. Os carros são baratos, a gasolina é o mesmo preço mas os seguros e o imposto anual são bastante mais caros (rondando os 300€ por ano para o imposto e 30€ por mês pelo seguro, numa pesquisa não muito aprofundada que fiz).
Um site bom para escolher fornecedores é o bonkers.ie, com comparativos detalhados para diversos serviços.
A companhia aérea mais barata para se viajar é obviamente a Ryanair!
Faz hoje uma semana que estou na Irlanda. Sendo cedo para grandes balanços, já consigo transmitir algumas dicas para quem queira ou precise seguir o mesmo caminho.
Salto a parte de encontrar emprego, porque já vim com ele assegurado. Assim sendo, a minha principal tarefa à chegada foi encontrar casa.
“O” site da especialidade aqui é o daft.ie. Tem muita oferta, mas também muita procura. É muito comum vermos um anúncio recente, tentarmos estabelecer contacto e o local já estar nas mãos de outro inquilino. Eu não sofri muito com isso porque até nem estou no centro da cidade, mas estejam preparados para ser pacientes. Aconselho também a fazerem logo contacto telefónico, porque nem sempre respondem aos mails. Ou seja, assim que chegarem, arranjem também um cartão SIM irlandês.
Tipicamente os contratos de arrendamento são no minímo de um ano, mas não se preocupem muito com isso: na Irlanda não é ilegal sub-alugar ou re-atribuir o aluguel a outra pessoa. Se depois quiserem ou tiverem de ir embora, “só” tem que tratar de arranjar novos inquilinos. Estejam preparados também para, à cabeça, dar um mês de renda e outro de caução, mas isso também é o normal em Portugal.
Antes de mais, para serem alguém aqui, precisam de um PPS number. O PPS number é um identificador que corresponde ao número de contribuinte/número de segurança social em Portugal. É simples de pedir, bastando apresentar um documento válido (passaporte/cartão do cidadão) e uma morada. É aqui que a porca pode torcer o rabo, porque:
Para ter PPS number, é preciso uma morada
Para fazer um contrato de arrendamento, é preciso um PPS number
Ciclo infinito… a solução? Ou dar a morada de algum conhecido, que foi o que fizemos, ou dar a morada do hotel em que estão alojados, e fazer a alteração para a morada definitiva à posteriori.
Como também interessa que comecem logo a cair euros de proveniência Irlandesa nos nossos bolsos, é conveniente abrir assim que possível uma conta bancária. Aqui também varia: alguns bancos pedem o PPS number e um comprovativo de morada (uma conta, que não temos), outros possuem balcões que aceitam cartas de empresas dos arredores (foi o nosso caso), é uma questão de se informarem.
Pode acontecer também que certas empresas ou senhorios exijam registro criminal, portanto, peçam-no no país de origem antes de virem, e traduzam-no através de um tradutor certificado. Quem for casado e/ou tiver filhos, que traga e traduza também os assentos de casamento e nascimento, pois mesmo que não tragam de imediato as vossas crias, podem pedir logo o Child Benefit, que ainda é 130€ por criança, o que é uma boa ajuda.
Especificamente para Dublin, aconselho também que façam logo um Leap Card, que é um cartão recarregável para andar nos transportes, e que se compra em várias lojas por toda a parte. Sem ele, o sistema é chato: nos autocarros de Dublin os motoristas não aceitam notas nem dão trocos, temos que dar o valor exacto ou ficamos sem troco; apesar de se poder pedir reembolso à posteriori na central, é um sistema muito chato. Essa dica vale para turistas também.
Como se ser pai não fosse uma mudança de vida suficientemente grande estou embarcando em outra, já de seguida.
Tive uma oferta bastante boa para vir para fora, mais concretamente para Dublin, na sede da Ryanair. Trocando por miúdos, também eu me torno (duplamente) emigrante.
A vida gosta de nos pôr à prova: procurei algo do género durante bastante tempo, e só apareceu quando eu nem sequer procurava, com uma bebé recém nascida nos braços.
