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  • Três Cantos

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    Acho que ainda gostei mais deste espectáculo do que estava à espera.

    Nunca tinha visto nenhum dos três ao vivo. Acho que tinha um certo medo. Sem grandes rodeios, medo da velhice deles. Mas é muito diferente ser do passado, e ser intemporal.

    As vozes são as mesmas e, principalmente, o gosto de ali estarem a cantar é o mesmo. O Zé Mário Branco disse que a única coisa que poderia dizer era: “estou tão contente”. E estava. Poucas pessoas se entregam a cantar com tanta emoção como este senhor: parece que o mundo vai acabar a qualquer momento.

    Sérgio Godinho igual a si mesmo, fresquíssimo, tremendamente à vontade a brincar com as palavras e com o momento, e a ser o primeiro a arrepiar com “O Primeiro Dia”.

    Não conhecendo bem as obras mais recentes do Fausto, fiquei contente de ver que ele mantém a língua afiada (sempre a contrastar com a suavidade da voz). Mas o que realmente me encheu as medidas foi ouvir “Como um sonho acordado”. A simplicidade destes versos assombra:

    “Meu amor quando eu morrer
    Ó linda
    Veste a mais garrida saia
    Se eu vou morrer no mar alto
    Ó linda
    Eu quero ver-te na praia
    Mas afasta-me essas vozes
    Linda

    Tens medo dos vivos
    E dos mortos decepados
    Pelos pés e pelas mãos
    E p’lo pescoço e pelos peitos
    Até ao fio do lombo
    Como te tremem as carnes
    Fernão Mendes”

    É bom relembrar o quão bela é a música e a língua portuguesa. Definitivamente, fez-se história neste encontro. Comprovem no CD ao vivo que será lançado.