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Madeira, Dia 2

Este dia constituiu o ponto negro destas férias. Por sorte, o final até acabou por ser feliz, tendo em conta as perspectivas.

Devem ter reparado nas notícias acerca dos incêndios que deflagraram na Madeira; um deles foi mesmo, mesmo à nossa porta. As chamas estiveram a cerca de 1 metro da casa dos meus tios e, se os bombeiros não tivessem chegado naquele exacto momento, não sei bem o que teria acontecido.


Vista da nossa janela

Acontece que há muitos terrenos deixados ao abandono pelos proprietários, que não limpam o mato, nem deixam os outros limparem-no. Assim sendo, sucedem-se peripécias destas. Para ajudar à festa, grande parte dos bombeiros estavam deslocados para o Rali da Madeira e, ao que parece, não há meios aéreos para combater os incêndios (um absurdo, num sítio com tanta água à volta, e onde tanto dinheiro se esbanja).

Como o ar estava irrespirável e à tarde as coisas estavam, felizmente, mais calmas, ainda passamos pela Camacha com os meus tios, terra do folclore e dos artesãos do vime. Se lá forem, paragem obrigatória no Café Relógio, que ostenta autênticas obras de arte (e de paciência) em vime. Pena que a máquina ficou em casa, fica aqui uma foto ranhosa com o telemóvel.


Obras em Vime

Nunca tinha vivenciado um incêndio de perto, e espero bem que tenha sido a última vez. É impressionante a velocidade com que o lume se alastra e devora o que aparece pela frente, e a maneira como o fumo nos entranha no corpo e nos sufoca.

Fica pra esquecer.

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Madeira, Dia 1

Munidos do indispensável mapa, marcamos os sítios que pretendíamos visitar, mas decidimos partir para cada dia sem nenhum plano em especial. Quem me conhece sabe que isto não é de meu apanágio, mas decidimos que levantava-se, arrancava-se e logo se via para onde o vento nos levava. Foi uma boa política.

Na Madeira não é preciso andar muito para nos deleitarmos com paisagens deslumbrantes; enquanto viajamos pelas auto-estradas, vias-rápidas e pelos já referidos túneis, vamos ficando boquiabertos com a imponência da natureza em redor, em meio aos vales e encostas. Além, claro, dos bananais a perder de vista.

A primeira paragem foi Camâra de Lobos, uma tradicional vila piscatória. Além da baía (onde viviam muitos lobos marinhos, daí o nome), e dos copos que por lá se bebem, é também por aquelas bandas que se situa o famoso Cabo Girão, que visitamos no regresso. Aqui começamos a tomar contacto com uma das “pragas” que assolam a ilha: as lagartixas. A Madeira é um reptilário em ponto gigante. A mim não me faz mossa.


Camâra de Lobos

Sempre pelo mar, passando por Ribeira Brava, Ponta do Sol (o local mais quente da ilha), e Madalena do Mar, paramos na praia da Calheta, uma das poucas com areia em toda a Madeira (ainda que importada). Como não somos de ferro, por lá ficamos, de molho, que o calor abrasava.


Praia da Calheta

Do alto de 580 metros, o Cabo Girão é o maior promontório da Europa, e o segundo maior do mundo, oferecendo-nos uma vista espectacular de Câmara de Lobos até a baía do Funchal. Confesso que tive que me informar sobre o que era um promontório, por isso cá vai: é um cabo elevado directamente sobre o mar. Fica pra pensar.


Vista do Cabo Girão

Terminamos o dia ao sabor dessa grande instituição Madeirense, que é a Poncha. Aguardente de cana, mel e limão. Por hoje chega, que já se aprendeu demais.

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Madeira, Dia 0

A Madeira arrebata-nos por completo, desde o início. A aterragem pode meter algum medo (a Irina que o diga), mas é das mais belas que pode haver: de um lado, a imensidão do mar, do outro, a verde imponência da ilha. Belíssimo.


Vista do Aeroporto da Madeira

Fomos recebidos com um calor infernal, agravado pela humidade tropical da ilha. Os graus que cá se registam são enganadores; uns 26 daqui equivalem a uns 30 do continente, sem qualquer tipo de exagero.

Mal descarregamos a trouxa em Gaula, mergulhinho em Santa Cruz para refrescar. Nada a ver com o gelo da Caparica; dizem que a diferença é que a temperatura do mar é muito parecida com a temperatura do exterior, mas eu não acredito que seja isso por si só, acho que a água é mesmo bem melhor.

Como chegamos cedo, ainda demos uma voltinha no Funchal para descontrair e apalpar terreno. Ao contrário dos tempos antigos, agora vai-se a qualquer lado num instantinho, graças aos inúmeros túneis que perfuram a ilha.

E abençoada ilha esta.

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Os Irredutíveis Gauleses

Fechado para balanço. Amanhã parto de férias com a mais que mais que tudo.

Vamos estar 9 dias em Gaula, mais concretamente na Achada de Cima, que em conjunto com a Achada de Baixo forma a Achada de Gaula. As coisas que vocês aprendem comigo.

Para quem não sabe, é lá que está o outro lado das minhas origens, nomeadamente da paterna parte. Brazuca da Mamãe, Madeirense do Papá.

Vou me redescobrir e entrar em introspecção e em regressão espiritual e etc e tal, viva Portugal. Só quem ama Sérgio Godinho é que há-de perceber a última parte desta rima e, mesmo para esses, não tenho a certeza se terá assim tanta piada. Fica pra pensar.

Tou mesmo a precisar de férias.

Inté breve, meus caros.

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Pixote – A Lei do Mais Fraco

Não chega a ser melhor do que Cidade de Deus, como alguns apregoam, mas é um óptimo filme, e mais uma obra-prima do cinema brasileiro, este clássico de 1981.

