Trabalhei com Sacadura Cabral muitos anos em África, em estudos geográficos. Em 1913 encontravamo-nos na fronteira de Baroce. Éramos astrónomos ambulantes… Um dia ouvimos os pretos comentar as nossas actividades: “os brancos nunca se perdem porque à noite perguntam a Deus onde estão.” Rimo-nos da sua infantilidade, porque o que nós fazíamos à noite era observar as estrelas! E é tudo.
(Gago Coutinho)
Coutinho à esquerda, Cabral à direita
No dia 30 de Março de 1922, partiram de Lisboa Gago Coutinho e Sacadura Cabral, com destino àquela que viria a ser a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
O percurso envolveu passagens pelas ilhas Canárias, pelos arquipélagos de Cabo Verde e de Fernando de Noronha, e inúmeras dificuldades e reparações no hidroavião que pilotavam. Pelo caminho, inventaram os meios de “navegar pelo ar com a precisão que se navegava pelo mar”.
A 17 de Junho de 1922 foram recebidos como heróis (que eram) na Baía da Guanabara por uma multidão apoteótica, à boa maneira carioca.
O lugar de onde partiram, a antiga Aviação Naval, em Belém, foi recentemente demolido para dar lugar ao Altis Belém Hotel & Spa©, à boa maneira portuguesa.
Sinceramente, tenho ideia de que este facto é mais recordado no Brasil do que em Portugal, fruto do imenso valor que por lá se dá ao Santos Dumont (o “Pai da Aviação”), grande amigo dos dois ilustres “Portugas”.
Lembrem-se deles quando reclamarem das muitas horas de viagem até ao Rio, com o rabo refastelado no banco fofinho, a lerem a Veja e a ouvirem a rádio de bordo…