Já foi a semana passada, mas parece-me que esta notícia passou em claro cá em Portugal.
Ele mesmo, o próprio: “Tradução brasileira, Herbert Richers”. Essa frase é imortal.
Kitt, Esquadrão Classe A, Tartarugas Ninja… A nossa infância tá a morrer.
Já foi a semana passada, mas parece-me que esta notícia passou em claro cá em Portugal.
Ele mesmo, o próprio: “Tradução brasileira, Herbert Richers”. Essa frase é imortal.
Kitt, Esquadrão Classe A, Tartarugas Ninja… A nossa infância tá a morrer.
A tagline na capa deste livro diz “If you like football read it. If you don’t like football read it“, e é bem verdade. Sempre fui um bocado desconfiado em relação à mistura entre estes dois mundos (o futebol e a literatura), mas este livro é muito, muito bom.
O autor, Simon Kuper, é um jornalista desportivo que percorreu 22 países no início da década de 90 tentando perceber de que modo o futebol influenciou os aspectos políticos e culturais de cada país (e vice-versa). Foi uma altura boa para fazê-lo, pois ainda estavam bem frescas as quezílias entre os países dos balcãs, a queda do muro de Berlim, o fim do apartheid, os resquícios da ditadura argentina, e etc.
Obviamente que o futebol é o protagonista e o livro tem mais valor para quem o ama, mas aprende-se tanto sobre a história mundial que o futebol acaba por ser um “extra”. Vou dar só uma pequena achega.
Ficamos a saber, por exemplo, a origens dos clubes da união soviética: O Dynamo era o clube do KGB, o CSKA do exército, o Torpedo da Zil, o Lokomotiv dos caminhos de ferro e o Spartak de quem pretendia permanecer neutro, pois não possuía nenhum apoiante oficial. Era o clube do povo. O seu fundador, Nikolai Starostin, foi jogador e campeão de hóquei no gelo e futebol, capitaneou e treinou o seu país nos dois desportos e era o ódio de estimação de Lavrentiy Beria, chefe da polícia secreta de Estaline e um dos presidentes do Dynamo.
Após anos de espera, Starostin foi finalmente preso, sob a acusação de planear o assassinato de Stalin. Foi ilibado das acusações de tentativa de assassinato, mas ainda assim condenado, com os 3 irmãos, a 10 anos de confinamento na Sibéria, onde tinha uma vida privilegiada e foi se safando por diversas vezes de ser executado por ser o treinador de futebol dos Gulags por onde passava.
Outra história interessante, mais tarde mas ainda a leste. Quando o Muro de Berlim foi erguido, o estádio do Hertha ficava a poucos metros do mesmo, e o pessoal do leste que era fã pendurava-se lá para ouvir os golos. Obviamente que os guardas começaram a carregar neles, até que o próprio Hertha mudou-se para o mais afastado estádio olímpico. Não os dissuadiu. Foi criado um clube de adeptos clandestino para obter informações e tentar acompanhar alguns jogos de equipas ocidentais mais a leste. Durante anos estes fãs foram perseguidos, torturados e encarcerados pela Stasi nestas desventuras.
Depois que o muro caiu, o primeiro jogo do Hertha em casa levou 60000 pessoas, mesmo estando na segunda divisão. O seguinte, apenas 16000. O motivo? Os adeptos que tão humilhados foram ao longo dos anos, depararam-se com os chefes da Stasi e do Partido Comunista que lhes perseguiram na bancada VIP do estádio, e sentiram-se defraudados.
Há muito mais para contar, das experiências científicas do fortíssimo Dinamo Kiev dos anos 70 e 80, em que a equipa era escolhida pelo professor Zelentsov e os seus rigorosos testes psicotécnicos, a origem do catenaccio italiano com Helenio Herrera, as ligações do Real Madrid ao regime Franquista, os rituais macabros e meandros obscuros do futebol africano, os milhões gastos pelos militares argentinos para organizar o mundial de 78 (e tentar desviar as atenções das atrocidades que cometiam), o fanatismo dos católicos e dos protestantes na defesa do Celtic e do Rangers e por aí vai.
Read it! Now!
Desde que me conheço como gente que esperava que calhasse o Costa em sorteio ao Sporting. Palavra de honra. Mais um sonho concretizado.
Pastéis de belém, Sporting a jogar com o Costa, benfinca a ser encavado na luz. Há dias perfeitos.
Esta peça compensa plenamente o dinheiro do bilhete e uma tremenda molha na baixa. É a primeira peça portuguesa em que saio do teatro satisfeito.
É impressionante como uma ideia tão simples consegue ser tão bem desenvolvida. Dois chefs numa cozinha, o frenesim da busca do prato perfeito e uma divergência entre o tradicionalismo da natureza e da arte e a mecânica da ciência e da tecnologia (tanto poderia ser culinária quanto outra coisa qualquer). Uma hora e tal de magia, tanto na escrita quanto na interpretação.