As minhas princesas não estão vindo de imediato comigo, até a mais pequena crescer mais um bocadinho e eu preparar tudo por cá. Essa parte custa muito, na exacta medida do quanto as amo e do quanto delas preciso. Só nós sabemos o quanto.
O último dia só deu mesmo para apanhar o autocarro e ir embora!
Dublin é uma cidade que vale muito a pena para um short-break, e penso que não mais do que isso, pois percorre-se e vê-se bem em poucos dias, apesar de não ter visto ou feito algumas coisinhas que gostaria, nomeadamente a relíquia que é o Book of Kells, um joguinho de rugby ou de futebol gaélico, um espectáculo musical qualquer que fosse, o Phoenix Park, o interior de algumas catedrais e museus… fica para uma passagem breve quando voltarmos para conhecer mais do resto da Irlanda.
Resumindo, por aquelas bandas podemos encontrar gente alegre, um sotaque castiço, excelentes histórias, boa música, bom ambiente e boa cerveja. Fica pra voltar.
Nesta noite e na do dia anterior ainda estivemos em Temple Bar, a zona noturna mais popular da cidade. Não desfrutamos tanto quanto esperado dos seus pubs por três razões: o cansaço, o orçamento apertado (uma pint custa sempre de 5 euros para cima) e o fato da cidade estar completamente a abarrotar de gente, nomeadamente gente de saias, devido ao Irlanda x Escócia do Six Nations que ocorreu no domingo.
Ainda fizemos uma refeição num destes pubs só naquela de experimentar e por ser “barato” para os padrões (10€ por pessoa com bebida), que só serviu para confirmar que a comida para aqueles lados não é mesmo grande espingarda, um irish beef para a Irina que não sabia a nada, e um bacon roll (estufado e não frito) para mim que a nada sabia.
De qualquer das formas, é sempre uma zona a visitar, os pubs já não são tão tradicionais quanto isso mas contém parte dos seus elementos históricos, é bastante animada (muitas personagens curiosas) e tem músicos de rua a cada 50 metros. Aos sábados de manhã há também feiras de artesanato e de comida, sendo que nestas últimas já se degusta qualquer coisinha de jeito.
Estivemos na Guinness Storehouse, e esta é visita obrigatória para qualquer pessoa, mas ainda mais para quem gosta de uma boa cerveja preta. Bastante memorabilia engraçada da marca, algumas explicações sobre a história e os processos antigos e atuais, e uma pint de oferta, que deve ser preferencialmente bebida no Gravity Bar, o último andar do sítio, com vista panorâmica de 360 graus sobre Dublin. Mais uma vez, nem nos conseguíamos mexer lá dentro com tanto escocês, mas lá deu para beber e ver as vistas.
Descobrimos que trabalhou lá um gajo que me arreliou na faculdade e que ainda arrelia a Irina, William Gosset, que inventou a distribuição estatística T-Student. Ele usou o pseudónimo “Student” porque a Guinness proibia que os seus empregados publicassem papers de qualquer espécie, com medo que divulgassem segredos da marca.
Depois de mais umas caminhadas valentes, uma visita ao St Stephen’s Green e ao Oscar Wilde (The Queer with the Leer ou The Fag on the Crag) no Merrion Square, ouvimos diversas gaitas de foles, saias e verdes e brancos alegres a dirigirem-se ao estádio Aviva. O hooligan reprimido que há em mim não resistiu à imagem de claques verdes e brancas a dirigirem-se a um estádio, e lá fomos atrás deles sentir o ambiente, lamentando não ter bilhetes, fosse para sentir a verdadeira essência da coisa ou para vender a um preço que pagasse a viagem a um dos muitos adeptos desesperados que gritavam por bilhetes.
Uma coisa que não referi na introdução anterior é que andamos sempre a pé, só utilizamos o autocarro para ir e vir do aeroporto. Foram umas valentes caminhadas a esticar as hérnias de me wife, mas é uma cidade altamente “andável”.
