Andanças

Glendalough

Glendalough

A vila de Glendalough (pronuncia-se algo como glendalorrrrr) é um dos principais motivos para se visitar Wicklow e as suas montanhas, aparte a já de si notável beleza natural da região e de todo o caminho.

É tanto uma viagem ao passado quanto um revigorante passeio pelas colinas e os dois lagos circundantes, e entra diretamente na lista dos meus locais favoritos na Irlanda.

Foi fundada no século VI por St Kevin, um jovem monge que se isolou no vale para meditar e se encontrar, e que por lá viveu durante sete anos. Durante esse tempo pernoitou sob rochedos, comeu o pão que o diabo amassou e vestiu apenas peles de animais, que eram a sua única companhia e alento.

Passados esses setes anos, a história atraiu mais discípulos e a vila cresceu, tornando-se a cidade monástica mais próspera da Irlanda. Esse pedaço de Glendalough ainda está relativamente bem conservado, apesar de ter sido sucessivamente achincalhado pelos Vikings e pelas tropas Inglesas, sempre elas.

Reza a lenda que a verdadeira prova da sua ligação com os bichos (“where he truly became one with the animals“, o que me soa a zoofilia) deu-se numa pedra chamada the Deer Stone; a mulher de um dos seus trabalhadores morreu a dar à luz um casal de gémeos. Desesperado, este pediu ajuda a St Kevin para alimentar as crianças, e ele rezou no local até que apareceu uma corça e amamentou as crianças.

Como bónus, ainda comemos muito bem no restaurante do Glendalough Hotel. Por norma acho que restaurantes de hotel são sempre de desconfiar, mas surpreendentemente foi a primeira vez que saí plenamente satisfeito de um restaurante na Irlanda, por um preço razoável. O borrego mais tenro e saboroso que já comi na vida, e uma truta fresquíssima, apanhada na região.

We’ll be back.

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Paternidade

14 meses

Carolina 14 Meses

A maior caraterística a salientar da Carolina nesta fase é a imprevisibilidade. Conhecemo-la melhor que ninguém, mas surpreende-nos a todo o momento. Quando achamos que vai se portar mal numa viagem, dorme ou brinca o caminho todo, quando achamos que vai se portar bem, faz o inverso.

Tanto dá-nos um carinho quanto uma porrada (normalmente na ordem inversa, porque já sabe como agradar para “compensar”), tanto parece não estar nem aí para o que estamos dizendo quanto responde ou reproduz por sons ou gestos o que estamos falando.

Ainda não ganhou coragem e equilíbrio para andar sozinha, mas prefere andar pela casa de mão dada do que a gatinhar, para mal das nossas costas.

Continua completamente obcecada com fruta: quando vê morangos ou kiwis à frente, o mundo pára.

Aprende e repete com cada vez mais facilidade as palavras novas que vamos ensinando, e até trisilábicas já arrisca de quando em vez (banana = nanana; já tinha dito que ela era obcecada com fruta?).  Para nos chamar, aprendeu a gritar MAMÃ ou DADÁ a plenos pulmões, estejamos a 100 ou a 1 metro.

Já começa a ser difícil entrar com ela nas lojas de brinquedos. Se antes éramos nós que ficávamos deslumbrados, agora ela já aponta, já pede… tem dias em que a primeira coisa que faz quando acorda, ainda antes de abrir os olhos (juro), é apontar na direção do quartinho dos brinquedos.

Continua adorando dançar; se antes era sempre a mesma dança, agora já se sacode mais conforme o ritmo. O mesmo para as fotos, fazendo poses.

Enquanto puder, seguirei sempre dançando com ela.

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Cinemadas

The Wolf of Wall Street

Tendo o Martin Scorcese uma história destas nas mãos, o seu ator fetiche a protagonizar e sem uma grande produtora a censurar a depravação que esta envolve, este filme não tinha como correr mal.

Sexo, drogas e Wall Street, sendo Wall Street apenas um veículo e a parte menos importante da equação. O foco principal é a ganância humana e a forma como o dinheiro pode corromper e transformar o ser humano, sendo o ser humano no caso Jordan Belfort, um corretor da bolsa que começou por fazer dinheiro com negócios envolvendo transações de ações de valor duvidoso, engrupidas através do seu estilo comercial hipnotizante e agressivo.

