Teatradas

Tangos e Tragédias

Quando ouvirem falar que este espectáculo está em cartaz, não hesitem. Só não aconselho que escolham a primeira fila, porque o risco de serem arrastados para o palco é maior.

Já é a minha segunda vez, e soube ainda melhor que a primeira. É completamente diferente de tudo o que já tenha visto; a melhor descrição que consigo arranjar para estes dois é: são completamente tresloucados, passados, possuídos.

São cerca de duas horas em que Maestro Pletskaya e Kraunus Sang vão contando a história do seu país imaginário, a Sbornia, cantando e desvirtuando músicas antigas e actuais ao som do violino e do acordeão, e convidando (ou obrigando) o público a participar nos diversos números, seja cantando, gritando, estalando os dedos ou simulando o vómito.

A loucura extravasa o palco; no final, o público é convidado a continuar com a festa na rua! Na sexta-feira um rebanho de gente seguiu os dois para o meio da Avenida da Liberdade, para cantar Bob Marley misturado com o Tiro Liro Liro. Até houve arrumadores de carros entrando na festa.

Cada vez me convenço mais que o teatro é a mais nobre forma de representação; por mais que ame o cinema, e que um grande filme me absorva, o feeling de assistir a uma boa peça é incomparável.

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Teatradas

Gota d’Água

Extraordinário, maravilhoso.

Diferente da Ópera do Malandro: mais forte, mais pesado, a carga emocional que a música emprega é mais intensa, não fosse ele baseado numa tragédia grega (Medeia, de Eurípides).

Ainda estou pensando como é que a Izabella Bicalho, daquele tamaninho, consegue ter um vozeirão daqueles.

Não que restassem dúvidas: Chico Buarque é o maior génio musical que existe.

Quando o meu bem querer me vir
Estou certa que há de vir atrás
Há de me seguir por todos
Todos, todos, todos os umbrais

E quando o seu bem querer mentir
Que não vai haver adeus jamais
Há de responder com juras
Juras, juras, juras imorais

E quando o meu bem querer sentir
Que o amor é coisa tão fugaz
Há de me abraçar com a garra
A garra, a garra, a garra dos mortais

E quando o seu bem querer pedir
Pra você ficar um pouco mais
Há que me afagar com a calma
A calma, a calma, a calma dos casais

E quando o meu bem querer ouvir
O meu coração bater demais
Há de me rasgar com a fúria
A fúria, a fúria, a fúria assim dos animais

E quando o seu bem querer dormir
Tome conta que ele sonhe em paz
Como alguém que lhe apagasse a luz
Vedasse a porta e abrisse o gás

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