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Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 minutos

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Tinha muita curiosidade em assistir a este espectáculo, pois assim que li o título achei que resumir todos os musicais do Chico Buarque seria um desafio extremamente difícil, e que tinha tudo para dar errado.

Não deu, mas também não deu propriamente certo. Para começar, ao contrário do que o título indica, não está presente nenhum dos musicais, mas sim algumas das suas músicas, o que é bem diferente. E no fundo é disso que se trata, de um desfilar de músicas, quase um concerto de homenagem. Há uma tentativa de ter uma história como pano de fundo, mas tão dispersa que não chega a ser um verdadeiro fio condutor.

O elenco atenua um pouco a desilusão, sendo todos bons cantores e empregando excelentes interpretações em quase todas as canções, mas depois de ver a forma arrebatadora como a Izabela Bicalho se entregou a “Gota de Água” há uns anos, fica difícil se emocionar com menos.

O espectáculo tem o mérito de ter escolhas arriscadas, com algumas canções menos conhecidas (Mambembe, Você vai me seguir, Funeral de um lavrador) e interpretações inesperadas (“O meu amor” cantado por dois homens, por exemplo), mas depois acaba por ser demasiado ambicioso e esticar a corda a nível temporal, com prolongamento e penáltis a somar aos tais 90 minutos, tornando-se muito desgastante.

Nesse aspecto do desgaste, a arena do Campo Pequeno acaba por ajudar, com cadeiras miseráveis na improvisada plateia e um frio de rachar durante todo o tempo. Mandrake Produções, agradeço e peço que tragam mais musicais, por favor, mas encaixem-nos em teatros a sério, que merecem.

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Tribos

Tribos

António Fagundes está em Portugal desde o dia 10 de Setembro com a excelente peça “Tribos”, da britânica Nina Raine.

A peça gira à volta de Billy,  um surdo que nasceu numa família dita “normal” mas absolutamente disfuncional. O patriarca é um professor reformado que tem expectativas demasiado elevadas para a família, que se reflectem em constantes (e hilariantes) discussões com a mulher, escritora frustrada, e os dois irmãos de Billy, uma cantora de ópera fracassada e um paranóico que ouve vozes.

O egocentrismo e os preconceitos do pai fazem com que se tente ignorar ao máximo a deficiência do filho, que aprende a ler lábios e a se comunicar verbalmente, e não através de língua gestual.

Tudo isso muda quando Billy conhece Sílvia, uma moça que apesar de estar ficando surda é o seu oposto: nasceu ouvinte em família de surdos, e está empenhada a levar Billy a assumir a sua condição e a aprender a se comunicar por sinais.

A peça está dividida em nove cenas, e a primeira leva-nos a pensar que não vamos perceber nada. Penso que pode ser proposital, para nos mergulhar no caos em que a família vive, e perceber que apesar de só haver um surdo, na verdade ninguém se ouve verdadeiramente.

À medida que vamos avançando vamos apreciando a evolução dos sentimentos do personagem e vendo a forma como são desconstruídos e ridicularizados os preconceitos da família, em interpretações brilhantes de toda a trupe, sem excepção.

Outro aspecto de se tirar o chapéu é que a peça foi montada em regime de cooperativa entre os actores e a equipe técnica, sem patrocínios ou apoios externos. Claro que ajuda ter um actor consagradíssimo à cabeça, mas não deixa de ser de louvar.

No final há uma conversa informal entre o elenco e a plateia, e foi interessante ver que estavam bastantes surdos no teatro, quase todos muito satisfeitos e agradecidos por verem as suas dores tão bem ilustradas (ao Domingo está lá um intérprete de língua gestual).

Recomendo absolutamente.

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Rosmersholm

Nesta peça é a primeira vez que o Gonçalo Waddington além de protagonizar, encena. É também a primeira vez que assistimos a uma peça com ele e não gostamos.

Rosmersholm é considerada uma das obras-primas de Henrik Ibsen, sendo o nome da peça tirado ao local onde ela se desenrola, uma mansão onde habita Rosmer, o antigo pastor da localidade, e Rebecca, que o ajudou a cuidar da casa e da sua mulher antes do seu suicídio. Tudo gira à volta da forma como ambos estão aprisionados ao desejo não consumado (nem referido) que sentem um pelo outro, e ao medo da loucura e da perda da fé.

A história é bastante interessante, mas o texto é maçudo e enfadonho. Não sei se é fiel ou não ao original, mas achei demasiado difícil de mastigar.