Que o Gonçalo Waddington era um actor do caraças já eu sabia, do Tiago Rodrigues sequer tinha ouvido falar. Dois monstros. Há lá 10/15 minutos de discussão (e de humor) entre os dois de uma entrega tal que até arrepia, do melhor que já vi.
Acho graça a certas pessoas saírem do teatro ofendidas quando se intensificam os caralhos e os foda-se. Quando bem empregue, o vernáculo é sempre digno e justificado.
Até dia 22 no São Luiz, e tá barato. Conselho de amigo.
Não gosto de seguir a tendência misericordiosa do elogio fúnebre. Na hora da morte, todo o finado costuma ser bom homem. No entanto, dado o estado das coisas, sou obrigado a agradecer a Paulo Bento.
Com os defeitos e limitações que tem, foi ele que deu a cara, o peito às balas, a carne pro canhão e tudo o mais que possa ser dito. E, como não podia deixar de ser, foi ele que teve que tomar a decisão derradeira. É um homem de bem e tem-los no sítio. Mas adeus, que já se fez tarde.
A ver se o pessoal lá de cima segue impune, fumando a sua cigarrilha e comendo o seu croquete.
Já tá óline aquela coisinha que anda a passar na RTP a ensinar astronomia.
Até a falar de cometas o Sérgio Godinho emana poesia (nesta parte o irmão do Jel dir-me-ia para deixar de mamar no homem).
Cometas from 1MinAstronomia on Vimeo.
Acho que ainda gostei mais deste espectáculo do que estava à espera.
Nunca tinha visto nenhum dos três ao vivo. Acho que tinha um certo medo. Sem grandes rodeios, medo da velhice deles. Mas é muito diferente ser do passado, e ser intemporal.
As vozes são as mesmas e, principalmente, o gosto de ali estarem a cantar é o mesmo. O Zé Mário Branco disse que a única coisa que poderia dizer era: “estou tão contente”. E estava. Poucas pessoas se entregam a cantar com tanta emoção como este senhor: parece que o mundo vai acabar a qualquer momento.
Sérgio Godinho igual a si mesmo, fresquíssimo, tremendamente à vontade a brincar com as palavras e com o momento, e a ser o primeiro a arrepiar com “O Primeiro Dia”.
Não conhecendo bem as obras mais recentes do Fausto, fiquei contente de ver que ele mantém a língua afiada (sempre a contrastar com a suavidade da voz). Mas o que realmente me encheu as medidas foi ouvir “Como um sonho acordado”. A simplicidade destes versos assombra:
“Meu amor quando eu morrer
Ó linda
Veste a mais garrida saia
Se eu vou morrer no mar alto
Ó linda
Eu quero ver-te na praia
Mas afasta-me essas vozes
Linda
Tens medo dos vivos
E dos mortos decepados
Pelos pés e pelas mãos
E p’lo pescoço e pelos peitos
Até ao fio do lombo
Como te tremem as carnes
Fernão Mendes”
É bom relembrar o quão bela é a música e a língua portuguesa. Definitivamente, fez-se história neste encontro. Comprovem no CD ao vivo que será lançado.
Orfeu Negro foi o único filme de língua portuguesa a ganhar um Óscar de Melhor Filme Estrangeiro. Digo de língua portuguesa, e não brasileiro, porque oficialmente foi considerado como sendo um filme francês, por causa do seu realizador, Marcel Camus, e de uma das suas produtoras. Assim o foi com a Palma de Ouro e com o Globo de Ouro; já o Bafta decidiu atribuir também o mérito a quem de direito.
Pouco importa: é cinema brasileiro, e de uma era em que esse cinema dava cartas sem necessitar de disparar um único tiro ou proferir algum palavrão. Uma era em que a favela era só morro, e o Rio merecia plenamente o epíteto de Cidade Maravilhosa.
É um filme que poderia ser visto de olhos fechados, tamanha a qualidade da banda-sonora do mestre Antônio Carlos Jobim e Luiz Bonfá (prelúdio da bossa nova que estava nascendo), e a intensidade do samba que rola praticamente constantemente ao longo das quase duas horas de filme. Mas o melhor mesmo é mantê-los bem abertos, e desfrutar da explosão de cor (ou eastmancolor) com que o Rio antigo e os seus habitantes são retratados.
Penso até que o tal do Camus ficou demasiado vidrado pelo Rio e pelo samba e esqueceu que estava fazendo um filme, com tanta sequência de longos minutos em que só se vêem pernas frenéticas balançando e corpos suando de um lado para o outro. Compreensível e perdoável, provavelmente aconteceria a qualquer um.
A história é uma adaptação (bastante) livre da tragédia grega de Orfeu e Eurídice, adaptada à realidade carioca. Tragédias gregas são temas recorrentes na música e dramaturgia brasileira (vide a Gota D’Água do Chico), sendo o próprio filme inspirado numa peça de Vinicius, Orfeu da Conceição. Não sei quem foi o primeiro a encontrar a ligação entre as tragédias gregas e o Carnaval carioca, mas a fórmula provou ser brilhante.
