Categoria: Andanças

Venturas e desventuras pelo mundo afora

  • Dublin, the end

    O último dia só deu mesmo para apanhar o autocarro e ir embora!

    Dublin é uma cidade que vale muito a pena para um short-break, e penso que não mais do que isso, pois percorre-se e vê-se bem em poucos dias, apesar de não ter visto ou feito algumas coisinhas que gostaria, nomeadamente a relíquia que é o Book of Kells, um joguinho de rugby ou de futebol gaélico, um espectáculo musical qualquer que fosse, o Phoenix Park, o interior de algumas catedrais e museus… fica para uma passagem breve quando voltarmos para conhecer mais do resto da Irlanda.

    Resumindo, por aquelas bandas podemos encontrar gente alegre, um sotaque castiço, excelentes histórias, boa música, bom ambiente e boa cerveja. Fica pra voltar.

  • Dublin, day two

    Nesta noite e na do dia anterior ainda estivemos em Temple Bar, a zona noturna mais popular da cidade. Não desfrutamos tanto quanto esperado dos seus pubs por três razões: o cansaço, o orçamento apertado (uma pint custa sempre de 5 euros para cima) e o fato da cidade estar completamente a abarrotar de gente, nomeadamente gente de saias, devido ao Irlanda x Escócia do Six Nations que ocorreu no domingo.

    Ainda fizemos uma refeição num destes pubs só naquela de experimentar e por ser “barato” para os padrões (10€ por pessoa com bebida), que só serviu para confirmar que a comida para aqueles lados não é mesmo grande espingarda, um irish beef para a Irina que não sabia a nada, e um bacon roll (estufado e não frito) para mim que a nada sabia.

    De qualquer das formas, é sempre uma zona a visitar, os pubs já não são tão tradicionais quanto isso mas contém parte dos seus elementos históricos, é bastante animada (muitas personagens curiosas) e tem músicos de rua a cada 50 metros. Aos sábados de manhã há também feiras de artesanato e de comida, sendo que nestas últimas já se degusta qualquer coisinha de jeito.

    Estivemos na Guinness Storehouse, e esta é visita obrigatória para qualquer pessoa, mas ainda mais para quem gosta de uma boa cerveja preta. Bastante memorabilia engraçada da marca, algumas explicações sobre a história e os processos antigos e atuais, e uma pint de oferta, que deve ser preferencialmente bebida no Gravity Bar, o último andar do sítio, com vista panorâmica de 360 graus sobre Dublin. Mais uma vez, nem nos conseguíamos mexer lá dentro com tanto escocês, mas lá deu para beber e ver as vistas.

    Descobrimos que trabalhou lá um gajo que me arreliou na faculdade e que ainda arrelia a Irina, William Gosset, que inventou a distribuição estatística T-Student. Ele usou o pseudónimo “Student” porque a Guinness proibia que os seus empregados publicassem papers de qualquer espécie, com medo que divulgassem segredos da marca.

    Depois de mais umas caminhadas valentes, uma visita ao St Stephen’s Green e ao  Oscar Wilde (The Queer with the Leer ou The Fag on the Crag) no Merrion Square, ouvimos diversas gaitas de foles, saias e verdes e brancos alegres a dirigirem-se ao estádio Aviva. O hooligan reprimido que há em mim não resistiu à imagem de claques verdes e brancas a dirigirem-se a um estádio, e lá fomos atrás deles sentir o ambiente, lamentando não ter bilhetes, fosse para sentir a verdadeira essência da coisa ou para vender a um preço que pagasse a viagem a um dos muitos adeptos desesperados que gritavam por bilhetes.

    Ficou pra pensar.

  • Dublin, day one

    Uma coisa que não referi na introdução anterior é que andamos sempre a pé, só utilizamos o autocarro para ir e vir do aeroporto.  Foram umas valentes caminhadas a esticar as hérnias de me wife, mas é uma cidade altamente “andável”.

    Começamos estas caminhadas com uma walking tour de que ouvimos falar no hostel, que é gratuita (yes), e é muito, muito boa. Faz parte deste conceito que já existe em algumas cidades da Europa (para quando uma em Lisboa?) e é realmente excelente. O nosso guia foi o Robbie, e não consigo imaginar que exista melhor; extrovertido, gozão, entusiasta e com um conhecimento histórico enciclopédico da cidade (e das cidades dos “convidados”, apesar de não ter larachas sobre Portugal na manga).

