Categoria: Cinemadas

  • Felon

    Não me lembro de ter ouvido falar deste filme de 2008 na altura em que saiu e nem lembro como fui a ele ter. Nele é contada a história de um pai de família que mata involuntariamente, com um taco de baseball, um assaltante que invadia a sua casa.

    Como a tacada é desferida já fora de casa, em perseguição ao assaltante, o ato não é considerado legítima defesa e ele apanha três anos de cana. Lá dentro, tendo que se enquadrar nos esquemas dos gangues e no quotidiano de violência imposto pelos próprios guardas, entra numa espiral que não só agrava a sua pena quanto o faz duvidar da sua própria essência.

    Quem lhe ajuda a manter a sanidade e o discernimento necessário para recuperar o seu “american dream” é o seu companheiro de cela, que está condenado a perpétua por múltiplos assassinatos e tem saltado de prisão em prisão por propagar chamas revolucionárias.

    Uma história batida e contada de forma simples, mas clara (e violentamente) focada e acima da média. Uma nota para o actor principal, Stephen Dorff, que independentemente da qualidade dos filmes faz invariavelmente grandes trabalhos. Não percebo como é que não tem mais tempo de antena, em contraste com outros tantos.

  • Friends With Benefits

    Não tenho muito a dizer sobre este filme; é uma comédia romântica acima da média das que andam aí, tem os seus momentos divertidos, bom ritmo, o casal em questão tem uma grande química no ecrã, mas falta qualquer coisa para ser mais do que um filme giro.

    Duas notas: gosto do Timberlake, o gajo está mesmo cada vez melhor nessa história de ser actor, e a Mila Kunis também, mas desilude-me de vez com tanto ossinho à vista.

  • Gainsbourg

    Gainsbourg não é mais um biopic sobre a alucinante e atribulada vida de um génio musical. Ou melhor, é, mas não segue a fórmula habitual do género, e esse é o seu grande mérito.

    Num tom mais onírico que dramático, vai desfiando parte dos acontecimentos que o celebrizaram tentando ao mesmo tempo dar um vislumbre da sua total loucura de génio, com personagens e divagações imaginárias que o perseguem por toda a vida. O filme acaba por se perder um bocado nestas viagens pela maionese, mas tudo o que é momento musical compensa e bem, tanto pelas músicas em si, quanto pelas memoráveis encenações que as compõem.

    No que a representação diz respeito, aqui não se foge (e bem) à regra e o actor principal transforma-se e é o homem, naquele momento, num grande trabalho de Eric Elmosnino na pele do feio homem que conquistou Brigitte Bardot ou Jane Birkin.

  • Horrible Bosses

    Quem nunca teve vontade de assassinar um patrão?

    Sessão da meia-noite de sexta com a mulher amada para ver esta comédia de Seth Gordon (começo a perder a conta aos Seths na moda em Hollywood), que é bastante comestível.

    Muito resumidamente, três amigos possuem três patrões terríveis, cada qual à sua maneira (mas destacando-se claramente em todos os aspectos Kevin Spacey). Fartos de stress e de humilhação, decidem planear limpar o sebo a cada um, recorrendo para o efeito a um “consultor de homicídios” (Jamie Foxx num curto mas bem esgalhado personagem chamado Motherfucker Jones) .

    O resto são trapalhadas para ver e descontrair um bocado.

  • VIPs

    Mais um da terra natal.

    Este filme é uma espécie de Catch Me If You Can brasileiro, baseado na história real do paranaense Marcelo Nascimento da Rocha, que de pequenos golpes em pequenos golpes vai viajando pelo Brasil de graça na adolescência, obtém brevet de piloto, se torna piloto do narcotráfico entre o Brasil e o Paraguai e, por fim, engana durante algum tempo a nata da sociedade se fazendo passar por um dos filhos do dono da companhia aérea Gol.

    A (principal) diferença entre este impostor e o interpretado pelo Di Caprio é uma certa esquizofrenia que o filme dá a entender,  sendo que o personagem se recusa a negar o papel das várias personalidades que vai assumindo, ficando no ar se efectivamente por patologia ou por medo de encarar a realidade.

    Outra diferença é o modo desprendido e apatetado com que ele vai levando as suas tramóias avante, sendo de realçar aqui mais uma excelente interpretação do Wagner Moura, que carrega o filme nas costas fazendo o papel de alguém que, sendo narcisista, não faz a mínima ideia de quem realmente é. A realização (a primeira de Toniko Melo) é firme, mas sem essa interpretação não sei o filme deslanchava.

  • Lemmy

    Uma das grandes vantagens deste documentário é não ser uma homenagem póstuma. Foi filmado com a lenda ainda viva, e são basicamente cerca de duas horas a ser a sua sombra, a seguir os seus passos e a absorver a aura de misticismo que o envolve.

    A primeira meia-hora do filme chega a ser algo entediante, consistindo basicamente na recolha de depoimentos de diversos rockers da nova e velha guarda que vão declamando o quanto o veneram, o quanto foram influenciados e o modo como davam o cú e oito tostões para ser como ele. A seguir de lambidelas várias, a coisa melhora bastante.

