Andanças

Glendalough

Glendalough

A vila de Glendalough (pronuncia-se algo como glendalorrrrr) é um dos principais motivos para se visitar Wicklow e as suas montanhas, aparte a já de si notável beleza natural da região e de todo o caminho.

É tanto uma viagem ao passado quanto um revigorante passeio pelas colinas e os dois lagos circundantes, e entra diretamente na lista dos meus locais favoritos na Irlanda.

Foi fundada no século VI por St Kevin, um jovem monge que se isolou no vale para meditar e se encontrar, e que por lá viveu durante sete anos. Durante esse tempo pernoitou sob rochedos, comeu o pão que o diabo amassou e vestiu apenas peles de animais, que eram a sua única companhia e alento.

Passados esses setes anos, a história atraiu mais discípulos e a vila cresceu, tornando-se a cidade monástica mais próspera da Irlanda. Esse pedaço de Glendalough ainda está relativamente bem conservado, apesar de ter sido sucessivamente achincalhado pelos Vikings e pelas tropas Inglesas, sempre elas.

Reza a lenda que a verdadeira prova da sua ligação com os bichos (“where he truly became one with the animals“, o que me soa a zoofilia) deu-se numa pedra chamada the Deer Stone; a mulher de um dos seus trabalhadores morreu a dar à luz um casal de gémeos. Desesperado, este pediu ajuda a St Kevin para alimentar as crianças, e ele rezou no local até que apareceu uma corça e amamentou as crianças.

Como bónus, ainda comemos muito bem no restaurante do Glendalough Hotel. Por norma acho que restaurantes de hotel são sempre de desconfiar, mas surpreendentemente foi a primeira vez que saí plenamente satisfeito de um restaurante na Irlanda, por um preço razoável. O borrego mais tenro e saboroso que já comi na vida, e uma truta fresquíssima, apanhada na região.

We’ll be back.

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Andanças

St Patrick’s Day

Hoje presenciamos pela primeira vez o dia de St Patrick’s aqui na Irlanda. Corrijo. Esta semana presenciamos pela primeira vez o dia de St Patrick’s aqui na Irlanda. Ou este mês. 

A antecipação que lhe precede acaba por transcender o dia em si. É falado, esperado e marketizado até à exaustão por toda a parte, mas no final de contas é um aglomerado de gente empurrando litros de cerveja goela abaixo e proclamando o orgulho que tem no seu país. Dito assim, não difere em nada do resto do ano!

No mês passado foi estranho para nós perceber que os Irlandeses não gozam o Carnaval, mas acaba por ser compreensível, com algo tão semelhante (a diferença é a temática ser única) em data próxima.

Acaba por ser uma festa bonita por toda a parte. Como bom irlandês (mesmo não o sendo), o São Patrício era uma figura bem curiosa; em sua honra transcrevo aqui dez curiosidades sobre ele publicadas no Independent:

1. St Patrick isn’t Irish

Despite being the patron saint of Ireland, St Patrick was born in Britain around 385AD, to aristocratic parents Calpurnius and Conchessa. It is unclear whether they lived in Scotland or Wales, but they are believed to be Romans and are thought to have owned a townhouse, country villa, and many slaves.

2. He was a slave, and wasn’t religious until he was an adult

At 16, he was kidnapped by traders, sent to the Irish countryside and made to tend to sheep as a slave. This is where he turned to God after being ambivalent towards religion as a child.

3. Voices told him he could escape his captors

Six years into his captivity, St Patrick apparently heard a voice urging him to travel to a distant port where a ship would be waiting to take him back to Britain. During the journey, he was captured again, and taken to France for 60 days where he learned about monasticism.

4. He escaped again, and rose up the early Church’s ranks

After making his escape and having found God, he became a priest in his twenties, and eventually became a bishop

5. He gained his sainthood by becoming a missionary

Aged around 30, he was tasked with becoming a missionary and returned to Ireland, where he successfully converted many Celtic pagans to Christianity.

6. He gave the shamrock its significance

It was as a preacher that he used the shamrock, now the unofficial national flower of Ireland, as a symbol of the holy trinity: the Father, the Son, and the Holy Spirit.

7. Snakes never lived in Ireland…

St Patrick has been credited with driving the snakes out of Ireland, although science now suggests that water-locked Ireland did not ever have any snakes.