Todo ele é exuberância, ingenuidade, e completa demonstração do que é a insanidade daquele Carnaval. É sem dúvida um retrato demasiado romantizado e lírico, mas que não deixa de exercer enorme fascínio.
Não percebo como a carreira da belíssima Marpessa Dawn (que não era brasileira) não deslanchou em seguida: ela nem precisava falar para encher a cena, tamanha a simplicidade e beleza dos seus gestos.
Parafraseando e repetindo, o simples já é de si complexo. E faz cada vez mais falta.
Grande noite de sexta. É a primeira vez que vejo o homem ao vivo, e só posso recomendar a quem tiver a oportunidade de fazê-lo, que não a perca.
O Jorge Mário é neste momento um dos artistas brasileiro em melhor forma. Ele agora viaja com uma banda de 14/15 elementos, o que o deixa ainda mais solto em palco. Soltíssimo, sempre.
Começou muito calminho, os hits mais recentes América do Norte, Trabalhador Brasileiro, a banda e o público meio que estranhando, mas aos poucos foi aquecendo para duas horas e meia electrizantes.
A determinado momento, Seu Jorge pergunta por um fã que tinha lhe “passado um e-mail pedindo um favor”, e pede-lhe que sobe ao palco. O objectivo do homem era pedir a amada em casamento, e foi cumprido, com direito a champanhe e tudo. Moral.
A partir daí foi sempre em crescendo, começando com Seu Jorge sozinho na guitarra esgalhando aquelas belas versões do David Bowie (acho que desta vez foi Live on Mars e Rebel, não houve a minha preferida sufragette city), e passando pelos momentos que mais gostei: o clássico de Leci Brandão, Zé do Caroço, e a libertadora adaptação do Chatterton do Gainsbourg (PUTA QUE PAAAARIUUUUUUU!). Relembrar Carlinhos Brown com “a namorada” também foi bonito.
Ficou provado que os melhores momentos são sempre os mais simples. No caso de Seu Jorge, o simples já é de si complexo, com aquela música retalhada de samba, bossa nova e soul.
Houve direito a um momento especial de três elementos da banda, o “trio preto”, brincando com três pandeiros. Muito banal, mas o suficiente para deixar os tugas malucos.
Aos apelos para que não abandonasse o palco, Seu Jorge respondeu com um inusitado carnaval de outono: um mix de todas as músicas bregas de carnaval: mamãe eu quero, maria sapatão, etc. Os tugas enlouqueceram, uma vez mais. Venham outras.
Agora que tenho a certeza absoluta, cá vai o tema da minha tese de mestrado: Métodos de Criação, Avaliação e Extensão de Ontologias para Descrição de Comunicações em Contexto de Organizações.
Antes de mais, acho melhor explicar o que é uma ontologia e para que serve, não é? Vou tentar não me alongar muito.
Epá o que é que existe? O que é que não existe?
O conceito de ontologia surgiu já na Grécia Antiga, sendo logia o estudo, e onto do ser. No sentido metafísico, é o ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, questiona o que existe e o que não existe, e de que modo podemos agrupar as entidades existentes.
A nível das tecnologias de informação, uma ontologia constitui a representação formal de um conjunto de conceitos de um determinado domínio e as relações entre eles, com o objectivo de representar o conhecimento e de permitir inferência lógica a partir dele.
Tal é alcançado através de, entre outros, o uso de objectos, classes, relações e propriedades, em linguagens como o OWL. Suponhamos eu: sendo o objecto Ygor, pertenceria à classe das Pessoas, e teria a propriedade de ter olhos verdes. Estaria ligado por uma relação “adepto” ao Sporting, que seria um objecto da classe Clube de Futebol, Futebol esse que é um objecto da classe Desporto, e por aí adiante.
As ontologias constituem uma das bases para o que vem sendo a Web Semântica (também lhe chamam 3.0); é através das ontologias que se especificam as conceptualizações (significados) da informação, tornando-a semanticamente rica, extensível e, fundamentalmente, perceptível, tanto por nós (humanos) quanto pelos computadores, que é a grande novidade: o texto aos “olhos” de uma máquina deixar de ser apenas texto, e passar a ter significado.
Uma das coisas que me motivou foi que esta será à partida uma tese com utilidade, na medida em que está integrada num projecto duma solução de software de gestão de um centro comunicações (ECC – Enterprise Communications Center), sendo por isso abrangida por uma bolsa de investigação.
O que eu vou fazer, basicamente, é modelar ontologias que se adequem ao contexto específico das comunicações em questão (cartas,telefonemas,e-mails,vídeo-chamada,etc), dos seus interlocutores e das suas organizações, tentando fazê-lo de modo a que seja tudo facilmente extensível a outros domínios e estabelecendo metodologias e técnicas próprias para esse efeito. Essas ontologias servirão de base para encaminhamento automático das comunicações, pesquisa, obtenção de resultados e navegação na aplicação.
Wish me luck.