    Enquadramento histórico do seu percurso desde os Rockin’Vickers em Inglaterra até aos Motorhead, diversas histórias de palco e de backstage, desmistificação de outras tantas (corrige que não comeu mais de duas mil mulheres, foram só mil) e testemunho dos seus hábitos de vida demolidores, que levam a crer que com 66 anos já deve alguns à cova.

    O badass que ao ser expulso dos Hawkind comeu as mulheres de três dos colegas de banda, que colecciona memorabilia de guerra e que quando o filho único fez 17 anos proibiu-o de consumir cocaína (aconselhou-o a tomar speed, que era bem melhor), é ao mesmo tempo um gajo simples e cativante, um purista que vive verdadeiramente para o que faz, que nunca se furta a um pedido de um fã e que vive no mesmo cortiço desde que veio para Los Angeles, aproveitando o facto de a renda não poder subir mais de 6% ao ano.

    Para sintetizar, nada melhor que esta citação do Dave Grohl:

    Fuck Keith Richards, fuck all those dudes who survived the sixties. Flying around in private jets, living up their gunslinger reputation as they fuck supermodels in the most expensive hotel in Paris. It’s like: you know what Lemmy is doing? Lemmy is… probably drinking Jack’N’Cokes and writing another record!

    Fica para ver, admirar… e headbangar.

  • Estômago

    Estômago, Uma História Nada Infantil Sobre Poder, Sexo e Gastronomia. Das melhores surpresas cinematográficas que tive nos últimos tempos.

    Nonato é um emigrante nordestino que chega à cidade com uma mão à frente e outra atrás, e que descobre num boteco de esquina que tem um talento inato para a culinária. O dono de um requintado restaurante italiano do bairro oferece-se como seu mentor, mas o seu amor por uma prostituta e algumas peripécias pelo meio levam-no à prisão, onde mete os seus dotes de aprendiz de chef a serviço da sua sobrevivência.

    Humor negro, de timing exacto e alguns twists muito bons, bem acompanhados por cinematografia, banda sonora e actores a serviço de personagens que se movem num ambiente de uma inocência que no fundo não existe em nenhum deles.

  • Rio

    Não é preciso muito para levar-me a arrastar a minha sobrinha (enquanto não há filhos aqui no ninho) para ver bons filmes de animação; sendo um novo filme com o dedo da Blue Sky e tendo como mote um bicho que foi arrancado do Rio de Janeiro ainda pequeno e levado para uma terra fria, este era mais que obrigatório.

    Blu é uma arara azul carioca que vive feliz e domesticada no Minesotta, sem nunca sequer ter aprendido a voar. Certo dia, descobre-se que Blu é o único macho da sua espécie,e a sua dona é dissuadida a levá-lo à terra natal para acasalar com uma fêmea; pelo meio, as duas aves são roubadas por traficantes e toda uma aventura típica é desencadeada.

    Portanto, não sou azul mas nunca serei completamente isento numa viagem pessoal e naïf como esta, assim como o próprio realizador (Carlos Saldanha, carioca mago do CGI) não o foi. Coração de parte, o filme está muito bem conseguido, toda a envolvente paisagística carioca está espectacular, ainda que nem sempre realista (o que não era o objectivo, as favelas por exemplo estão pitorescas, não degradantes),  sendo cerca de hora e meia de muita cor e alegria, apresentadas de forma simples.

    Não posso deixar de implicar com enfiarem os Black Eyed Peas pelo meio; até nem atrapalham nem desvirtuam muito a coisa, mas os momentos musicais verdadeiramente brasileiros são imensas vezes superiores aos que eles apresentam, mas compreendo a jogada.

    Doesn’t take much for me to grab my niece to catch a good animation movie; being a Blue Sky movie about an animal that was stolen from Rio de Janeiro in tender age and taken to a cold land, this one was definitely mandatory.

    Blu is a carioca Blue Maccaw that lives happy and domesticated in Minnesota, without even ever learning to fly. Someday, a scientist discovers that Blue is the only male of his specie, and convinces her owner to take him to Rio to copulate with a female Maccaw; meanwhile, the two birds are stolen by smugglers, and a whole typical adventure begins.

    So, I’m not blue, but obviously I’ll never be impartial enough in such a personal and naïf trip like this, as even the director Carlos Saldanha (carioca CGI guru) wasn’t. Heart apart, the film is very well achieved, all the carioca landscaping and surroundings are gorgeous (although not always realistic, but that was not the point, the slums for example are picturesque rather than degrading), and its a one hour and a half full of color and joy, presented in a simple fashion.

    Personally, I don’t like the way they stick the Black Eyed Peas on it; although they make no harm, the truly Brazilian musical moments are way superior, but I have to understand the option.

  • True Grit

    O segundo filme do fim-de-semana foi o excelente True Grit, com a enfadonha tradução portuguesa “Indomável”. Sendo grande fã de westerns e grande fã dos manos Cohen (e já agora de histórias de vingança), não havia muito por onde correr mal, e assim foi.

