Categoria: Cinemadas

  • Ted

    Tenho andado a falhar nas reviews de filmes, já vi este há quase um mês e nada disse. Mas muito gostei, como há já algum tempo não gostava de uma comédia à americana.

    Nesta em particular, a história centra-se à volta da amizade entre um rapaz e o seu urso de peluche, que ganha vida após o puto fazer um pedido. Os dois vão crescendo juntos, e às tantas são dois trintões que se recusam a crescer, sendo o urso o expoente máximo da vadiagem e do politicamente incorrecto, atrapalhando a todo o momento a já problemática vida amorosa e profissional do comparsa.

    Primeiro que tudo, não sou fã do Family Guy. Os desenhos enervam-me e noto que muitas vezes as situações são semelhantes a outras que vi nos Simpsons. O humor aqui empregue segue de forma mais ou menos óbvia a mesma linha, mas parece-me mais original, mais certeiro, e estranhamente mais plausível (!).

    É preciso coragem para arriscar uma ideia destas dada o panorama das comédias que fazem sucesso atualmente, e só pela originalidade o filme já ganha muitos pontos. Mas o seu forte principal é a forma como rapidamente “desprende” o enredo do urso. Podia ser um gajo qualquer que ali estava, mas é um urso.

    Bom devaneio.

  • This Must Be The Place

    Parece que não fez grande sucesso, mas eu gostei muito deste primeiro filme em inglês do Paolo Sorrentino. De quase tudo, mas principalmente da originalidade da história. Sean Penn encarna e bem a figura ridícula de Cheyenne, uma estrela de rock reformada, desiludida e completamente desapegada do mundo atual. Após a morte do pai, descobre que este passou a vida inteira à procura do seu torturador nazi, e decide retomar essa perseguição.

    Um ponto de partida que parece absurdo mas que é bastante mais plausível do que possamos pensar à primeira vista, o que vamos vendo enquanto vamos acompanhando a jornada e remoendo os fantasmas do passado, da família e do showbiz, sem grandes dramas ou moralismos.

    Os road movies andam a fazer falta. E a música que lhe dá nome não me sai da cabeça.

     

  • Capitães da Areia

    Não acho que este filme faça de todo jus à obra-prima de Jorge Amado nem ao cinema Brasileiro, mas não deixa de ser entretenimento saudável.

    Salientando que não é um mau filme, e que é de louvar a (não inédita e comprovadamente bem sucedida) opção por adolescentes de ONG’s para protagonizarem-no, não é marcante nem mágico, é apenas uma sucessão competente de alguns dos elementos base do livro e das diferentes estórias que o compõem, com uma realização segura mas sem chama, muito à moda de videoclipe ou spot publicitário para o meu gosto.

    Além dos jovens atores, quem está de parabéns é o Carlinhos Brown e a banda-sonora que, essa sim, acaba por acrescentar muito ao filme. Mas a conclusão maior que fica é… leiam o livro, se ainda não o fizeram.

  • Intouchables

    Um filme com temática bem mais ligeira do que aquele do qual falei anteriormente, mas tão ou mais brilhante dentro do seu género.

    Um jovem senegalês acabado de sair da prisão procura apenas comprovativos de entrevistas para receber o subsídio de desemprego, mas torna-se quase a contragosto auxiliar de um milionário quadriplégico. Aos trancos e barrancos vão desenvolvendo uma grande amizade, e acabam por mudar as vidas um do outro.

    As melhores qualidades desta comédia são a sua espontaneidade (é difícil de acreditar que o ator Omar Sy não seja mesmo assim na vida real) e a desdramatização, a forma natural e desprendida com que se tratam de assuntos delicados, conseguindo emocionar-nos sem recurso a demasiados clichés ou frases forçadas. Não brincar com assuntos sérios pode ser muito mais desrespeitador do que fazê-lo.

    Não dou muito tempo até que surja um remake parvo de Hollywoood…

  • We need to talk about Kevin

    Surpreendido com o primeiro filme que vejo desta realizadora escocesa.

    Kevin é um dos fantasmas dos tempos modernos, um jovem sociopata autor de um massacre na sua escola secundária. O filme alterna entre o limbo em que a sua mãe vive no presente, e o mosaico de memórias e culpas que carrega do passado, durante o crescimento da criança, e mesmo antes do seu nascimento, quando ela não o desejava.

    Falta de amor, de acompanhamento? Ou inevitavelmente o miúdo iria tornar-se um monstro? Não há respostas, até porque o filme é um exercício quase completamente visual, com poucos diálogos e com muito mais violência psicológica do que física (o massacre nunca é verdadeiramente mostrado, por exemplo).

    Uma Tilda Swinton destroçada de forma espetacular, o puto Ezra Miller a cumprir o seu papel de forma absolutamente perturbadora e o resto é trabalho de realização e cinematografia para compor o ramalhete de uma obra bastante interessante.