Apesar de protagonizada por bons actores, não me transmitiu grande chama (sem contar que todos eles falharam com frequência nas falas), cabendo o melhor e desempenho ao Tiago Rodrigues, que só esteve duas vezes em palco durante uns poucos minutos, mas foi o único que conseguiu despertar o público.

Para piorar, o Teatro Maria Matos está com umas cadeiras (não percebi o motivo nem se são temporárias) indignas de um estádio da terceira divisão, que me deram vontade de ir embora após 15 minutos lá sentado.

 

 

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O Ginjal

Visto que perdemos duas peças que queríamos ver ultimamente (as duas últimas do Gonçalo Waddington), ontem houve um rebuçado para compensar: fomos ver uma peça de teatro amador, na Faculdade de Ciências Médicas da UNL. O Ginjal, de Tcheckov, pelo Grupo de Teatro Miguel Torga.

Não vou fazer uma crítica habitual minuciosa das minhas nem destacar ninguém, mas posso dizer que foi uma boa surpresa. Apesar de ter sido a primeira peça de Tcheckov que vi in loco, estou mais ou menos familiarizado com a obra, e esperava uma versão mais light da coisa, mas nada disso, o pessoal entrega-se mesmo de corpo e alma a um texto que não é pêra doce, proporcionando momentos muito bem conseguidos, dadas as limitações. Não limitações de talento (que claro que existem, uns com mais outros com menos), mas de ser levado a cabo por pessoal que dá no duro nos seus regular jobs.

Isto tudo feito por mero amor à arte, mais que bonito é uma lição.

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Azul Longe Nas Colinas

Quase que me escapava falar um bocado sobre esta peça que finalmente fui ver com a mulher amada no passado sábado. Não é particularmente relevante, visto já não estar em cena, mas sabem como eu gosto de mandar a minha laracha.

Portanto, isto foi uma encenação de Beatriz Batarda sobre um texto de Dennis Potter, no Teatro Nacional D. Maria II. A peça versa sobre um grupo de crianças, com a particularidade destas serem inteiramente representadas por adultos, só sendo denunciados pela linguagem utilizada e, claro, pelas situações em que se envolvem, completamente infantis apesar da crueldade que aqui e ali despontam.

Posso começar por dizer que o texto é muito bom e não acredito que tenha perdido muito na tradução; é de muito mérito assentar toda uma narrativa em linguagem infantil e mesmo assim manter um enredo interessante. Mais meritório ainda é, dadas as cenas, que os actores não caiam em overacting, e tal também não acontece, estão todos impecáveis, sem excepção, com realce para o Dinarte Branco (que é brilhante na sua simplicidade) e para o Albano Jerónimo (que eu não conhecia e que mete nojo e cospe e baba-se muito bem).

Posto isto, e apesar de tanto mérito e de passar bem a (perversa) mensagem, para mim faltou uma pitada qualquer que fizesse com que a peça cativasse, não sabendo bem o quê. Fica pra pensar.

 

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O Senhor Puntila e o Seu Criado Matti

Hoje foi a primeira vez que vi uma peça “pura” do Berltolt Brecht (a Ópera do Malandro do Chico Buarque é inspirada na Ópera dos Três Vinténs). Não sendo uma adaptação genial, é bem conseguida, produzida, quase sempre bem representada e divertida QB.

Senhor Puntila é um fazendeiro finlandês que tem personalidade dupla: quando bêbado, é generoso e expansivo, quando tem um dos seus “ataques de sobriedade” é um crápula autoritário da pior espécie. A criadagem vai tendo que aturar os seus devaneios, sendo que a dose de leão recai sobre o motorista, Mati. Pelo meio, quando sóbrio, vai tentando casar a sua filha com um diplomata meio apaneleirado,  que desanca de cima a baixo, quando ébrio.

Em meio a divagações várias sobre embriaguez, amizade e poder, há momentos muito bons de comicidade e reflexão, e outros tantos de overacting e de adaptação manhosa. A banda-sonora é bem esgalhada pelo Mazgani, mas nem sempre as letras (que não sei se foram da sua responsabilidade) encaixam bem.

O Miguel Guilherme está mais que sabido que é bom e consagrado, e o seu ar natural de bêbado ajuda bastante; quem me surpreendeu mesmo foi o criado, Sérgio Praia, que quanto a mim rouba completamente a cena, ainda mais tendo agora googlado o seu percurso televisivo e só encontrado floribella’s e coisas do género (e não é crítica, é o que há…).

