Este livro é uma lufada de ar fresco.
Eu nem sequer tinha conhecimento do background dos autores quando comecei a tomar contacto com as abordagens que defendem no livro, mas eles possuem bastante experiência e moral para falar; a empresa que dirigem, fundada por um dos autores, a 37signals, é um enorme caso de sucesso no mundo da tecnologia web.
Além de particularmente bem escrito (lê-se de uma assentada), as polémicas afirmações que vão fazendo são sempre suportadas com excelentes exemplos reais de sucesso.
Identifiquei-me especialmente com os seguintes pontos:
Enough with “entrepeneurs”
Que tesão é essa com o empreendedorismo? Na minha faculdade há o dia do empreendedorismo, eu tive a cadeira (obrigatória de mestrado!) economia e empreendedorismo (de cujo nome o próprio professor zombava), há o Madan Parque com toda a sua conversa de empreendedorismo, gabinete do empreendedorismo, as empresas tem necessidade de mostrar todo o seu potencial empreendedor… bla, bla. Quando há tanta necessidade de afirmação, é mau sinal.
Meetings are toxic
Esta afirmação tocou-me particularmente. Ao longo do último ano, estive envolvido em diversas reuniões relacionadas com o projecto em que a minha tese está englobada. Reuniões com o resto do pessoal envolvido, reuniões em outra empresa que será uma potencial cliente do que estamos a desenvolver… manhãs, tardes, dias inteiros perdidos em que a produtividade é quase nula, divagam-se horas e horas sem já se saber muito bem o que se anda a discutir. Meetings are toxic, claramente.
Workaholism / Go to sleep / No time is no excuse
Outro ponto ao qual sou particularmente sensível. Grande parte do pessoal que anda aqui na faculdade adora vangloriar-se das directas que faz a estudar para exames, a terminar trabalhos; afirmam peremptoriamente que o nosso curso é quase impossível de se fazer sem directas. Eu só fiz uma directa ao longo dos 6 anos em que cá ando, em virtude de um trabalho final de uma cadeira em que ficamos apertados até à última. Foi no dia do meu aniversário, e o resultado final foi pouco mais que sofrível.
Depois há a história do tempo. Pessoal do segundo ano para cima (que só estuda), não tem tempo para nada. Pessoal que passou a trabalhar, não tem tempo para nada. Acontece, mas é mais conversa do que outra coisa, não é fácil, mas com vontade é possível conciliar tudo.
Hire great writers
É defendido que para qualquer posto que seja, escrever bem é um factor que pode fazer a diferença. Mais uma vez, não posso deixar de concordar. Em todo o lado e cada vez mais, as pessoas não sabem escrever, de todo. Escrever minimamente bem denota clareza de ideias, de pensamento e de raciocínio. E eventualmente talento para divulgar e dinamizar aquilo que se desenvolve (e como dizem também algures, tudo é marketing).
ASAP is poison
Aqui a ideia principal é simples: o tão cedo quando possível está sempre implícito, é o que toda a gente quer. Quando estamos sempre a dizer ASAP e a estabelecer prioridade máxima paras coisas, banalizam-se os pedidos de uma forma tal que, sendo tudo de alta prioridade, nada é. Tau.
Recomendo vivamente esta leitura, que não é direccionada apenas a quem tem ou vai começar um negócio (que até nem é o meu caso, para já), e nem só para o pessoal da área informática. Qualquer trabalhador ou estudante tem a ganhar em beber um pouco (sempre com moderação e espírito de crítica) destas filosofias.
Meetings ou reuniões dependem de uma quantidade enorme de factores, mas principalmente dos seguintes: intervenientes e motivações. E não tem solução, os intervenientes vão ser sempre humanos.
Agora, vou despachar os pedidos feitos numa reunião que tive esta manhã, e em que me aborreceram de morte.
Claro que tem solução: encurtar as durações, reunir só mesmo quando for estritamente necessário, definindo bem a agenda, scrum’s e o caralho… cenas úteis lol.
Isto agora vai soar mesmo cliché, mas o mundo não funciona assim, as coisas não são todas dependentes de ti.
A bem dizer, até podes fazer duas ou três dessas coisas uteis que falaste, mas depois chegas ao momento e os humanos estragam o esquema todo.
Agora é que te aconselho MESMO a ler o livro, um dos primeiros capítulos é exactamente chamado “ignore the ‘real world’ ” 🙂
Um cheirinho:
“This real world sounds like an awfully depressing place to live. It’s a place where new ideas, unfamiliar approaches, and foreign concepts always lose. The only things that win are what people already know and do, even if those things are flawed and inefficient. The real world isn’t a place, it’s an excuse. It’s a justification for not trying. It has nothing to do with you.”
E em vídeo:
Estou a ser prático, novas ideias não morrem sempre não sou derrotista a esse ponto, mas quando envolves vários humanos a coisa não fica apenas sob o teu controlo. É mesmo muito complicado, por mais que definas metas e objectivos antecipadamente ha sempre alguem que aparece só para chatear ou que acha importante referir as suas ideias sobre as pirâmides do Egipto em plena reunião.
De qualquer forma gosto desse capítulo, se conseguir fechar os livros que tenho em atraso posso bem ler esse.
A solução, como o Ygor disse, é mesmo evitar reuniões. É óbvio que nunca consegues controlar todos os aspectos da reunião, mas podes sempre fazer de forma que não haja grande espaço para divagar.
As reuniões servem simplesmente para ocupar de forma inútil o nosso tempo. E claro, para beber uns cafés e rir um bocado….pra isso tou com a minha família.
Se toda a gente tivesse um Android, não era necessário haver reuniões.