O ambiente não é o que estamos habituados a ver atualmente no cinema Brasileiro: ao invés de cores e multidões, o isolamento cinza de uma ilha habitada por apenas duas pessoas, um pai, guardião do farol, e a sua filha. E vento, muito vento.
No início do filme os pescadores que habitualmente trazem mantimentos para a ilha são confrontados com o desaparecimento dos dois, e somos então levados numa viagem pelos acontecimentos que antecederam o sumiço. O amor possessivo do pai pela criança, a dificuldade desta compreender o crescimento e a sexualidade estando em isolamento, e as consequências destrutivas na racionalidade de ambos.
A Leandra Leal está impressionante para os seus 13 anos de idade, na época. Deve haver qualquer coisa de especial com essa idade e o mundo do cinema, pois é a mesma que a Natalie Portman tinha no Léon.
A realização não chega a ser brilhante mas, a história e, principalmente, as performances dos atores, ficam na memória.
Uma mistela de Kung-Fu, Wu-Tang Clan, slasher, western e filme de vingança série B? Com banda-sonora a condizer? Um presente perfeito para aquecer o meu Natal.
O RZA é apenas um ferreiro (just a Black.. Smith) que forja as armas dos diversos clãs em guerra em Jungle Village, até que se vê obrigado a entrar em acção quando põe a sua vida e a da sua amada em risco, ao ajudar o filho de um dos líderes dos clãs, assassinado à traição.
No fundo, apenas um tremendo masturbatório criativo para o RZA, patrocinado pelo Tarantino e pelo Eli Roth. Gosto.
Tinha perdido o rasto do realizador Tony Kaye depois do American History X, que é um dos meus filmes preferidos.
Este Detachment é diferente, bastante mais experimental e introspetivo, mas também explosivo, a espaços. O filme retrata um período escolar de um professor substituto numa escola complicada. Dito assim soa muito a cliché à la Dangerous Minds, mas o mote para o tom empregue à narrativa é dado por uma citação de Albert Camus que surge no início:
“And never have I felt so deeply at one and the same time so detached from myself and so present in the world.”
Até à data o protagonista (Adrien Brody em clássico e eficaz modo tristonho) não tinha grandes pretensões de mudar o mundo ou salvar os seus alunos, simplesmente cumprindo os serviços mínimos e seguindo a sua vida, de forma completamente desapaixonada, mas um conjunto de acontecimentos e convivências mudam um bocado essa orientação.
A visualização destes acontecimentos tanto vai sendo apresentada de forma natural quanto sendo dissecada pela personagem numa espécie de entrevistas em voz off, numa série de divagações sobre a educação e a condição humana em geral. Por vezes pertinente, mas no global, carecendo de maior foco.
Não é uma grande obra mas é, no mínimo, original e interessante, cheia de momentos intensos.
This Detachment its different, a lot more experimental and introspective, but somehow explosive, from time to time. The film shows us a school semester from a substitute teacher in a rough school. It may sound like a Dangerous Minds a-like cliche but this Albert Camus quote set the tone right from the beginning:
“And never have I felt so deeply at one and the same time so detached from myself and so present in the world.”
Till the date the lead character (Adrien Brody in classic and effective sad-mode) wasn’t pretending to change the world or save his students. He would just do his job and carry on with his life, in a completely dispassionate (detached) way. But, as it should be, suddenly a series of events led him to change this attitude.
These events are shown either in a natural way or being narrated by the character in some sort of interviews, with a lot of wanderings about the education and the human condition, in general. Sometimes these ramblings are very relevant and effective, but in general I think they could be more focused
Not a great picture but, at least, a very interesting and original one, full of intense moments.
Moonrise Kingdom não me entusiasmou tanto quanto filmes anteriores do Wes Anderson, mas não deixa de ter aquela bonita aura surrealista do seu estilo, acentuada aqui pelos protagonistas serem crianças (e mesmo os adultos parecerem não ter crescido muito).
Vale pelo elenco de luxo, pela arte da realização (um pouco mais aborrecida do que o costume) e, quase que roubando a cena, pela excelente banda sonora.
Essa meia-hora a mais são alguns devaneios de acção, deixas “cómicas” demasiado forçadas e uns twists que não o chegam a ser, mais para o final. Serve para agradar de forma transversal a mais tipos de audiência, mas a mim deixa um certo amargo de boca.
Tirando essas picuices, o filme tem argumentos de sobra para prender a atenção do espectador, abordando simultaneamente diversos temas angustiantes que afligem a nossa sociedade, como o terrorismo e os falsos messias, o declínio económico e o potencial incendiário que os 1% causam (em nós) nos outros 99, a inversão dos nossos valores morais, e por aí vai.
Gotham vive em paz há quase uma década, e durante esse período o Batman nem precisa sequer dar as caras (nem convém, porque é acusado de homicídio do Harvey Dent). Esta paz está alicerçada numa lei repressiva e com falsos pressupostos, que permite que todo e qualquer suspeito de crime seja colocado atrás das grades.
Como toda a paz podre, esta é deitada por terra com a entrada em cena de um vilão, Bane, que além de portador de um tremenda força bruta é extremamente inteligente e um líder carismático, capaz de incitar os seus seguidores à morte, de sorriso nos lábios.