Inicialmente confinadas a essas acções de baixo valor (Penny Stocks), a certa altura as artimanhas de Belfort dão o salto para Wall Street e são extrapoladas para quantias estratosféricas, gerando uma fortuna para si própria e para a sua empresa.

A partir daí é o descambar total; drogas e putaria a torto e a direito, a todo o momento e instante, e um sentimento de impunidade e de que não há limites para aquilo que conseguiam alcançar.

Esse estado de espírito é incutido na montagem, injetando uma adrenalina (e até uma filmagem “turva” impagável nos momentos de maior moca) quase constante nas quase três horas que compõem o filme, até, claro, declínio final.

O filme pode ser acusado de ser imoral ou amoral por culminar com um final “feliz” para o bandido, mas não faz mais que mostrar a realidade e um relato cru do que se passou. Mais ainda, se formos pensar bem no assunto, este é apenas um dos casos que veio a público e que sofreu algumas consequências; imaginem-se todos os outros que ocorreram e continuam a ocorrer e a gerar buracos…

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Andanças

St Patrick’s Day

Hoje presenciamos pela primeira vez o dia de St Patrick’s aqui na Irlanda. Corrijo. Esta semana presenciamos pela primeira vez o dia de St Patrick’s aqui na Irlanda. Ou este mês. 

A antecipação que lhe precede acaba por transcender o dia em si. É falado, esperado e marketizado até à exaustão por toda a parte, mas no final de contas é um aglomerado de gente empurrando litros de cerveja goela abaixo e proclamando o orgulho que tem no seu país. Dito assim, não difere em nada do resto do ano!

No mês passado foi estranho para nós perceber que os Irlandeses não gozam o Carnaval, mas acaba por ser compreensível, com algo tão semelhante (a diferença é a temática ser única) em data próxima.

Acaba por ser uma festa bonita por toda a parte. Como bom irlandês (mesmo não o sendo), o São Patrício era uma figura bem curiosa; em sua honra transcrevo aqui dez curiosidades sobre ele publicadas no Independent:

1. St Patrick isn’t Irish

Despite being the patron saint of Ireland, St Patrick was born in Britain around 385AD, to aristocratic parents Calpurnius and Conchessa. It is unclear whether they lived in Scotland or Wales, but they are believed to be Romans and are thought to have owned a townhouse, country villa, and many slaves.

2. He was a slave, and wasn’t religious until he was an adult

At 16, he was kidnapped by traders, sent to the Irish countryside and made to tend to sheep as a slave. This is where he turned to God after being ambivalent towards religion as a child.

3. Voices told him he could escape his captors

Six years into his captivity, St Patrick apparently heard a voice urging him to travel to a distant port where a ship would be waiting to take him back to Britain. During the journey, he was captured again, and taken to France for 60 days where he learned about monasticism.

4. He escaped again, and rose up the early Church’s ranks

After making his escape and having found God, he became a priest in his twenties, and eventually became a bishop

5. He gained his sainthood by becoming a missionary

Aged around 30, he was tasked with becoming a missionary and returned to Ireland, where he successfully converted many Celtic pagans to Christianity.

6. He gave the shamrock its significance

It was as a preacher that he used the shamrock, now the unofficial national flower of Ireland, as a symbol of the holy trinity: the Father, the Son, and the Holy Spirit.

7. Snakes never lived in Ireland…

St Patrick has been credited with driving the snakes out of Ireland, although science now suggests that water-locked Ireland did not ever have any snakes.

8. Green wasn’t his colour

Like St Nicholas who is mistakenly associated with the colour red – and actually wore green – St Patrick dressed in blue vestments.

9. He was partial to a shot or two of whiskey

Reassuringly for anyone who feels guilty indulging too heavily on a Saint’s day, it is believed St Patrick said everyone should have more than just a swig of whiskey on his feast day. He apparently chastised an innkeeper who served him too little of the drink.

10. He died on his feast day

St Patrick is thought to have died on his feast day, 17 March, in 461AD. It is a national holiday in Ireland, and on the island of Montserrat in the Caribbean, which was founded by Irish refugees.

