Cinemadas

Entre Abelhas

Entre Abelhas é um filme realizado pelo Ian SBF e escrito por ele e pelo Fábio Porchat, que também é o protagonista.

Sendo eles duas das cabeças do Porta dos Fundos, seria de esperar uma comédia desgarrada ao estilo daquilo que a que o grupo nos tem habituado, mas este é um projecto pessoal que foge bastante desse registo.

Na verdade é um drama que acaba por se tornar divertido porque eles não conseguem deixar de ser naturalmente engraçados, mas nota-se que o objectivo principal não era esse.

O personagem central é Bruno, um editor de vídeo que acaba de se divorciar e de repente começa simplesmente a deixar de ver as pessoas que o rodeiam, a pouco e pouco. Tudo o resto gira à volta da sua tentativa desesperada de perceber e tentar contrariar o que está acontecendo.

Não é um grande filme, mas é uma história diferente, divertida e muito bem contada.

 

Standard
Cinemadas

Big Eyes

Um filme diferente de Tim Burton, por diversos motivos. Não há repetição dos seus actores e actrizes fetiche, não há um ambiente gótico e de cores sombrias, e até é um argumento baseado numa história real.

Não é, contudo, uma história real qualquer; é uma história boa demais para não ser contada por alguém como Burton.

Durante os anos 50 e 60, uma série de quadros invulgares de crianças com olhos gigantes fez um sucesso estrondoso. Os quadros eram assinados por Walter Keane, mas na realidade quem os pintava era a sua mulher Margaret, prisioneira da voracidade comercial do seu marido e refém da sua própria arte durante muito tempo.

O que acabei de dizer acima parece um grande spoiler, mas está presente no próprio trailer e não diminui em nada a experiência do filme, cujo grande mérito é mostrar toda esta realidade quase como se de um conto se tratasse, indo do sonho cor-de-rosa com que Walter envolve Margaret de início, à beira da loucura em que ambos mergulham à medida que a mentira se adensa.

Longe de ser brilhante, é impecável e eu gostei bastante. Até da musiquinha da chata da Lana del Rey eu gostei.

Bateu uma vontade imensa de ver um filme dele sobre os quadros do Menino da Lágrima!

 

Standard
Cinemadas

Whiplash

whiplash

Não tinha reparado que este filme estava nomeado para os Óscares, mas todo e qualquer reconhecimento que venha a ter é merecido.

Um jovem baterista entra num reputado conservatório musical com o intuito de ser o melhor músico da sua área. Esse desejo é exponenciado por um professor implacável e obsessivo, que o leva a ultrapassar todos os seus limites físicos e psicológicos de forma a tentar alcançar o patamar que pretende.

Apesar do filme gravitar à volta do personagem principal, a sombra perturbadora do mentor paira sobre este a todo o momento, num trabalho simplesmente perfeito dos dois atores.

Assim como a premissa é simples, também o é a sua execução, impecável em todos os aspectos. Em crescendo, o ritmo frenético da bateria de Andrew guia o filme e o espectador até um clímax final absolutamente brutal.

Whiplash!

Standard
Cinemadas

Canais do Tube #2 – Troma Movies

yetigaylovestory

A Troma é uma produtora de filmes séries B que anda aí desde 1974, quando Lloyd Kaufman e Michael Hertz concretizaram o seu sonho de criar uma produtora independente e com liberdade total para espalhar sangue e entranhas pelos ecrãs de espectadores incautos.

Mais que isso, o objetivo da Troma nunca foi simplesmente o do lucro fácil, mas sim deixar verdadeiramente uma marca no seu género.

Provando que é diferente, há cerca de dois anos a Troma começou a disponibilizar de forma integral e gratuita no seu canal oficial do Youtube centenas de filme do seu espólio, para gáudio dos fãs.

Não tenho tempo (nem tanta devoção) para ver a maior parte deles, mas só de ler alguns títulos que aparecem na sua atividade já fico deliciado com a criatividade bizarra:

YETI: A Gay love story

Farts of Darkness

Buttcrack!

Surf Nazis Must Die

A Nymphoid Barbarian In Dinosaur Hell

Sempre que se sentirem em baixo, vão ao canal da Troma e escolham um filme aleatoriamente. De nada.

 

 

Standard
Cinemadas

The Wolf of Wall Street

Tendo o Martin Scorcese uma história destas nas mãos, o seu ator fetiche a protagonizar e sem uma grande produtora a censurar a depravação que esta envolve, este filme não tinha como correr mal.

Sexo, drogas e Wall Street, sendo Wall Street apenas um veículo e a parte menos importante da equação. O foco principal é a ganância humana e a forma como o dinheiro pode corromper e transformar o ser humano, sendo o ser humano no caso Jordan Belfort, um corretor da bolsa que começou por fazer dinheiro com negócios envolvendo transações de ações de valor duvidoso, engrupidas através do seu estilo comercial hipnotizante e agressivo.

