Ora bem,
Vários amigos meus adeptos daquela instituição que se intitula a maior do mundo e arredores tem andado entretidos a enviar e-mails a chatear-me com a seguinte imagem do tempo do Estado Novo:
Segundo consta, esta onda de euforia surgiu num desses programas de entendidos da bola que não percebo muito bem para que é que existem. Compreendo a utilização desta imagem num “picanço” entre amigos; em utilização como argumento de um programa que se diz de debate, sem contexto, é no mínimo desonestidade intelectual.
Obviamente que nenhum dos meus compinchas tem autoridade moral para falar sobre esses tempos, mas sabe-lhes bem. Eu também não a possuo, nem de perto nem de longe, mas já agora sinto-me igualmente no direito de mandar as minhas bocas:
Qualquer clube era obrigado a fazer essa saudação, assim como eu seria obrigado a ter pertencido à Mocidade Portuguesa e usar aquela farda parva com aquele cinto com um “S” na fivela e tudo o mais (ainda não consegui perceber se o rumor de que aquilo significava “Salazar” é verdade ou não).
Apesar de acreditar piamente que sim, vou dar de barato e não dizer com certeza absoluta que o clube do regime era o da luz, porque nenhum dos clubes há-de poder lavar as mãos em relação a esse período negro (ao que parece, o fóculporto incrivelmente era o menos beneficiado); mas que o Estado Novo usou e lambuzou das façanhas do clube “encarnado” (vermelho não podia ser, que era conotado com o comunismo), ninguém pode negar, tanto mais quanto vindo da própria boca suja do pantera escura (“património nacional” impedido de deixar o país) e do antigo capitão Coluna.
pantera e o papá antónio em amena cavaqueira
O próprio “desvio” da pantera preta, que vinha do Sporting de Lourenço Marques com destino à casa mãe, tem contornos duvidosos, tal como o desvio de Di Stefano do Barcelona para o Real Madrid, na época do franquismo.
Andam para aí a dizer que o clube do regime era o Sporting, porque “em 1954/55 O Benfica apesar de campeão não foi indicado para a Taça dos Campeões Europeus porque naquela altura os clubes eram sugeridos pelas entidades nacionais responsáveis e o Benfica, mesmo sendo campeão, foi preterido em favor do Sporting.”. Uma simples consulta ao site da UEFA mostra o quão falso é esse argumento:
Lisboa, berço de campeões
(…) O Sporting, vencedor do campeonato português na época 1953/54, e ainda campeão em título quando decorreu o sorteio da prova, acabaria no terceiro posto, em 1955 (…)
Há outro argumento que diz que a instituição em causa não era beneficiada pelo regime, porque dominou os campeonatos após o 25 de Abril. Este de tão parvo, nem vou contrapor, que só me dá para rir.
Ainda em relação a saudações, até a própria democrática Inglaterra tem a sua história desportiva manchada no que ao fascismo diz respeito (aqui ainda andavam numa onda de tentar acalmar o Hitler, em 38):
E por aqui poderia continuar, mas o que concluo é que o que há é a fazer é deixarmo-nos de merdas e esperar que estes tempos não voltem mais.
Saudações leoninas!