Não é imperdoável que eu, sendo o fanático por futebol que sou, só tenha vindo comentar a Copa do Mundo hoje, porque, sejamos honestos, até agora não se passou nada de verdadeiramente interessante.
As equipas estão todas a medo, os árbitros estão a dar cartões ao desbarato, aquela bola quando chutada parece as de plástico que compramos no Jumbo para curtir no verão e é chato que no primeiro mundial em África os dias sejam todos de São Ramalho.
Gostei do Brasil ter ganho mesmo que a passo, gostei de ver os espanhóis baixarem a garimpa, ainda que saiba que infelizmente eles vão dar a volta ao texto, gostei de ver o Tae-Se a falar português, e gostei imenso do filtro que a Meo arranjou para travar o ímpeto das vuvuzeladas: não sendo perfeito, facilita e muito a manutenção da sanidade que me resta.
Não há ainda um campeão ou campeões em perspectiva, mas palpito (e espero) que continue a tradição de nunca uma selecção europeia ter ganho um título mundial fora do velho continente.
Aos que ficaram extremamente frustrados com a prestação dos “navegadores” contra os costa-marfinenses, pergunto: estavam à espera do quê, exactamente?
Em vez de desenvolver o raciocínio acima e mergulhar na enxurrada de críticas que já foram feitas e refeitas, vou fazer uma coisa completamente diferente… vou defender aquele professor que se mantém à frente dos destinos da selecção portuguesa, sempre com um impecável bronze. Mas calma… vou defendê-lo, só que não na função que desempenha agora.
Queiroz é um gajo de mérito. Os dois únicos feitos que os comentadores gostam de lembrar, os títulos de sub-20 de futebol do início da década de 90, não foram tão pequenos quanto isso: ainda que tenham sido frutos de gerações brilhantes, outras houveram mais adiante que nem nos torneios de Toulon se safaram.
O gajo mudou a forma e os métodos de trabalhar e de encarar o futebol de formação. Do pouco que sei, creio que tenha igualmente feito parte das formações que iniciaram a emancipação dos treinadores portugueses. Foi dos primeiros a denunciar que era preciso “limpar a merda” que havia na federação. Foi o mentor de uma proposta de reestruturação de fundo do futebol dos EUA, cujo objectivo era alcançar o título mundial agora em 2010. Ainda que à partida esse objectivo máximo não vá ser alcançado, é sabido que o futebol dos yankees progrediu imenso, e parte desse sucesso consta que cabe ao homem.
Como treinador, nunca deu verdadeiramente certo. Falhou rotundamente no Sporting, bem como falhou no Real Madrid (não sendo este cemitério de treinadores grande exemplo). Obteve sucesso enquanto fiel escudeiro de sir Alex em Manchester, mas lá está, numa função que não a que considera a sua, um trabalho importante, mas de backstage. Não tem carisma, não aparenta ter pulso ou mão nos seus jogadores, e peca tanto por opções absurdas quanto por muitas vezes, simples falta de tomates.
O que eu quero dizer é que o homem é bom, eventualmente muito bom profissional, mas não enquanto treinador. Há teóricos muito bons que nunca o serão na prática, e isto é tanto verdade no mundo académico quanto no futebolístico. Faz falta como manager, director geral ou raio que o parta, a estruturar a coisa com as suas comprovadas capacidades organizacionais, a fazer valer os seus pergaminhos de professor, e nada que ele ainda possa vir a fazer neste mundial há-de me levar a ter opinião em contrário, dado tudo o que já se passou (falo de jogo, pré-jogo, convocatória, qualificação…).
Tenho dito.