    Recebemos uma enorme injeção de informação, da qual vou enumerar apenas algumas curiosidades, as restantes ficam para conferirem in loco:

    Os irlandeses são um bocado portugueses

    Durante a primeira guerra mundial, os irlandeses, desejosos de obter a independência da Inglaterra (como em grande parte da sua história), foram pedir ajuda aos alemães. Como estes não curtiam os ingleses, enviaram com gosto um barco com 20000 fuzis e 4 milhões de munições. Os alemães, como são alemães, chegaram ao local combinado a horas. Os irlandeses, como são irlandeses, chegaram dias depois, já com os alemães descobertos e capturados pelos ingleses.

    O monumento Spire of Dublin (ou The Erection at the Intersection, ou ainda The Stiffy by The Liffey), no meio da O’Connell Street, foi construído tendo em vista as comemorações da viragem do milénio, mas só ficou pronto… em 2003.

    Acho que não preciso explicar a comparação.

    Os irlandeses não curtem mesmo os ingleses

    Conforme referi, sempre que possível, ao longo da história e desde o século XII, lutaram para obter a separação dos ingleses. Atualmente, sempre que podem, fazem piadas sobre eles.

    Por exemplo, a Ha’penny Bridge (contração de half penny, o quanto custava atravessá-la) foi construída pela empresa Harland and Wolff, a mesma que construiu o Titanic. Ao contrário deste, a ponte nunca caiu porque não é conduzida by an Englishman.

    O Saint Patrick’s Day foi inventado pelos americanos

    Ok, não o dia em si, que é dos mais tradicionais (apesar do Saint Patrick afinal nem ter lá nascido) mas a forma como é atualmente celebrado. Até há cerca de 20 anos atrás, era um feriado estritamente dedicado à religião, sendo o único dia a par do Natal em que os pubs não podiam abrir. Os emigrantes irlandeses em Nova Iorque, Boston e afins começaram a usá-lo para beber até vomitar, e os que lá ficaram agradeceram quando o governo se rendeu.

    É semana que vem e quase já não se fala em outra coisa.

    Os U2 são vingativos

    Os U2 são donos de vários pubs e outras propriedades em Dublin. Reza a lenda que, após um dos primeiros ensaios da banda, o Bono e o The Edge estavam à procura de um sítio sossegado para beber um copo e tentaram fazê-lo no The Clarence Hotel. Foram expulsos pelo funcionários, que alegaram que eles não eram do tipo de pessoa que mereciam ser servidas no Clarence. Eles fizeram um escândalo e prometeram que, quando fossem ricos, comprariam o hotel e despediriam os funcionários. Cumpriram.

    Gravaram lá no telhado o clip de A Beautiful Day.

    O Castelo de Dublin não é um Castelo

    Neste momento o Dublin Castle é simplesmente um conjunto de edifícios dispersos, sendo que a única parte remanescente da original construção de meados de 1200 é uma torre, a Record Tower, que serviu de prisão e proporcionou uma fuga à La Shawshank Redemption de Red Hugh O’Donnell (eles pronunciam Redju).

    Tem também uma “senhora justiça” que ao contrário do habitual, não está vendada (não é cega), tem uma balança que pende mais para um lado quando chove e que está de costas para a cidade. Segundo dizem, personifica bem a (in)justiça irlandesa, ou para terminar:

    There she stands at her station, with her eyes to the ground and ass to the nation.

  • Dublin, day zero

    Não foi por preguiça nem por me chatear com o telemóvel que não fiz o diário de viagem em tempo real, simplesmente esqueci o adaptador de corrente em casa e andei sem bateria estes dias. Até soube bem.

    Nos próximos dias vou transpondo o relato que fiz mentalmente e no moleskine, mas digo desde já que valeu a pena.

    Quase não vimos sol mas também não apanhamos muito frio nem chuva, estiveram sempre à volta de 17º. O Dublin Central Hostel é decente e baratucho, o staff é bastante simpático (como quase toda a gente em Dublin) e tem uma cozinha muito boa para o preço que cobra. É também central (como o nome indica) e prático para se apanhar uma bebedeira em Temple Bar, sendo o caminho de regresso literalmente sempre em frente.

    No primeiro dia chegamos tarde mas deu para aprender que Dublin é Baile Átha Cliath em irlandês, confirmar desde logo que os irlandeses são dos povos mais simpáticos da Europa, e para fechar a noite receber uma tentativa de assédio… de um indiano, no primeiro fast-food em que entramos. Tive a impressão que ele me fazia olhinhos, e confirmei-o quando no fim ele deu duas palmadinhas no saco e disse “I packed extra chicken wings just for you“. Ninguém me manda ser bonito.