    Na verdade, é muito menos um western que um filme dos Cohen e menos um filme dos Cohen que… um filme dos Cohen. Passo a explicar. Apesar de não seguir absolutamente a linha dos clássicos, não é propriamente uma reinvenção do género, é simplesmente uma história do género contada à moda dos Cohen, com tudo de bom que isso acarreta: crueza, imprevisibilidade e humor onde supostamente não existiria. Isto tudo sendo muito mais seguro e consensual que a maior parte dos seus filmes, e daí o sucesso comercial que vem tendo.

    Difícil dizer muito mais, sendo que a cereja no topo do bolo e aquilo que confere o sal ao filme são as interpretações brutais do Jeff Bridges, como habitual, e da “imberbe” e transcendente Hailee Steinfeld que, tendo ou não futuro, tem aqui um início do caraças. Vão vê-los que vale a pena.

     

    Second movie of the weekend was the excellent True Grit. Being both a western’s and a Cohen Brother’s fan (and a revenge story’s fan by the way), nothing could go wrong. And it didn’t.

    Actually, it is less a western than a Cohen’s film, and less a Cohen’s film than… a Cohen’s film. I can explain. Although it doesn’t follow the classics, it isn’t sort of a reinvention of the genre either. It’s simply a story of the genre told with the Cohen’s style, with all the good ingredients it carries: rawness, unpredictability and humor where it wasn’t supposed to. All of this in a much secure and consensual fashion, hence its commercial success, I guess.

    On top of the cake and giving the movie its true strength, the brutal performances of old Jeff Bridges, and the vernal Hailee Steinfeld; her future is unknown, but this is a hell of a start. Go watch them!

  • The Fighter

    Este fim-de-semana tínhamos bilhetes para ir ver a peça Azul Longe das Colinas, mas uma das actrizes aleijou-se, a coisa foi cancelada e deram-nos bilhetes para dia 19 de Março. Restou-nos fazer duas cinemadas em vez de uma.

    A primeira foi esta, em cuja pré-produção de certeza que o Mark Wahlberg andou a emborcar batidos da carne que se esvaiu do carocho do Christian Bale. E que carocho do caraças, mas já lá vamos. Começo por dizer que gostei mais do filme do que à partida esperava. Sem demasiadas pretensões, tem tudo no sítio: bem escrito, bem realizado e bastante bem interpretado por todos, até pelos personagens mais insignificantes, como as chulas das irmãs que os lutadores levam a reboque, conseguindo tirar o melhor partido possível de um género de história relativamente batido.

    É como se estivéssemos a assistir a dois documentários em paralelo, um a acompanhar a decadência de Dicky Ecklund, que em tempos derrotou Sugar Ray Leonard e era conhecido como “The Pride of Lowell” mas agora vive entregue ao crack, e o irmão mais novo, Micky Ward, que por mais que lute não consegue sair da cepa torta graças às trapalhadas da família. Às tantas a paciência chega ao limite, motivado por uma nova namorada que não papa grupos (Amy Addams também em grande plano) e pela perspectiva de ser um falhado por toda a vida.

    Não sei até que ponto Bale deveria ser considerado actor principal do filme, porque é ele o fio condutor da história e quem efectivamente rouba a cena, com a entrega do costume. Deliciosas as cenas em que canta “I started a joke” dos Bee Gees (e mais tarde dos Faith no More), e principalmente “Here I Go again” dos whitesnake, com o mano.

    Uma nota também para as cenas dos combates em si, brutalíssimas, utilizando os comentários, cameras e operadores originais dos combates antigos na HBO, recriando o verdadeiro ambiente do desporto.

    Não é brilhante, mas entretém bastante. A rima não é intencional, mas fica aí.

    This weekend we were supposed to go to the Theater, but one of the actresses of the play got injured and they got us tickets for 19th March. The alternative was catching two movies instead of one.

    The first one was The Fighter, in which pre-production Mark Wahlberg surely has eaten huge meat chops of his junky colleague Christian Bale. And what a junky! I enjoyed this movie more than expected. Without being to pretentious, it took the most of a usual and sort of commonplace history; great direction, argument and portrayal from each actor, even the most insignificant ones, like the useless bunch of sisters the brothers share.

    Its like watching two documentaries in parallel, the first one about the decadence of Dicky Ecklund, who defeated Sugar Ray Leonard in the past and was know as “The Pride of Lowell” but now is totally devoting to ruining his life with crack, and his little brother, Dicky Ward, who fights really hard but never goes nowhere, because of the constant fuck-ups the family makes. At some moment he reaches the boiling point, motivated by his new “take no shit” girlfriend (also a great job by Amy Addams) and the perspective of being a looser his whole life.

    I guess Ecklund should be considered the lead character, since he leads the story and Bale definitely steals the show with his usual commitment. Delicious moments singing “I Started a Joke” from the Bee Gees (and later on from Faith no More) with his mommy and, especially, “Here I Go Again” from Whitesnake with his little brother.

    Not brilliant, but very, very entertaining.