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Desportadas

Bohemians FC vs Drogheda United

Dalymount Park

Ontem à noite vi pela primeira vez um jogo de futebol (normal) do campeonato Irlandês, a Airtricity League.

Apesar de a maior parte dos campeonatos europeus estarem a aproximar-se do final, aqui a procissão ainda vai no adro: esta foi a segunda jornada da edição 2014 do campeonato (uma liga de “verão”, portanto). Oficialmente a liga é profissional, mas os clubes já não tem dinheiro para mandar cantar um cego, portanto é um amadorismo disfarçado.

Todos os jogos são à sexta-feira às 19h45, o que deixa os jogadores livres para irem curtir o fim de semana, e os adeptos para apoiarem os outros clubes por quem sofrem, os ingleses (maioritariamente os nortenhos Liverpool, United, City, Newcastle, etc) e o Celtic.

O Bohemians existe desde 1890, o que faz dele o clube mais antigo da Irlanda. A sua casa é o Dalymount Park, um castiço e centenário estádio que tem capacidade para 4300 pessoas e, a jeito para o fim do jogo, dois pubs por baixo da bancada central.

Relativamente ao jogo em si, como não podia deixar de ser, foi um hino ao mau futebol e ao chutão para o mato, mas apesar de tudo… emotivo. Os da casa exerceram um domínio avassalador na primeira parte, que se traduziu numa vantagem de dois golos do striker Dinny Corcoran (o segundo numa justa grande penalidade), mas num misto de excesso de confiança e de falta de pilhas para mais, sofreram um golo ainda antes do intervalo e deixaram-se empatar mesmo ao cair do pano, aos 89 minutos.

Um ambiente morno e familiar nas bancadas, com nota elevada para a claque dos “Drogs”, que fizeram bastante mais barulho do que os da casa e que mereceram não voltar para Drogheda com uma derrota no lombo.

Intrigante ainda a presença da bandeira de Angola numa das bancadas; será apenas a semelhança com as cores do clube ou existirá algo mais por trás? Fica p’ra pensar.

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Paternidade

13 meses

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Um ano e um mês, tem já a minha filha.

No mês passado, na euforia do aniversário saltei o relato da evolução, sempre tremenda.

Tivemos um pequeno susto por essa altura, pois ela evoluiu bem de altura mas não de peso, dos 9 meses para os 12. Os exames mostraram que isso vinha acompanhado de baixo nível de ferro, uma anemia ligeira.

Felizmente isso já é passado e voltou a “enfardar” bem. Tirando isso não teve qualquer outro sintoma, continuando a ser uma bebé activa, esperta e maravilhosa.

De repente e de rompante, passou de zero a seis dentes, o que provavelmente contribuiu para lhe deitar um pouco abaixo. Usa-os para trincar, para ranger (credo filha!) e para nos morder, rindo.

Diz muito mamã, diz ora papá ora dadá ora babá, diz olá, diz nanã para não, abana a cabeça para sim e, pior ou melhor ainda, fá-lo precisamente quando e como quer.

Bate palmas, acena, dança, faz com o indicador que tem um ano, esfrega as mãos quando dizemos que está frio e, e.. estende os bracinhos para o alto em resposta a SPOOOOOORTING! Aprende cada vez mais rápido, com as últimas gracinhas bastou uma repetição.

Finge que conversa e que lê com fluência. Sabe o que é a mão, o pé, a cabeça, os olhinhos e anda obcecada com barrigas.

Continua comendo bem mas já vai deitando fora o que não lhe apetece (maioritariamente, sopa) e, se pudesse, comia fruta o dia inteiro.

Gatinha a uma velocidade furiosa, caminha agarrada às paredes e corre às gargalhadas para os nossos braços, nos seus três ou quatro passos trapalhões.

Tem cada vez mais energia e personalidade, eufemismo para dar cada vez mais trabalho, sinónimo de dar cada vez mais orgulho e vontade de viver.