Inicialmente confinadas a essas acções de baixo valor (Penny Stocks), a certa altura as artimanhas de Belfort dão o salto para Wall Street e são extrapoladas para quantias estratosféricas, gerando uma fortuna para si própria e para a sua empresa.

A partir daí é o descambar total; drogas e putaria a torto e a direito, a todo o momento e instante, e um sentimento de impunidade e de que não há limites para aquilo que conseguiam alcançar.

Esse estado de espírito é incutido na montagem, injetando uma adrenalina (e até uma filmagem “turva” impagável nos momentos de maior moca) quase constante nas quase três horas que compõem o filme, até, claro, declínio final.

O filme pode ser acusado de ser imoral ou amoral por culminar com um final “feliz” para o bandido, mas não faz mais que mostrar a realidade e um relato cru do que se passou. Mais ainda, se formos pensar bem no assunto, este é apenas um dos casos que veio a público e que sofreu algumas consequências; imaginem-se todos os outros que ocorreram e continuam a ocorrer e a gerar buracos…

Standard
Barrigadas, Cinemadas

Os Quindins de Iaiá

Ontem minha amada se lembrou de fazer quindins. Maravilhosos como não podiam deixar de ser, me adoçaram mas deixaram nela um amargo de boca, porque estou até agora cantando “Os quindins de iaiá”. As palavras dela foram exatamente “nunca mais faço isso”. Se arrependimento matasse…

O filme desse vídeo acima é o The Three Caballeros, “A Caixinha de Surpresas” em Portugal e “Você já foi à Bahia?” no Brasil. Tive uma cassete VHS com esse filme que gastei quase até à exaustão quando era pequeno. Aguardo ansiosamente que a Carol cresça mais um bocado para repetir mais umas milhentas visualizações.

Obrigado me love, pelo doce e pela nostalgia gostosa.

Standard
Cinemadas

12 Years a Slave

Um dos filmes de que se fala e com toda a razão, que brutalidade. Ainda é só o primeiro filme que vejo em 2014, mas duvido que saia do meu top pessoal dos vistos no ano.

O maior mérito do filme e do realizador Steve McQueen é a forma crua com que apresenta uma história (real) que tinha todos os ingredientes para ser um dramalhão sentimental de primeira. Nada de banda sonora lamechas ou incentivos fáceis à lágrima, a história em bruto como ela é, acompanhada por um trabalho de fotografia sóbrio e belo na sua melancolia ligeira.

Um músico e pai de família nova-iorquino é iludido por dois pretensos artistas para tocar numa companhia circense, que não mais é que um logro para vendê-lo como escravo em Washington, a que se segue um calvário de, como o título indica, doze anos em cativeiro.

A intensidade do sofrimento do protagonista é ainda mais agonizante por ser tão contida, numa interpretação de génio de Chiewetel Ejiofor. Em contraposto e em semelhante brilhantismo está o temível patrão personificado por Fassbender, que deve ter tido dificuldades para dormir à noite depois de algumas das cenas deste filme.

A ver, rever e a mostrar nas escolas.

Standard
Cinemadas

A minha escolha de Halloween

Female Vampire

A minha escolha cinematográfica de Halloween este ano não é cá Evil Dead, Pesadelo de Elm Street, Carrie, The Shining ou episódio especial dos Simpsons ou do American Horror Story. Female Vampire.

Há coisas que arrepiam. Uma condessa vampiresca chamada Irina que habita um hotel na Ilha da Madeira? Como o Jess Franco poderia saber que estava fazendo um filme perfeito para mim, que só nasceria 13 anos depois?

Obrigado ao excelente site My Two Thousand Movies pelo achado, e ao não menos notório Rare Cult Cinema pelo poster.

Standard
Cinemadas

Les Misérables

Javert Valjean

Não, eu não deixei de ser consumidor voraz de cinema depois de ser pai! O ritmo abrandou um pouco, e ainda não consegui ver um filme todo de seguida sem paragens desde que a minha princesa nasceu, mas se não é de seguida é em três ou quatro vezes.

Um dos últimos que vi foi este Les Miserables, o famoso musical baseado na obra de Victor Hugo, apresentado aqui em versão hollywoodesca pelas mãos de Tom Hooper, de quem sou fã não tanto pelo Discurso do Rei mas pelo excelente The Damned United.

O ponto prévio é: se não gostam de musicais, não vejam. Podem não gostar e tentar de vez em quando, mas este é verdadeiramente um filme musical, na medida em que não existem de todo diálogos que não cantados. Mais: todas as músicas são cantadas ao vivo, contrariando a tendência de, em cinema, gravar-se à priori e dublar-se em cena. É um pormenor que faz toda a diferença na autenticidade e na força com que nos atinge.

Já eu adoro musicais, e tenho pena que seja um género quase morto, com uns fogachos aqui e ali. Vejo um e fico umas boas semanas com as músicas na cabeça, cantando no banho e na cozinha, e agora com uma certa menina no colo, adaptando The Confrontation em versão calminha lullaby. Tipo estes gajos abaixo, mas baixinho, calmo, e com uma bebé olhando para mim tipo “este gajo é parvo”.

