A rainha Ginga: E de como os africanos inventaram o mundo é um romance histórico baseado em parte do percurso de vida e de luta da rainha Ginga, provavelmente a figura mais marcante e emblemática da história de Angola, Angola essa que na altura ainda nem o era.
Ouvi uma entrevista do autor há tempos em que ele dizia que sempre quis escrever esta história e que provavelmente tornou-se escritor precisamente para um dia fazê-lo, mas que durante muito tempo não teve coragem para tal. Em boa hora a encontrou, pois se é efetivamente uma história grandiosa. Agualusa era e foi o escritor indicado para transpô-la em romance.
Além de se notar que foi feito um grande esforço de investigação para manter ao máximo a verosimilhança dos fatos (o que é complicadíssimo dado o período abordado), há sempre aquele salpico de misticismo por toda a parte tão próprio e tão único dos escritores africanos.
A aura de grandeza da Rainha, ou Rei, como ela preferiria, é ainda ampliada pelo facto da história não ser narrada pela própria, mas sim por um padre pernambucano (e jesuíta, e mestiço, e indígena, e muitas outras coisas mais) que serviu de seu secretário e tradutor, e também de tradutor e de elo de ligação entre nós, os leitores, e os diversos mundos que vamos descobrindo à medida que vamos avançando.
Fica a curiosidade de saber mais do percurso anterior e posterior da Rainha ao período retratado, bem como de diversos personagens com o qual o seu destino se entrelaçou. Antevejo bastantes devaneios na Wikipedia nos próximos tempos.
Deixo aqui uma das citações que mais me marcaram no livro, de tão simples parece, mas que tanta força carrega: “Há mentiras que resgatam e há verdades que escravizam”. Excelente leitura.