O meticuloso plano de Bane para fazer ruir Gotham inclui a libertação dos seus criminosos e o cárcere dos seus policiais, a destruição da fortuna dos seus milionários através da apropriação da bolsa de valores, e a manipulação das massas, tentando-lhes fornecer uma ilusão de “devolução do poder ao povo”, uma espécie de Robespierre dos tempos modernos. Pelo meio o Batman, além de vencido, é torturado com a não-morte, e a obrigação de presenciar impotente a queda da cidade que protegia.
Não fornecendo um veículo de interpretação tão poderoso quanto o que propiciou a encarnação do Joker no Heath Ledger no último filme, temos um vilão muito competente e coadjuvantes excelentes, como a ladra profissional e o polícia novato a quem o Batman tem que se agarrar no meio do caos, nomeadamente a Hathaway numa excelente Catwoman e o Gordon-Levitt como Blake.
Mais uma vez, este realizador encontrou mesmo a fórmula para isto, de encontrar equilibrio entre agradar às massas e ao mesmo tempo fazer filmes de qualidade, metendo-as a pensar. Isso é que é preciso.
Parece que não fez grande sucesso, mas eu gostei muito deste primeiro filme em inglês do Paolo Sorrentino. De quase tudo, mas principalmente da originalidade da história. Sean Penn encarna e bem a figura ridícula de Cheyenne, uma estrela de rock reformada, desiludida e completamente desapegada do mundo atual. Após a morte do pai, descobre que este passou a vida inteira à procura do seu torturador nazi, e decide retomar essa perseguição.
Um ponto de partida que parece absurdo mas que é bastante mais plausível do que possamos pensar à primeira vista, o que vamos vendo enquanto vamos acompanhando a jornada e remoendo os fantasmas do passado, da família e do showbiz, sem grandes dramas ou moralismos.
Os road movies andam a fazer falta. E a música que lhe dá nome não me sai da cabeça.
Não acho que este filme faça de todo jus à obra-prima de Jorge Amado nem ao cinema Brasileiro, mas não deixa de ser entretenimento saudável.
Salientando que não é um mau filme, e que é de louvar a (não inédita e comprovadamente bem sucedida) opção por adolescentes de ONG’s para protagonizarem-no, não é marcante nem mágico, é apenas uma sucessão competente de alguns dos elementos base do livro e das diferentes estórias que o compõem, com uma realização segura mas sem chama, muito à moda de videoclipe ou spot publicitário para o meu gosto.
Além dos jovens atores, quem está de parabéns é o Carlinhos Brown e a banda-sonora que, essa sim, acaba por acrescentar muito ao filme. Mas a conclusão maior que fica é… leiam o livro, se ainda não o fizeram.
Um filme com temática bem mais ligeira do que aquele do qual falei anteriormente, mas tão ou mais brilhante dentro do seu género.
Um jovem senegalês acabado de sair da prisão procura apenas comprovativos de entrevistas para receber o subsídio de desemprego, mas torna-se quase a contragosto auxiliar de um milionário quadriplégico. Aos trancos e barrancos vão desenvolvendo uma grande amizade, e acabam por mudar as vidas um do outro.
As melhores qualidades desta comédia são a sua espontaneidade (é difícil de acreditar que o ator Omar Sy não seja mesmo assim na vida real) e a desdramatização, a forma natural e desprendida com que se tratam de assuntos delicados, conseguindo emocionar-nos sem recurso a demasiados clichés ou frases forçadas. Não brincar com assuntos sérios pode ser muito mais desrespeitador do que fazê-lo.
Não dou muito tempo até que surja um remake parvo de Hollywoood…
Surpreendido com o primeiro filme que vejo desta realizadora escocesa.
Kevin é um dos fantasmas dos tempos modernos, um jovem sociopata autor de um massacre na sua escola secundária. O filme alterna entre o limbo em que a sua mãe vive no presente, e o mosaico de memórias e culpas que carrega do passado, durante o crescimento da criança, e mesmo antes do seu nascimento, quando ela não o desejava.
Falta de amor, de acompanhamento? Ou inevitavelmente o miúdo iria tornar-se um monstro? Não há respostas, até porque o filme é um exercício quase completamente visual, com poucos diálogos e com muito mais violência psicológica do que física (o massacre nunca é verdadeiramente mostrado, por exemplo).
Uma Tilda Swinton destroçada de forma espetacular, o puto Ezra Miller a cumprir o seu papel de forma absolutamente perturbadora e o resto é trabalho de realização e cinematografia para compor o ramalhete de uma obra bastante interessante.
Depois do duvidoso Hereafter, este biopic sobre o polémico pioneiro diretor do FBI mostra que o Clint Eastwood não entrou em espiral descendente. Não sendo um filme arrebatador, é um retrato interessante de uma figura bastante polémica, brilhantemente interpretada pelo DiCaprio.
Com tanto material e especulação à volta do homem, seria muito fácil ao realizador enveredar pelos caminhos da glorificação da personagem ou das teorias da conspiração, mas o que vemos é um retrato que não toma qualquer posição, mostrando simplesmente o percurso atribulado de um ser humano complexo, tanto ambicioso e egocêntrico quanto inseguro e anti-social.
Só acho que se insiste um bocado em demasia na dúvida do closet case (no popular, bicha enrustida) que ele seria, mas não faz com que deixem de ser duas horas bem passadas.