Começamos estas caminhadas com uma walking tour de que ouvimos falar no hostel, que é gratuita (yes), e é muito, muito boa. Faz parte deste conceito que já existe em algumas cidades da Europa (para quando uma em Lisboa?) e é realmente excelente. O nosso guia foi o Robbie, e não consigo imaginar que exista melhor; extrovertido, gozão, entusiasta e com um conhecimento histórico enciclopédico da cidade (e das cidades dos “convidados”, apesar de não ter larachas sobre Portugal na manga).
Recebemos uma enorme injeção de informação, da qual vou enumerar apenas algumas curiosidades, as restantes ficam para conferirem in loco:
Os irlandeses são um bocado portugueses
Durante a primeira guerra mundial, os irlandeses, desejosos de obter a independência da Inglaterra (como em grande parte da sua história), foram pedir ajuda aos alemães. Como estes não curtiam os ingleses, enviaram com gosto um barco com 20000 fuzis e 4 milhões de munições. Os alemães, como são alemães, chegaram ao local combinado a horas. Os irlandeses, como são irlandeses, chegaram dias depois, já com os alemães descobertos e capturados pelos ingleses.
O monumento Spire of Dublin (ou The Erection at the Intersection, ou ainda The Stiffy by The Liffey), no meio da O’Connell Street, foi construído tendo em vista as comemorações da viragem do milénio, mas só ficou pronto… em 2003.
Acho que não preciso explicar a comparação.
Os irlandeses não curtem mesmo os ingleses
Conforme referi, sempre que possível, ao longo da história e desde o século XII, lutaram para obter a separação dos ingleses. Atualmente, sempre que podem, fazem piadas sobre eles.
Por exemplo, a Ha’penny Bridge (contração de half penny, o quanto custava atravessá-la) foi construída pela empresa Harland and Wolff, a mesma que construiu o Titanic. Ao contrário deste, a ponte nunca caiu porque não é conduzida by an Englishman.
O Saint Patrick’s Day foi inventado pelos americanos
Ok, não o dia em si, que é dos mais tradicionais (apesar do Saint Patrick afinal nem ter lá nascido) mas a forma como é atualmente celebrado. Até há cerca de 20 anos atrás, era um feriado estritamente dedicado à religião, sendo o único dia a par do Natal em que os pubs não podiam abrir. Os emigrantes irlandeses em Nova Iorque, Boston e afins começaram a usá-lo para beber até vomitar, e os que lá ficaram agradeceram quando o governo se rendeu.
É semana que vem e quase já não se fala em outra coisa.
Os U2 são vingativos
Os U2 são donos de vários pubs e outras propriedades em Dublin. Reza a lenda que, após um dos primeiros ensaios da banda, o Bono e o The Edge estavam à procura de um sítio sossegado para beber um copo e tentaram fazê-lo no The Clarence Hotel. Foram expulsos pelo funcionários, que alegaram que eles não eram do tipo de pessoa que mereciam ser servidas no Clarence. Eles fizeram um escândalo e prometeram que, quando fossem ricos, comprariam o hotel e despediriam os funcionários. Cumpriram.
Gravaram lá no telhado o clip de A Beautiful Day.
O Castelo de Dublin não é um Castelo
Neste momento o Dublin Castle é simplesmente um conjunto de edifícios dispersos, sendo que a única parte remanescente da original construção de meados de 1200 é uma torre, a Record Tower, que serviu de prisão e proporcionou uma fuga à La Shawshank Redemption de Red Hugh O’Donnell (eles pronunciam Redju).
Tem também uma “senhora justiça” que ao contrário do habitual, não está vendada (não é cega), tem uma balança que pende mais para um lado quando chove e que está de costas para a cidade. Segundo dizem, personifica bem a (in)justiça irlandesa, ou para terminar:
There she stands at her station, with her eyes to the ground and ass to the nation.