8. Green wasn’t his colour

Like St Nicholas who is mistakenly associated with the colour red – and actually wore green – St Patrick dressed in blue vestments.

9. He was partial to a shot or two of whiskey

Reassuringly for anyone who feels guilty indulging too heavily on a Saint’s day, it is believed St Patrick said everyone should have more than just a swig of whiskey on his feast day. He apparently chastised an innkeeper who served him too little of the drink.

10. He died on his feast day

St Patrick is thought to have died on his feast day, 17 March, in 461AD. It is a national holiday in Ireland, and on the island of Montserrat in the Caribbean, which was founded by Irish refugees.

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Desportadas

Bohemians FC vs Drogheda United

Dalymount Park

Ontem à noite vi pela primeira vez um jogo de futebol (normal) do campeonato Irlandês, a Airtricity League.

Apesar de a maior parte dos campeonatos europeus estarem a aproximar-se do final, aqui a procissão ainda vai no adro: esta foi a segunda jornada da edição 2014 do campeonato (uma liga de “verão”, portanto). Oficialmente a liga é profissional, mas os clubes já não tem dinheiro para mandar cantar um cego, portanto é um amadorismo disfarçado.

Todos os jogos são à sexta-feira às 19h45, o que deixa os jogadores livres para irem curtir o fim de semana, e os adeptos para apoiarem os outros clubes por quem sofrem, os ingleses (maioritariamente os nortenhos Liverpool, United, City, Newcastle, etc) e o Celtic.

O Bohemians existe desde 1890, o que faz dele o clube mais antigo da Irlanda. A sua casa é o Dalymount Park, um castiço e centenário estádio que tem capacidade para 4300 pessoas e, a jeito para o fim do jogo, dois pubs por baixo da bancada central.

Relativamente ao jogo em si, como não podia deixar de ser, foi um hino ao mau futebol e ao chutão para o mato, mas apesar de tudo… emotivo. Os da casa exerceram um domínio avassalador na primeira parte, que se traduziu numa vantagem de dois golos do striker Dinny Corcoran (o segundo numa justa grande penalidade), mas num misto de excesso de confiança e de falta de pilhas para mais, sofreram um golo ainda antes do intervalo e deixaram-se empatar mesmo ao cair do pano, aos 89 minutos.

Um ambiente morno e familiar nas bancadas, com nota elevada para a claque dos “Drogs”, que fizeram bastante mais barulho do que os da casa e que mereceram não voltar para Drogheda com uma derrota no lombo.

Intrigante ainda a presença da bandeira de Angola numa das bancadas; será apenas a semelhança com as cores do clube ou existirá algo mais por trás? Fica p’ra pensar.

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Andanças, Pátria que me acolheu

Orçamentos

Ontem foram divulgados os orçamentos de Portugal e de Irlanda para o ano de 2014. Não tenho grande autoridade nem me agrada muito falar sobre economia ou política, mas consigo falar sobre aquilo que sinto quando olho para um e para outro.

O orçamento da Irlanda, segundo o governo, é o último sob “assistência” da Troika. Não foi isento de medidas polémicas, mas de modo geral penso que não pode ser considerado um orçamento austero.

As piores notícias não anulam as boas, e as primeiras foram divulgadas com inteligência política, paulatinamente e escutando a reação do povo previamente ao longo do último mês, sem cair muito na desonestidade ou no populismo.

Entre as boas estão a manutenção do IVA a 9% para o turismo, que era suposto ser provisória mas é claramente benéfica, a introdução de cuidados de saúde gratuitos para todas as crianças menores de 5 anos, e a garantia de que os salários, os subsídios e as pensões permanecerão intocáveis.

Entre as más, aumento do preço dos medicamentos sob receita e, cortes em alguns cartões de saúde e  no subsídio de desemprego para menores de 26, e a muito muito má para os Irlandeses: aumento do preço das bebidas alcoólicas, 10 cêntimos por pint, 50 cêntimos por garrafa de vinho!

Não é perfeito e nada garante que as coisas não possam voltar a correr mal, mas há um rumo, há resultados, há optimismo fundado, há preocupação legítima com as próximas gerações.