O filme vai buscar o título à personagem principal, Pixote, e centra-se à volta deste, um menino de rua que vai parar a um reformatório, e que segue com os amigos numa espiral de crime, violência e prostituição.

É um filme completamente cru, quase documental, sem grandes sofisticação técnica mas com uma carga emocional brutal, e assustadoramente próxima. Brilhantes momentos de cinema com o rapazito cover de Roberto Carlos a cantar perante a plateia de meninos flagelados e, principalmente, da cena final com Pixote no colo da prostituta, da qual não revelo mais para não estragar a surpresa a quem veja.

Voltando à comparação com CDD, Pixote consegue ser mais perturbador, não no sentido de conter maior violência (bastante presente), mas do ambiente que possui, da maneira com que nos enquadra no mundo cruel dos personagens, que nos encurrala naquela realidade e nos faz sentir que eles estão condenados, desde o início.

Marília Pêra tem somente cerca de 15 minutos de filme, no papel da prostituta Sueli, mas nesse escasso tempo consegue dar um show à parte, e mostrar o que significa ser uma grande actriz. Mas quem rouba a cena é mesmo o garoto Pixote, com o seu olhar de cachorrinho abandonado e a sua expressão de dor, de inocência e de maldade ao mesmo tempo. Um achado.

A versão de DVD que comprei inclui um making-of muito interessante, em que Hector Babenco e a sua assistente de produção contam todo o processo de escolha e de trabalho com os meninos e revela, por exemplo, que não era seguido propriamente um guião, na medida em que o próprio protagonista era iletrado; os putos se guiavam pelas situações. Uma lição de cinema.

É-nos dado a conhecer também o trágico desfecho da vida real do actor principal, que regressou ao mundo do crime e foi assassinado pela polícia, com apenas 19 anos. O filme, que começou por ser a sua tábua de salvação, fez parte da sua tragédia; nunca lhe despiram a imagem de Pixote, e ele foi sufocado e engolido por esse facto.

Vejam, que vale a pena, até o Spike Lee foi influenciado por este filme enquanto estudante; comprem, que tá barato, ou então me peçam emprestado.

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Sonoridades

Fados

Já tinha esta bonita obra de Carlos Saura aqui em casa em lista de espera há algum tempo, comprada em promoção. Recomendo-a a todos, tanto os fãs quanto os cépticos, para desconstruírem ideias pré-concebidas que eventualmente tenham sobre a maior forma de expressão musical portuguesa.

Apesar de catalogado como um documentário, “Fados” não se encaixa completamente nessa definição; é mais como um retrato, uma história onde o fado é cantado, coreografado, celebrado e sofrido na sua plenitude. É uma sucessão de fados cantados pelos mais diversos artistas, e demonstra as várias dimensões que o fado pode assumir (até a do hip-hop, se bem que esse momento é um tanto desnecessário, apesar da excelente expressão corporal do NBC).

Belos momentos na surpreendente versão de “Foi na Travessa da Palha” da mexicana (!) Lila Downs, na “Estranha Forma de vida” encarnada por Caetano, e a sempre poderosa presença da Cau-Berdiana Lura. O Camané e o Carlos do Carmo são sempre o Camané e o Carlos do Carmo, a Argentina Santos impressiona pela alma que emprega, o Chico Buarque mesmo em meia-canja me emociona sempre, e já a Mariza não me encantou tanto, apesar do dueto emotivo com Miguel Poveda . Enfim, vejam masé!

Uma horinha e tal que passa num instante.

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O Mago

Paulo Coelho dispensa apresentações; escritor mais lido do mundo, mais traduzido, 100 milhões de livros vendidos, milionário, e por aí vai.

Não sou grande fã da sua obra, mas esta biografia despertou a minha curiosidade, não sei bem porquê. Surpreendeu-me imenso; é uma história do ca*****, mesmo. Não contava que uma obra biográfica me absorvesse tanto, me levasse a devorar um denso calhamaço de 600 páginas em menos de 6 dias (noites). A sensação com que fico no fim é que levei uma surra com esse calhamaço!

Não vale a pena eu perder tempo a resumir a história com uma tagline destas:

A incrível história de Paulo Coelho, o menino que nasceu morto, seduziu o anjo da morte, sofreu em manicómios, mergulhou nas drogas, experimentou diversas formas de sexo, encontrou-se com o diabo, foi preso pela ditadura, ajudou a revolucionar o rock brasileiro, redescobriu a fé e transformou-se num dos escritores mais lidos do mundo.

O pior é que é tudo verdade! Por mais que se duvide do misticismo e esoterismo das histórias de Paulo Coelho, a informação que é aqui apresentada é dissecada, contextualizada e narrada por Fernando Morais, um dos jornalistas brasileiros mais respeitados, que consegue até a proeza de narrar os encontros espirituais do escritor de uma forma objectiva (!).

Paulo Coelho deu total acesso aos seus diários íntimos, e permitiu que o jornalista o acompanhasse durante 4 anos. No final, demorou bastante a dar o aval à publicação. Motivo: “o meu passado me dá medo”.

São revelados muitos, muitos podres, e chegamos a sentir repulsa do homem, da sua obsessão, da sua mesquinharia, e da sua insanidade, que tanta coisa escabrosa o levou a fazer. E é isso que impressiona: é esse peso todo que carrega que atrai esse fascínio que o mundo tem por ele.

* Agora que me lembro, essa curiosidade foi aguçada por saber um pouco mais da história de Raul Seixas, a quem o meu irmão deve o nome. É alguém que não diz muito aos portugueses em geral, mas talvez esta musiquinha (vídeo sofrível) diga qualquer coisa (Cidade de Deus, anyone?)

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