  • Boca do Vento

    Desde a última sexta até ao dia 22 de Setembro decorrem algumas iniciativas da Semana Europeia da Mobilidade aqui no concelho de Almada; a esmagadora maioria são para inglês ver, mas ontem aproveitamos que a descida do Elevador da Boca do Vento era gratuita e lá fomos.

    Para quem não conhece recomendo; já não ia lá há tantos anos que me tinha esquecido o quanto aquele espaço é bonito, apesar de só estar aproveitado em certa parte.

    Tão bonito que incita as hormonas da juventude à pouca-vergonha em terreno público, mesmo de frente para a ponte do elevador, com imensa gente a passar ao lado.

    Fica pra pensar.

  • Madeira

    Durante a semana passada estive mais uma vez na pérola do atlântico com a mulher amada, e ainda a sobrinha e a cunhada mais nova.

    Como grande parte dos sítios que lhes mostramos já aqui foram descritos em relatos anteriores, vou só falar de duas “novidades”:

    Parque Temático de Santana

    Só peca por ser algo caro (10€/8€ crianças) para o tamanho e o número de atrações que tem, mas tudo o que tem é cuidado e bem feito. O espaço é agradável, os funcionários extremamente simpáticos e prestativos, e as atrações são todas bastante educativas de uma forma divertida, sem serem maçadoras.

    Destaco o “teatro virtual” raízes da madeira, um teatro feito com projecções sobre a história da ilha desde o descobrimento até aos dias de hoje (com algumas histórias bastante interessantes, como o grande saque de piratas ao Funchal a 3 de Outubro de 1566), o típico comboio de parque de diversão “à descoberta das ilhas” e as réplicas perfeitas (exteriores e interiores) das casas de Santana.

    Quinta do Santo da Serra

    Um segredo bem guardado, que ao contrário do anterior, é inteiramente gratuito. Nem apanhei bem se o nome oficial é mesmo Quinta do Santo da Serra, mas é o antigo Parque Blandy, e está mesmo no centro da freguesia, a seguir da igreja. Animais (estilo quinta pedagógica), imensa vegetação devidamente cuidada e catalogada e miradouros deslumbrantes. Grande lufada de natureza e ar fresco.

    Fica pra voltar.

     

  • Porto da Raiva

    Não tenho postado nada ultimamente porque parti há uma semana atrás em peregrinação pedestre a Fátima, para saudar o Papa Bento. Apesar das bolhas nos pés e das dores nas juntas proporcionadas pelas dormidas nos quartéis dos bombeiros, valeu plenamente o esforço: estou outro homem. Purificado, em paz comigo mesmo, só volto a fazer o amor depois do casamento e nunca mais digo que em cada lampião há um cabrão.

    Rio Dão

    Mentira!

    Mas passei por bastantes peregrinos no fim de semana, indo eu a caminho de Viseu, mais propriamente de Mangualde, para um baptizado de um primo.

    Infelizmente e ao contrário do que tinha planeado, foi uma viagem sem história, porque partimos e regressamos no mesmo dia, mas no meio do caminho há uma localidade chamada Porto da Raiva, e esse foi o facto mais interessante da semana.

    Quem nasce em Porto da Raiva será o quê? Portuense da Raiva? Portuense Raivoso? Fica pra pensar.

  • Madeira, day 3

    Como diz que ao sétimo dia Ele descansou, neste domingo foi só lazer. Fartamo-nos de andar por essa ilha afora, e com a particularidade de ter sido maioritariamente pelas estradas antigas e as suas paisagens magníficas e as suas curvas e contra-curvas e dois sentidos onde só cabe um mini e túneis escavacados à mão.

    Sem ter a certeza da ordem específica do percurso, estivemos em Machico, Porto da Cruz, Faial, São Jorge, Santana, Ponta Delgada, São Vicente, Ribeira Brava, Campanário, Funchal mais uma vez, e outras localidades das quais já me falha a memória.

    Esteve um sol valente e um calor do caraças durante grande parte do dia, já há algum tempo em que não me dava o luxo de passear só de t-shirt. Desconhecia que o Porto da Cruz era o ponto dos “sárfistas” na Madeira, eu que não percebo muito do assunto pareceu-me ter visto boas ondas e uma paisagem melhor ainda, para variar.