O orçamento de Portugal, por outro lado, é mais do mesmo. O governo não admite que é austero, mas a sua leitura só demonstra mais agressão, mais depressão, mais insistência em fórmulas que não funcionam, mais tiros no escuro e previsões em que ninguém acredita.

Não sei se fico feliz por estar longe, ou triste por ainda mais longe me sentir, por estas e por outras…

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Andanças

Kilkenny

kilkenny

“There once was two cats of Kilkenny
Each cat thought there was one cat too many
So they fought and they fit
And they scratched and they bit
‘Til instead of two cats there weren’t any.”

O nosso primeiro passeio “grande” de carro aqui pela Irlanda teve como destino Kilkenny, uma vila medieval (eles dizem que é uma cidade, mas tem todo o clima de vila) que é a capital do distrito com o mesmo nome.

Como é frequente na Irlanda, tivemos azar com o clima. Apanhamos um sol espetacular durante todo o verdíssimo caminho, e uma chuva torrencial quando nos decidimos a andar a pé pela vila. Assim sendo, não pudemos ver tudo o que queríamos nem desfrutar por completo do passeio, mas vou deixar aqui umas indicações na mesma, pois penso que vale a pena e que talvez lá voltemos em dias melhores.

Segundo os leitores da revista Condé Nast Traveller, Kilkenny é a nona cidade mais amigável do mundo. Cheia de caráter e história, chegou a ser considerada uma espécie capital não oficial durante a idade média, com parlamento próprio e tudo. Hoje em dia, conjuga o charme arquitetónico que conserva com uma vida cultural e noturna ativa.

A sua atração principal é o castelo, património nacional e um dos locais mais visitados do país, que começou a ser construído em 1172 pelo célebre normando conhecido como Strongbow. Outros locais de interesse são a St Canice’s Cathedral, a Black Abbey ou, mais afastadas e menos faladas mas não menos interessantes, as ruínas em Kells Priory.

If you ever go to Kilkenny, remember the Hole in the Wall, You may there get blind drunk for a penny or tipsy for nothing at all.

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Andanças, Desportadas

A verdade sobre o Gaelic Football

Há uns meses atrás escrevi sobre um jogo de Gaelic Football que vimos quando cá chegamos, e que me levou a tirar algumas conclusões precipitadas sobre o desporto. Como não gosto de injustiças, vou rectificar!

O jogo que vimos foi da League, que afinal não lhes interessa para nada. O que realmente os move é o All-Ireland Championship, que decorre durante o “verão”. Hoje foi o segundo jogo da final, depois do primeiro ter sido dramaticamente empatado a segundos do final. E a esta final eles dão muita importância.

Dublin foi à final contra Mayo e, ao contrário de quando lá estivemos, o Croke Park tinha todos os seus 82000 lugares ocupados. A procura é brutal; qualquer uma das cidades poderia encher o estádio por si própria, e havia bilhetes no mercado negro sendo despachados por milhares de euros.

Na semana que antecede o jogo vemos bandeiras a esvoaçar nos carros e nas janelas a todo o momento, e a final é tópico quente de conversa entre todos os irlandeses.

Assim vale a pena e, pela segunda vez em três anos, Dublin é (somos!) campeões! Common you boys in blue!

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Andanças

Emigrando para a Irlanda – Custos

Ireland Coins

Esta é das partes que mais interessa a quem se muda: os custos. Contem com um maior salário, mas também com maiores despesas. Não na mesma proporção, senão não estava aqui!

Começando pelo maior de todos: alojamento. Se, como eu, vierem para Dublin, não contem arranjar um T2 (pequenino!) por menos de 800-1000 euros. Quanto mais perto do City Centre, mais caro. As outras grandes cidades do país, como Galway ou Cork, são mais baratas nesse aspeto, mas regra geral oferecem também salários menores.

Essa foi a má notícia. A boa é que o resto não é muito mais caro. A alimentação feita na rua é bastante mais cara, mas a “de supermercado” é quase equivalente. Há o Tesco e os nossos conhecidos barateiros Lidl e Aldi, que oferecem todos preços e promoções competitivas. E há a minha loja preferida, a Dealz, uma espécie de supermercado dos trezentos, com tudo a 1.49€.

Luz e gás também não ficam atrás de Portugal e a água, pelo menos por enquanto, não se paga (uma das medidas de austeridade que querem implementar para 2014 é a água passar a ser tarifada).