Vale a pena, até porque ainda consigo aproveitar o desconto 50% de jovem do teatro aberto, pelo menos durante mais um aninho.

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Commedia à La Carte

Estes gajos só vão estar até dia 20 de Junho no Villaret, mas não é tarde recomendá-los, porque eles hão-de estar aí em cartaz em mais locais.

Estivemos no espectáculo de ontem e saímos de lá com um cansaço abdominal do caraças. Commedia à La Carte é um espectáculo de humor de improviso, em que os actores vão pedindo ao público para sugerir personagens, frases, letras do alfabeto e vão magicando sketches a partir quase do nada. É claro que isto nunca é improviso puro, até por que os anos que já levam “de estrada” confere-lhes um traquejo enorme, mas é preciso muito, muito talento para conseguir levar a cabo uma coisa destas, e sempre com piada. De um segundo para o outro eles conseguem transformar-se em personagens completamente diferentes, e (quase) sempre sem perder a postura. Não é a apenas a representação, mas o aproveitar de todas as deixas do público, o espaço, os sons, tudo.

Inicialmente tinha um certo preconceito em relação ao César Mourão, gajo dos programas da manhã e não sei o quê… parvoíce, é mesmo um grande talento que anda por aí “perdido”, e aqui há mérito da Irina em ter me chamado a atenção para esse aspecto; ao Ricardo Peres e ao Carlos M. Cunha nem sequer conhecia, e fiquei surpreso principalmente com o último, de um humor literalmente agressivo, sem pejo de ameaçar ou insultar o público a toda a hora.

Às quintas eles costumam ter um convidado especial para improvisar no fim: ontem foi o Eduardo Madeira, na próxima semana será o Aldo Lima.

Noite bem passada e dinheiro bem gasto. Ide.

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Num dia igual aos outros

Foi complicado conseguir assistir esta peça! Tínhamos bilhetes para sexta, chegamos aos Restauradores mesmo em cima da hora marcada mas… e estacionar? Ardemos. As próximas sessões estavam esgotadas até ao domingo da outra semana, mas no sábado liguei para lá e não tinham sido levantadas as reservas de 5 bilhetes, lá nos safamos.

Para começar, a Sala Estúdio do Teatro D. Maria é pequeníssima, o que ajuda a criar uma boa atmosfera e “entrar” na cena, um gajo fica ali mesmo a sentir o cheiro do suor dos actores (tá um calor do caraças), é fixe.

A peça trata do reencontro de dois irmãos de uma família disfuncional após vários anos separados. Um deles não saiu da casa da família, e apodreceu junto com ela; o outro aparentemente é melhor sucedido e não se percebe bem porque é que voltou, mas à medida que vão desfiando as memórias e revelando os seus percursos a trama vai se adensando.

É complicado falar mais sobre a peça sem revelar as surpresas que ela reserva; apesar de saber que quem está a ler isto mais que provavelmente não irá vê-la… epá, vão vê-la! Não é caro, tem uma boa oportunidade para ver dois actores do caraças ao vivo e uma excelente trama psicológica com alguns bons momentos de humor à mistura.

Muito provavelmente não tem nada a ver, mas a representação do Waddington nesta peça ganha todo um novo sentido aos olhos do espectador depois de ouvir este excelente manifesto nesta entrevista do gajo (primeiros 4 minutos). Fica pra pensar.

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O que se leva desta vida

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Esta peça compensa plenamente o dinheiro do bilhete e uma tremenda molha na baixa. É a primeira peça portuguesa em que saio do teatro satisfeito.

É impressionante como uma ideia tão simples consegue ser tão bem desenvolvida. Dois chefs numa cozinha, o frenesim da busca do prato perfeito e uma divergência entre o tradicionalismo da natureza e da arte e a mecânica da ciência e da tecnologia (tanto poderia ser culinária quanto outra coisa qualquer). Uma hora e tal de magia, tanto na escrita quanto na interpretação.

Que o Gonçalo Waddington era um actor do caraças já eu sabia, do Tiago Rodrigues sequer tinha ouvido falar. Dois monstros. Há lá 10/15 minutos de discussão (e de humor) entre os dois de uma entrega tal que até arrepia, do melhor que já vi.

Acho graça a certas pessoas saírem do teatro ofendidas quando se intensificam os caralhos e os foda-se. Quando bem empregue, o vernáculo é sempre digno e justificado.

Até dia 22 no São Luiz, e tá barato. Conselho de amigo.

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