Aqui, os “verdadeiros” dando um cheirinho.

Bom, achei este musical em particular bastante bom, com destaque para todas as cenas que envolvem o caminho de redenção do protagonista Jean Valjean, o ex-prisioneiro em busca de levar uma vida cristã, e em particular para as que o opõem ao seu antagonista Javert, o homem da lei que teima em persegui-lo ao longo dos anos. Já sabia que o Hugh Jackman dava uns bons toques na cantoria, mas não que o Russel Crowe também (curioso serem dois australianos a representarem… dois franceses). Aliviando o drama, o Sascha Baron Cohen (Master of The House!) e a Helena Bonham-Carter estão absolutamente brilhantes no papel do inefável casal de estalajadeiros.

E não, não é lapso, não incluo mesmo a Anne Hathaway em modo Liza Minelli nos momentos alto do filme. Canta, sofre, esfola-se… mas não acho isso tudo, e perde-se no meio de outros momentos. Não ajuda a música andar muito batida. Desculpa, Anne! Boa sorte.

Standard
Cinemadas

Django Unchained

vlcsnap-2013-01-14-21h51m08s236

Vale sempre a pena esperar por um filme do Quentin Tarantino. Esta frase continua inteiramente verdadeira. Diria até reforçada, depois deste Django Unchained.

Se ele já tinha atacado o género Blaxploitation em Jackie Brown, aqui decide misturá-lo com um dos que lhe faltavam na filmografia: o western. Ou o southern, já que o cenário é todo sulista.

Nos Estados Unidos de 1858, Django era mais um escravo sem qualquer esperança de salvação, até ser resgatado por um caçador de cabeças alemão, que precisa dele para reconhecer visualmente os seus próximos alvos. Inicialmente “contratado” somente para esta missão, Django vai aprendendo o ofício e se tornando um exímio pistoleiro, tendo em vista o objetivo derradeiro de salvar a mulher, de quem fora separado à força.

Vários ingredientes básicos de filmes de ação à antiga misturados: separação à força da família, sede de vingança, associação de uma dupla improvável… tudo misturado numa panela cheia de sangue e referências históricas (e cinematográficas).

Além da estilizada violência gráfica, a narrativa e os típicos diálogos tarantinescos, o que realmente dá um toque extra ao filme, é a plausibilidade dessa violência, no período retratado. Tanto a física quanto a verbal, aliás (a palavra Nigger é dita ou cuspida mais que uma centena de vezes). Motivo de incómodo para muita gente que gosta de lavar a história com paninhos quentes.

O filme gira à volta de Django e o Jamie Foxx se assume o homem perfeito para o cargo, mas há varias outras personagens brilhantes, com a de Cristopher Waltz mais uma vez à cabeça. É também o melhor papel do Samuel L. Jackson num filme do Tarantino, depois de Pulp Fiction. Um velho servo negro profundamente racista (contra a sua própria raça), impagável.

Depois há também as pequenas lições de cultura geral. Para mim, e acredito que para grande parte da minha geração, a palavra Mandingo só remetia o meu cérebro para referências pornográficas. O filme lava isso. Obrigado.

Já me alonguei mais que o costume, portanto, o resto fica para verem. E ouvirem, que a banda sonora é, mais uma vez, outro espetáculo à parte.vlcsnap-2013-01-14-21h51m08s236

Waiting for a Tarantino movie is always worth it. This statement remains absolutely true. I would add truest, after this Django Unchained.

If he already went all Blaxploitation in Jackie Brown, here he decides to mix it with a gender missing in the filmography: the western. Or, more specifically, the southern.

In 1858’s United States of America, Django was just one more hopeless slave, until he is rescued by a German bounty hunter, who needs him to visually recognize his next targets. Initially “hired” for just that mission, Django begins to learn the tricks of the trade and becomes an expert gunslinger, aiming the ultimate goal of saving his wife, from whom he was forcibly separated.

There are several basic old school action movie ingredients: sudden separation, thirst of revenge, an improbable duo of heroes… all mixed in a pot full of blood and historical (and movie) references.

Beyond the heavily stylized graphic violence, the narrative and the typical Tarantino dialogues, what really gives the movie an extra touch, is the plausibility of that violence, in that period. Both the physical and the verbal violence (the Nigger words is said or spat more than a hundred times). Strong reasons of discomfort to those who try to wash away dirt stories from the past.

The movie is all about Django and Jamie Foxx assumes himself as the perfect man for the job, but there are several other brilliant characters, with Cristopher Waltz shining above others, once again. It’s also the best role of Samuel L. Jackson in a Tarantino Movie, after Pulp Fiction. An old black collaborationist racist servant. Priceless.

There are also small general knowledge lessons here and then. For example, for me and my generation, the word Mandingo would only ring a bell about pornographic references. The movie sort of washes that. Thank you.

I already talked more than I use to, so the rest is yours to watch. And listen, as the soundtrack is also brilliant. Once again.

Standard