Para ter televisão e banda larga em casa, também há pacotes muito semelhantes aos que se encontram em Portugal, mas aqui para se ter televisão em casa, há uma taxa estúpida de 160€ por ano! Serve para sustentar o serviço público de televisão e radiofusão…

O preço normal dos transportes não é barato, mas há esquemas que permitem comprar o passe ou uma bicicleta para ir para o trabalho com cerca de 50% de desconto, o que é excelente. Os carros são baratos, a gasolina é o mesmo preço mas os seguros e o imposto anual são bastante mais caros (rondando os 300€ por ano para o imposto e 30€ por mês pelo seguro, numa pesquisa não muito aprofundada que fiz).

Um site bom para escolher fornecedores é o bonkers.ie, com comparativos detalhados para diversos serviços.

A companhia aérea mais barata para se viajar é obviamente a Ryanair!

Se me lembrar ou descobrir mais algo, aviso.

I miss my girls, desperately.

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Andanças

Emigrando para a Irlanda

Faz hoje uma semana que estou na Irlanda. Sendo cedo para grandes balanços, já consigo transmitir algumas dicas para quem queira ou precise seguir o mesmo caminho.

Salto a parte de encontrar emprego, porque já vim com ele assegurado. Assim sendo, a minha principal tarefa à chegada foi encontrar casa.

“O” site da especialidade aqui é o daft.ie. Tem muita oferta, mas também muita procura. É muito comum vermos um anúncio recente, tentarmos estabelecer contacto e o local já estar nas mãos de outro inquilino. Eu não sofri muito com isso porque até nem estou no centro da cidade, mas estejam preparados para ser pacientes. Aconselho também a fazerem logo contacto telefónico, porque nem sempre respondem aos mails.  Ou seja, assim que chegarem, arranjem também um cartão SIM irlandês.

Tipicamente os contratos de arrendamento são no minímo de um ano, mas não se preocupem muito com isso: na Irlanda não é ilegal sub-alugar ou re-atribuir o aluguel a outra pessoa. Se depois quiserem ou tiverem de ir embora, “só” tem que tratar de arranjar novos inquilinos. Estejam preparados também para, à cabeça, dar um mês de renda e outro de caução, mas isso também é o normal em Portugal.

Antes de mais, para serem alguém aqui, precisam de um PPS number. O PPS number é um identificador que corresponde ao número de contribuinte/número de segurança social em Portugal. É simples de pedir, bastando apresentar um documento válido (passaporte/cartão do cidadão) e uma morada. É aqui que a porca pode torcer o rabo, porque:

  • Para ter PPS number, é preciso uma morada
  • Para fazer um contrato de arrendamento, é preciso um PPS number

Ciclo infinito… a solução? Ou dar a morada de algum conhecido, que foi o que fizemos, ou dar a morada do hotel em que estão alojados, e fazer a alteração para a morada definitiva à posteriori.

Como  também interessa que comecem logo a cair euros de proveniência Irlandesa nos nossos bolsos, é conveniente abrir assim que possível uma conta bancária. Aqui também varia: alguns bancos pedem o PPS number e um comprovativo de morada (uma conta, que não temos), outros possuem balcões que aceitam cartas de empresas dos arredores (foi o nosso caso), é uma questão de se informarem.

Pode acontecer também que certas empresas ou senhorios exijam registro criminal, portanto, peçam-no no país de origem antes de virem, e traduzam-no através de um tradutor certificado. Quem for casado e/ou tiver filhos, que traga e traduza também os assentos de casamento e nascimento, pois mesmo que não tragam de imediato as vossas crias, podem pedir logo o Child Benefit, que ainda é 130€ por criança, o que é uma boa ajuda.

Especificamente para Dublin, aconselho também que façam logo um Leap Card, que é um cartão recarregável para andar nos transportes, e que se compra em várias lojas por toda a parte. Sem ele, o sistema é chato: nos autocarros de Dublin os motoristas não aceitam notas nem dão trocos, temos que dar o valor exacto ou ficamos sem troco; apesar de se poder pedir reembolso à posteriori na central, é um sistema muito chato. Essa dica vale para turistas também.

Quando souber mais, vou partilhando.

I miss my girls, madly.

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