Esta semana faleceu Malcom Allison, treinador inglês que escreveu o seu nome na história do Sporting, apesar do pouco tempo que cá esteve. A figura acima ilustra dois dos elementos que constituíam a sua imagem de marca, o charuto e o álcool. Os outros eram o chapéu e as mulheres, e encontram-se facilmente em outras pesquisas.
Obviamente que eu ainda não andava por cá nos tempos de ouro do Big Mal em Portugal, mas já li e ouvi o suficiente sobre ele para lamentar a perda de uma figura rara destas. Em 81/82 o Sporting ganhou o campeonato com 66 golos marcados e 26 sofridos; Allison dizia a quem o quisesse ouvir que se estava nas tintas para os golos sofridos desde que se marcassem mais; é claro que isto também era possível pelo facto de ter Manuel Fernandes, Jordão e Oliveira na frente, mas segundo consta, o homem apesar de louco percebia imenso de futebol.
A isto acresceu a esta conquista a da Taça de Portugal e muitas estórias fascinantes da extravagância do seu treinador e da sua relação com a equipa e com o presidente João Rocha, que não ia muito à bola com o jeito de ser do inglês, mas dados os resultados lá comia e calava… até que na pré-temporada da época seguinte estalou o verniz e a cabeça e o chapéu do Mal rolaram (já ouvi pelo menos duas versões: um escândalo sexual no estágio e um desaparecimento do treinador com um retorno embriagado).
Os mais velhos recordam sobretudo a sua volta ao estádio antes do apito inicial, sempre com uma garrafinha de magos na mão, sempre quente. Entre as estórias que me ficaram na retina está uma contada pelo Manuel Fernandes há tempos, no jornal i:
“Dois dias depois de ganharmos a Taça, jogámos com o PSV Eindhoven em Paris. Na véspera, à noite, Allison concentrou os jogadores no hall do hotel e começou a falar das aventuras em Inglaterra. A conversa, animada como sempre, durou das 23 às duas da manhã. A essa hora, eu, como capitão, sugeri que fôssemos para a cama. Ele virou-se para mim: ”Fomos campeões, vencemos a Taça e vamos dormir? Nada disso. Vamos todos sair para Paris. E lá fomos, todos nós, aos bares e aos cabarés de Paris, àqueles mais conhecidos e tudo, como o Lido. Foi uma noite-manhã inesquecível.”
Como muitos, acabou a vida a combater o alcoolismo e com dificuldades financeiras. Com a vida de excessos que teve, ainda durou até aos 83 anos. Descanse em festa!