    Fiquei também a saber que São Jorge produz os melhores vinhos da ilha, ou pelo menos os mais afamados. Entre São Jorge e São Vicente passa-se pela Encumeada , e lá no cimo (cerca de 1003m de altitude) é possível avistar o lado Norte e o lado Sul da ilha, ou melhor, seria, se não estivesse um nevoeiro do caraças na altura em que lá chegamos, a vista é a que tá ilustrada na fotografia acima ; é no entanto interessante ficar a ver as nuvens dirigindo-se de um lado para o outro, e constatar como é que de um momento para o outro um lado fica encoberto e o outro continua solarengo.

    Na Serra de Água tivemos a real noção dos estragos do temporal, o cenário é catastrófico, desolador: pilhas de pedras trazidas do mar, carcaças de carros destruídos, casas de pé por milagre enfiadas no meio do entulho.. confesso que não foi por passarmos de carro que não tirei fotografias, porque o trânsito até estava muito parado devido às obras; foi porque além disso já ter sido suficientemente coberto nos meios devidos, eu não tenho estômago para andar a tirar fotos enquanto as pessoas tentam reconstruir as suas vidas. Se soa dramático, é porque o é.

    Dramático também será o regresso ao continente amanhã, mas isso fica pra pensar. O trabalho urge, as saudades da mulher amada apertam, a Madeira vai ter que passar mais uns mesinhos sem mim. I’ll be back!

  • Madeira, day 2

    Hoje andamos um bocadinho mais pela baixa do Funchal e devo dizer que se não soubesse do temporal, ele passava despercebido. Não quero com isto dizer que a situação foi empolada pela comunicação social nem nada do género, mas sim que houve um esforço do caraças para limpar os estragos rapidamente. Nota-se, no entanto, que os madeirenses estão bastante escaldados com o que aconteceu, basta avistarem uma nuvem cinzenta que seja para surgir um certo nervosismo; só daí já dá para sentir a dimensão da coisa.

    Conheci a casa onde o meu pai nasceu (Rua das Mercês, 75, Funchal), acabadinha mas inteira e com uma plaqueta a indicar o ano de construção, 1800 e qualquer coisa, não consegui apontar nem fotografar porque passamos de carro, mas também hei-de lá voltar. Devo confessar que esta viagem está relativamente pobre a nível fotográfico, deve ser por não serem verdadeiramente férias que não estou com esse espírito.

    Pelo que vi na Estrada Monumental e os seus hotéis de 4 e 5 estrelas em catadupa, o turismo está a bombar, vi muitos, muitos e muitos bifes a passear as suas brancuras.

    Na Ribeira Brava, além de se notarem muitas derrocadas pelo caminho, está uma imensa pilha de entulho junto à praia; ainda assim, aparentemente tudo está normalizado. Câmara de Lobos igual a sempre.

    Ah, e mais uma vez, hoje com o almoço fiquei jantado: sopa de trigo, muito bruta, recomendo. Fica pra enfardar.

  • Madeira, day 1

    Esta manhã serviu para passear um bocado. Não conhecia ainda Ribeiro Frio, que fica no meio de uma floresta Laurissilva que é património mundial da Unesco e tem um parque aquícola com um viveiro de trutas de todos os tamanhos e feitios. Tive pena de não me embrenhar no meio da floresta e das belas levadas que por lá devem haver, mas hei-de lá ir. Tive pena também de não comer uma daquelas trutas de seguida, mas ainda não tínhamos fome.

    Almoçamos em Santana, num restaurante simpático chamado “Os Bragados”, recomendo completamente; não se paga muito e enfardam-nos como a um porco antes da matança: granda pratada de milho cozido e um valente atum à escabeche, ainda tou a arrotar. Para acompanhar, claro, o meu clássico Brisa Maracujá.

    A caminho de casa passamos em Machico só para ver as vistas e assentamos para descansar, no caso do meu pai, e para trabalhar um bocado na tese, no meu caso. Por acaso a produtividade aqui nesta calmaria é elevada, curtia que os voos fossem de graça.

    À noite, como não podia deixar der ser… ia estar aqui o Sporting e não o iríamos apoiar, que ideia estapafúrdia é essa? Ainda que pobrezinho e em obras, o Estádio dos Barreiros não deixou de me deslumbrar com a sua maravilhosa vista sob a baía do Funchal (que infelizmente vai ser tapada com as novas bancadas). Jogo de merda para não variar um bocado, mas valeu a pena para conhecer os Barreiros e rir um bocado com os adeptos do Marítimo, em particular os do Esquadrão Maritimista e essa curiosa raça que são os xavelhas (naturais de Câmara de Lobos), que não me sinto capaz de descrever com palavras.