  • J. Edgar

    Depois do duvidoso Hereafter, este biopic sobre o polémico pioneiro diretor do FBI mostra que o Clint Eastwood não entrou em espiral descendente. Não sendo um filme arrebatador, é um retrato interessante de uma figura bastante polémica, brilhantemente interpretada pelo DiCaprio.

    Com tanto material e especulação à volta do homem, seria muito fácil ao realizador enveredar pelos caminhos da glorificação da personagem ou das teorias da conspiração, mas o que vemos é um retrato que não toma qualquer posição, mostrando simplesmente o percurso atribulado de um ser humano complexo, tanto ambicioso e egocêntrico quanto inseguro e anti-social.

    Só acho que se insiste um bocado em demasia na dúvida do closet case (no popular, bicha enrustida) que ele seria, mas não faz com que deixem de ser duas horas bem passadas.

  • War Horse

    Parafraseando um animal, este filme seria um grande filme se não fosse tão piegas. Mas uma pieguice pegada também faz bem de vez em quando, e é um bom filme para ver no domingo à tarde.

    Em mais um incursão britânica do Spielberg (e segundo o próprio, o primeiro filme britânico que fez), é aqui contada a história de um adolescente do condado rural de Devon, que após tremendo sacrifício na criação e treino do seu cavalo de estimação, é obrigado a vendê-lo para a cavalaria, para servir sua majestade quando a primeira guerra mundial deflagra.

    À medida que os anos vão se passando diversas peripécias vão se sucedendo com o bicho, que passa de mão em mão até que o seu destino se cruza novamente com o do seu verdadeiro dono, que é igualmente obrigado a partir para a batalha quando a idade chega.

    A fotografia é espetacular, a mão do mestre não treme em cenário de guerra e o ator principal é mesmo o cavalo.

  • Moneyball

    Sem dar cavaco àquele famoso conjunto de estatuetas de um homemzinho que levou com um golden shower, acho que este filme é dispensável. Ou melhor, só não o é se formos americanos ou fãs de baseball.

    O filme fala sobre Billy Beane, diretor dos Oakland Athletics que, não possuindo os mesmos meios financeiros das equipas com que compete, decide apostar nas teorias de um jovem economista de Yale, que escolhe jogadores à partida falhados com base em dados estatísticos.

    Não percebo sequer o que motiva produzir um filme dum gajo que ainda está atividade, que não ganhou nada de especial e cujo maior mérito é ter “mudado o jogo” a nível económico, ou seja, acabando por desvirtuar um bocado a verdadeira essência do mesmo, havendo muito pouco azo às cargas emocionais que normalmente funcionam nos filmes deste tema.

    Ainda assim, sendo o ator que é, o Brad Pitt acaba por fazer um bom trabalho, mas quem sobressai mesmo é o seu coadjuvante Jonah Hill, o melhor do filme.

  • The Girl With The Dragon Tattoo

    O género thriller está bem e recomenda-se, com mais um bom exemplar da espécie neste The Girl With The Dragon Tattoo, adaptação do primeiro livro da trilogia Millenium, do sueco Stieg Larsson.

    Um famoso jornalista une-se a uma sombria e problemática hacker, na investigação ao desaparecimento de uma adolescente há 40 anos atrás, a pedido do milionário tio desta.

    À medida que se embrenham no passado e vão descobrindo os podres da família, o caso vai se tornando mais bicudo, sempre a um ritmo frenético, só temperado pelo tom extremamente sombrio (quase a preto e branco) com que foi filmado.  E ao contrário do “filme do facebook”, gostei muito do trabalho do Trent Reznor na banda-sonora deste.

    Além de ser a adaptação do livro, o filme é também um remake, de um filme sueco recente que já tinha agarrado na coisa. É criticável? Pode ser (e é, por muita gente), mas repito a opinião que já formulei aqui mais que uma vez, a ser feito assim, de forma competente e com qualidade, só pode ser considerado positivo e vinha fazendo falta em Hollywood, o Fincher que continue a explorar o filão dos blockbusters decentes…

  • Warrior

    Esqueçam The Wrestler, esqueçam The Fighter, Warrior é o melhor filme sobre lutas desde Million Dollar Baby.

    Um pai/treinador alcoólatra (standard Nick Nolte) e dois irmãos a lutarem para tentar ganhar um torneio de Mixed Martial Arts em busca de redenção/honra a demonstrarem o quanto um bom e velho cliché sempre tem lugar, quando nas mãos certas.  E que o Tom Hardy tem tudo para ser um grande Bane no próximo Batman.

    Acho que nunca se julgou que uma história sobre MMA podia deixar tanta gente de lágrima no olho.