“Quem Quer Ser Fábio Paim” é o título de uma reportagem transmitida ontem pela Sporttv.
Quem não se lembra de jogar o antigo Championship Manager e ter lá o Fábio Paim com estatísticas mirabolantes aos 14 anos de idade? Desde cedo aliciado pelos maiores clubes do mundo, e com um contrato de fazer inveja a muitos jogadores da primeira liga, Paim deslumbrou-se e foi ficando pelo caminho.
É certo que o hype que se gerou e a actual situação em que se encontra podem dar a entender que tudo não passava de um bluff, mas quem o viu no seu “auge” (antes da febre dos vídeos do youtube poderem servir de prova), e todos os treinadores pelos quais passou são quase unânimes, nunca viram um talento assim à frente. Muitos destes treinadores tem uma vida dedicada ao futebol e não hesitam em dizer que o seu talento era bastante superior ao do Cristiano Ronaldo (tendo trabalhado com os dois, alguns deles). Chegou-se ao cúmulo de, aos quinze anos, a federação francesa querer oferecer-lhe casa, contrato e emprego para a família de modo a jogar futuramente pela selecção de França!
Eu e o meu pai vimos-lhe jogar algumas vezes, mas não muitas, mesmo na altura em que éramos mais assíduos no futebol de formação. Era muito estranho para quem via um diabo à solta no campo como aquele vê-lo tantas vezes no banco, ou mesmo fora dos convocados. Lembro-me particularmente bem de um derby contra o benfica em que, (mais uma vez) saído do banco, finta praticamente o meio-campo e a defesa adversária toda (com todo o tipo de fintas à mistura) e, à saída do guarda-redes, com um ligeiro toque faz-lhe um chapéu a bola embate na trave. Não sendo golo, conseguiu levar toda a multidão ao delírio. Conhecendo agora a história toda (que já circulava pelos corredores da academia), faz todo o sentido que estivesse frequentemente “de molho”: atrasos, faltas aos treinos, indisciplina, e posteriormente o pacote completo: carros, noitadas, mulheres…. queimou tudo e hoje em dia ganha 1000 euros no Torreense.
Com 22 anos apenas, não é impossível que venha ainda a renascer dos cinzas, mas será porventura altamente improvável. Seria o perfeito filme de Hollywood. Torço para que aconteça, e espero bem que não traia a confiança do pessoal do Torreense dado que, se não tivessem decidido apostar nele, estava neste momento no desemprego.
Fábio Paim é um exemplo de tudo aquilo que um jovem aspirante a jogador de futebol não deve fazer, e este documentário devia ser uma das lições primárias dadas aos jovens da Academia. É a prova viva que ter um talento extraordinário não é suficiente, no futebol como em tudo na vida.