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Barrigadas, Cinemadas

Os Quindins de Iaiá

Ontem minha amada se lembrou de fazer quindins. Maravilhosos como não podiam deixar de ser, me adoçaram mas deixaram nela um amargo de boca, porque estou até agora cantando “Os quindins de iaiá”. As palavras dela foram exatamente “nunca mais faço isso”. Se arrependimento matasse…

O filme desse vídeo acima é o The Three Caballeros, “A Caixinha de Surpresas” em Portugal e “Você já foi à Bahia?” no Brasil. Tive uma cassete VHS com esse filme que gastei quase até à exaustão quando era pequeno. Aguardo ansiosamente que a Carol cresça mais um bocado para repetir mais umas milhentas visualizações.

Obrigado me love, pelo doce e pela nostalgia gostosa.

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Andanças

Trazendo o carro para a Irlanda #2

Comecei o Fevereiro cheio de moral para escrever, mas de repente mudamos de casa e a moral passou para outros trabalhos. Agora estamos morando em Boroimhe, que lê-se…. Boriva. Welcome to Ireland.

Mudança de casa, mudança de matrícula do carro. Alguém se lembra de eu ter dito aqui que tinha trazido o meu carro para a Irlanda? Setembro do ano passado? Pois é, o processo só teve fim agora!

Então a história é a seguinte: quem for proprietário de um veículo por mais de 6 meses no estrangeiro (o que é o meu caso) está isento de pagar o VRT, que é o imposto automóvel irlandês. Assim que o carro “aterra” na ilha, dispomos de 7 dias para fazer uma marcação num centro de inspeções (NCTS) e de 30 dias para efetivamente levar o carro até eles para atribuírem matrícula.

O detalhe é que a isenção do VRT não é concedida pelo NCTS, mas pelas finanças (Revenue Commissioners), e é um processo completamente à parte; se chegarmos no NCTS sem a carta comprovativa da isenção, temos que pagar na mesma o imposto e depois somos reembolsados se o pedido de isenção for diferido.

Ora, não estive disposto a pagar o imposto, e daí a demora… para começar, o processo é algo draconiano, que requer cerca de 1 kg de papéis comprovativos de tudo e mais alguma coisa, não só do carro como de nós próprios (comprovativos diferentes de residência da Irlanda e do país de origem, contas, recibos de viagem, extratos bancários…).

Reuni esse atentado ao ambiente, enviei para o pessoal das finanças, mas cometi o erro crasso de não enviar em correio registado e o pedido…. sumiu, ninguém sabe ninguém viu, com livrete original do carro incluído e tudo.

Na segunda tentativa, lá aceitaram que o erro tinha sido deles e “comeram” o pedido mesmo sem ter os documentos originais. Isto nas finanças; para atribuírem a matrícula, precisam impreterivelmente de ter o livrete original para enviar para o governo do país de origem dar baixa, e lá tive que esperar mais uns meses até o IMTT enviar-me a segunda via…

Moral da história: preparem-se muito bem antes de entrar num processo destes, garantam que possuem toda a papelada de que necessitam, e nunca, nunca confiem cegamente nos correios, em qualquer país que seja. Depois falo do seguro, da inspeção e do annual motor tax…

Fontes:

Citizens Information – Importing a vehicle into Ireland

NCTS – FAQ

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Humor

Canais do Tube #1 – Desimpedidos

Vou tentar começar a partilhar com alguma regularidade algumas larachas sobre os canais de Youtube que sigo, em diversas vertentes.

Do coletivo de humor Porta dos Fundos já quase toda a gente ouviu falar. Menos conhecido é o Desimpedidos, projeto paralelo de alguns dos seus elementos (e outros “não-Porta”) totalmente vocacionado para o desporto rei, prato cheio para quem gosta de Futebol e de Humor.

Semana a semana presenteiam-nos com a impagáveis e ordinárias narrações sintetizadas dos gols das jornadas dos diversos campeonatos, os chamados Gols da Zueira; um pequeno cheiro:

Dentro destas, a minha preferida é a idolatria nutrida pela campanha do Criciúma (Criciúma Dortmund) na série B e pelo seu goleador Lins, o Linsvandovsky, o Pai Eterno, o Princípe da Paz, o Pão da Vida, Alfa e Ômega e por aí fora…

Numa outra onda, temos os contos de ex-jogadores que nem precisam fazer esforço para serem comédia; vide exemplo de um dos Contos do Vampeta:

E outro dos Contos do Amaral:

Explorem e sigam, que de onde estes vieram tem mais.

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